A pandemia provocou alguma retração no comércio, apesar das filas teimarem em continuar a verificar-se nalguns supermercados. Mesmo nos produtos agrícolas houve alguns ajustes nas compras por parte daqueles que mantêm a sua atividade, mesmo que seja de fim de semana. E por causa desta retração a empresa de Abrantes (Alferrarede) Manuel Cadete Limitada ficou com 250 kg de batata de semente para devolver ao fornecedor. Mas a ideia foi diferente, porque não semeá-la e oferecer a produção a instituições sociais e pessoas mais necessitadas. “A ideia começou quando começou esta maldita pandemia^”, explica André Cadete porque houve “uma paragem no movimento dos nossos clientes. Houve ali uma paragem naquilo que foi o movimento normal. E as vendas de batata de semente ficaram aquém das previsões”. Diz no André que ficara no armazém algumas sacas de batata porque os clientes apostaram noutros produtos, mais hortícolas. Passaram a olhar para a courgette, alface, tomate, aromáticas e por aí fora.
Com as sacas de batata prontas para devolução ao fornecedor houve, no entanto, outra ideia: “Falei com o meu pai e com o presidente da Junta de Freguesia de Mouriscas [o André Cadete é o tesoureiro do executivo] e falámos com o diretor da Escola [Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Abrantes]”.
André Cadete, da empresa Manuel Cadete, Lda
Uma sementeira que será feita por estes dias, prevê-se que possa acontecer já esta semana.
Ora, Pedro Matos, presidente da Junta de Freguesia diz que quando lhe foi apresentada a ideia não olhou para trás. “Trata-se de uma forma de podermos ajudar algumas instituições da terra, a ACATIM (Associação Comunitária de Apoio à Terceira Idade de Mouriscas), a própria escola que tem alunos nos PALOP's ou famílias que passem por mais necessidades” clarifica Pedro Matos que acrescenta que “temos uma escola agrícola com a sua boa vontade para avançar com este projeto”. O autarca de Mouriscas deixa bem claro que a Comissão Social de Freguesia está a funcionar e que trabalha de mãos dadas como a Cáritas Diocesana que presta o apoio aos mais necessitados, nomeadamente isso já acontece com o Banco Alimentar contra a Fome.
Pedro Matos, Presidente da Junta de Freguesia de Mouriscas
João Quinas, o diretor da EPDRA, confirma o momento em que “recebeu o desafio” para esta sementeira de batata com o objetivo “de distribuir pela freguesia, instituições e pessoas mais carenciadas que estejam a passar algumas dificuldades, pelo que estamos a viver com o Estado de Emergência”.
Se a empresa Manuel Cadete oferece a batata de semente, se a Junta de Freguesia fornece a lista que vai receber a batata “a EPDRA fornece o terreno e toda a parte operacional da sementeira”, diz João Quinas.
E depois a questão final, quanto é que pode ser a produção final desta iniciativa? João Quinas faz as contas muito simples. “Ponderados todos os fatores que podem influenciar a produção, desde a meteorologia a outros, se temos 250 quilos de batata, normalmente multiplicamos por dez, quer dizer que poderemos vir a ter uma produção de 2.500 quilos, ou seja, duas toneladas e meia de batata”.
João Quinas, diretor da EPDRA
A batata vai ser semeada esta semana o que quer dizer que daqui a dois meses e meio ou três meses, mais dia menos dia, poderá estar pronta para colheita, ou seja, lá para meados de junho poder-se-á pensar na apanha. Depois caberá à junta de freguesia, com apoio dos dois parceiros, proceder à sua distribuição, sabendo-se, de antemão, que a ACATIM será a principal beneficiária desta iniciativa.