O furto de material militar na base de Tancos em junho marcou o ano de 2017 na Defesa e Forças Armadas, obrigando a uma reorganização no Exército, que assumiu total responsabilidade, e colocando sob críticas a tutela política.
O ministro da Defesa Nacional, Azeredo Lopes, esteve no centro da polémica, ao ser confrontado com as responsabilidades políticas por aquela falha de segurança numa instalação crítica do Exército, localizada no distrito de Santarém. O CDS-PP foi o primeiro partido a pedir diretamente a demissão do ministro.
O caso, considerado por todos os quadrantes como de extrema gravidade, teve também, como referiu o presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, momentos "altamente cómicos".
Um momento crítico aconteceu na sequência de uma entrevista do ministro da Defesa ao Diário de Notícias, na qual Azeredo Lopes admitiu, numa alusão à falta de provas, que "por absurdo" podia não ter havido furto. As declarações provocaram polémica não só a nível político, mas também no Exército e das entidades que investigam o caso.
O material militar - com exceção das munições de 9 mm - apareceu a 18 de outubro, num campo aberto a 21 quilómetros de onde tinha sido furtado três meses e meio antes.
O material foi recolhido pela Polícia Judiciária Militar, que disse ter tido a colaboração da GNR de Loulé, e só depois deu conhecimento à Polícia Judiciária, que liderava a investigação.
Só que, na relação do material encontrado havia uma caixa com 200 petardos a mais, como revelou o próprio chefe do Estado-Maior do Exército, Rovisco Duarte, numa conferência de imprensa para dar conta do final das operações de esvaziamento dos paióis de Tancos.
Rovisco Duarte esteve em seguida no parlamento para explicar, à porta fechada, como é que o Exército deixou escapar a contabilização de uma caixa de material militar e qual o plano para o reforço da segurança das instalações militares.
Uma situação considerada compreensível face às práticas dos militares no levantamento e depósito de material daquele tipo, explicou o general Rovisco Duarte, ressalvando, no entanto, que a considerava também "inaceitável".
Logo no dia a seguir, o primeiro-ministro, António Costa, foi visitar o Depósito de Munições da NATO, em Fernão Ferro, para onde foi deslocado algum do material retirado de Tancos, deixando a garantia de que está "devidamente resguardado" em novas instalações militares e assegurando aos portugueses que não se repetirá uma situação como a que aconteceu em Tancos.
Na mesma altura, o primeiro-ministro frisou que é necessário aguardar pelas conclusões das investigações judiciais que decorrem.
Já depois das explicações de Rovisco Duarte, o Presidente da República voltou a afirmar que espera que se "apurem as responsabilidades" no caso de Tancos.
No parlamento, a comissão de Defesa Nacional assumiu protagonismo no acompanhamento e fiscalização política da ação do Governo neste processo, com sucessivos pedidos de informação ao ministro da Defesa.
Um conjunto de documentos com informação classificada como confidencial está guardado na Assembleia da República e só pode ser consultado por alguns deputados, que não podem reproduzir o que leram.
O desaparecimento de material militar dos paióis nacionais de Tancos foi divulgado pelo Exército a 29 de junho. No mesmo dia, em Bruxelas, o ministro da Defesa disse que não ficaria "nada por levantar" nas averiguações.
Descrito pelo chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, Pina Monteiro, como "um soco no estômago", o desaparecimento das armas levou à exoneração de cinco comandantes de unidades com intervenção em Tancos, readmitidos em funções duas semanas depois.
O caso de Tancos provocou ainda duas demissões de peso no Exército (tenentes-generais Antunes Calçada e António Menezes), em julho, com graves consequências na hierarquia, obrigando a uma reorganização interna na estrutura superior de comando, que aguarda ainda por autorizações do ministério da Defesa e das Finanças para suprir as vagas.
Em poucos dias, o Exército decidiu tirar de Tancos o material militar ali guardado e movê-lo para outras instalações. No final de outubro, o Exército deu como concluído o esvaziamento do paiol e anunciou um plano para o reforço da segurança das instalações militares.
Lusa