Paula Dias é de Abrantes e está nos Países Baixos, ou Holanda, como eram mais conhecido por cá até há bem pouco tempo. Está em casa, em Amesterdão, a cumprir a quarentena ou o recolhimento que foi aconselhado, mas o qual não é obrigatório naquele país.
Desde 14 de março que está em isolamento social por decisão própria. Não contacta com ninguém, nem amigos ou família. “Apenas saio à rua para ir ao supermercado, uma vez ou duas por semana para comprar tudo o que preciso” diz a abrantina que explicou que o governo pediu às pessoas para ficar em casa e aconselhou o teletrabalho.
Tal como em Portugal parte do comércio está fechado. Só estão abertos os serviços essenciais.
Os holandeses não estão totalmente a cumprir os pedidos de isolamento social. “Vejo aqui da minha janela que as pessoas [algumas] não estão minimamente preocupadas. O governo pediu para não se andar na rua e vejo crianças a brincar e pessoas juntas na rua, em grupo”, explica esta portuguesa acrescentando que é a sua visão. A visão de quem está em casa a cumprir as recomendações das autoridades.
A Paula tem acompanhado a situação de cá. Explica que tem conhecidos que estão a cumprir, mas que percebe que há muita gente que não liga às recomendações. Percebe também, à distância, que a linha de saúde 24 pode “entupir” mais. “Cá [Países Baixos] a saúde é privatizada, todos temos médicos de família e são eles que fazem a primeira triagem e o respetivo encaminhamento de casos positivos de COVID”.
E quando à polémica do ministro das Finanças dos Países Baixos, Wopke Bastiaan Hoekstra, que em público recusou pacotes de apoio financeiro a Itália ou a Espanha, Paula Dias diz que não falou com holandeses sobre essa temática. Já dentro da comunidade portuguesa todos ficaram estupefactos com o que o governante disse: “Não caiu muito bem nos portugueses que vivem aqui [Amesterdão], não foi feliz”. E depois das reações mais duras do próprio primeiro-ministro português, António Costa, o próprio ministro dos Países Baixos acabou por reconhecer na semana passada que: “devíamos ter reagido melhor, incluindo eu próprio”.
Seja como for Paula Dias não quer pensar, por agora no regresso. Apenas revela que tem as férias agendadas para julho e que virá a Abrantes “se for possível”.
Pelas medidas que tomaram naquele território Paula Dias começa a ver a perspetiva a esfumar-se. “Há 100 mil infetados [30 março], são 17 milhões e dizem que metade vai ficar infetado, por isso não sei se será possível” diz e, entre a esperança, “não espero sair dos Países Baixos enquanto esta questão não estiver minimamente resolvida. Não ponho a minha vida em risco”.