O inquérito do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto sobre regresso “à vida fora de casa” conclui que saídas para esplanadas, estabelecimentos não essenciais, restaurantes ou cafés foram mais frequentes em pessoas com 60 ou mais anos.
Os dados divulgados hoje no relatório “Diários de uma Pandemia”, iniciativa desenvolvida pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) e pelo Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC), no Porto, analisaram o “regresso ao trabalho e à vida social fora de casa”.
O estudo analisa dados de 4.543 participantes que, entre 25 de maio e 05 de junho, responderam às questões, sendo que, desde que a iniciativa arrancou, a 23 de março, inscreveram-se 13.565 pessoas, com idades entre os 16 e 89 anos, para preencher mais de 350 mil questionários.
O documento, a que a Lusa teve hoje acesso, mostra que durante os dias em análise 40% dos participantes estiveram numa esplanada “pelo menos uma vez”, sendo que “esta proporção aumentou com a idade”, passando de 34% nos inquiridos com menos de 40 anos para 45% nos indivíduos com 60 ou mais.
Também 33% dos participantes com 60 ou mais anos foram a um estabelecimento não essencial e 34% estiveram sentados no interior de um café ou restaurante, sendo essa frequência maior nos residentes da região Norte (30%).
“Pouco mais de metade dos inquiridos (51%) foi à praia ou a espaços verdes e esta frequência decresceu com a idade, de 58% nos menores de 40 anos a 42% nos indivíduos com 60 ou mais. Estes espaços foram mais frequentados pelos residentes na Área Metropolitana de Lisboa”, lê-se no documento.
No que concerne às saídas de casa, 76% dos inquiridos saíram, pelo menos uma vez, para “passear ou fazer exercício físico”, tendência que, segundo o relatório, foi “semelhante nas várias idades”.
As visitas a familiares ou amigos foram mais referidas pelos mais jovens (60%) e também mais frequentes na região Norte.
Além de traçar as saídas dos inquiridos e, consequentemente, frequência em diferentes locais, o relatório analisa também o “regresso ao trabalho”.
De acordo com o documento, 3.057 dos inquiridos estavam empregados, sendo que “mais de três quartos referiram ter sido divulgado um plano de contingência da covid-19” no local de trabalho.
No que diz respeito a medidas “concretas”, 24% dos inquiridos “não tinha conhecimento” ou referiram que “não existia” uma recomendação para permanecerem em casa em caso de sintomas sugestivos de covid-19.
“Os inquiridos nas classes mais baixas de rendimento foram os que mais referiram a ausência ou desconhecimento de recomendações quanto às várias estratégias de contenção, com especial destaque para a importância de ficar em casa em caso de sintomas”, lê-se no relatório.
Este desconhecimento ou ausência de estratégias de contenção foi “menos frequente no setor da saúde”, no entanto, foram estes profissionais que “mais referiram não existir ou desconhecerem de uma recomendação específica para que ficassem em casa em caso de sintomas”.
A reabertura dos estabelecimentos de ensino é outro dos pontos abordados no relatório, sendo que 482 dos inquiridos tinham a seu cargo crianças cujos estabelecimentos reabriram.
Destes, 54,4% optaram por não levar, pelo menos uma criança, de volta ao estabelecimento ainda que o mesmo estivesse aberto, sendo que esta tendência foi de 48% na Área Metropolitana de Lisboa e de 56,2% na região Norte.
“Os Diários de uma Pandemia”, também desenvolvidos em colaboração com o jornal Público, visam, com base em dados sobre as rotinas diárias da população, compreender a adaptação à covid-19.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 468 mil mortos e infetou mais de 8,9 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 1.530 pessoas das 39.133 confirmadas como infetadas, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
Lusa