“Raul Wheelhouse: médico de Liberdade” é uma exposição promovida pela Bibliote-ca Municipal de Sardoal e Arquivo Histórico Luís Manuel Gonçalves que foi criada com base numa investigação sobre este médico que viveu em Sardoal, e é uma das figuras do concelho do século passado. Foi nesta busca de figuras de Sardoal, nos 50 anos do 25 de Abril, que Dulce Figueiredo, Manuela Poitout e Carlos Alves abriram muitas gavetas para dar a conhecer este homem, médico, socialista, laico, republicano e destacado dirigente Maçon.
Na quinta-feira, dia 31 de outubro, foi descerrada uma placa de homenagem a Raul Wheelhouse, naquela que foi durante vários anos a sua casa e consultório, na Rua 5 de Outubro. Passados vários anos, a casa e consultório de Raul Wheelhouse continua a servir a população na área da saúde. Trata-se do edifício que acolhe atualmente a Sarclínica.
Neste dia o Centro Cultural Gil Vicente recebeu a Palestra “Raul Wheelhouse: um homem multifacetado” que contou com o contributo de Manuela Poitout e de Carlos Alves. Devido ao facto de Raul Wheelhouse ter pertencido também à Maçonaria portuguesa, presentes nesta palestra estiveram ainda Joaquim Grave dos Santos, responsável pelo arquivo histórico do Grande Oriente Lusitano e Fernando Cabecinha, grão-mestre do Grande Oriente Lusitano.
Miguel Borges, o presidente da Câmara de Sardoal, referiu que o Dr. Raul Wheelhou-se foi descoberto quando “procuramos personalidades ligadas ao Sardoal nos 50 anos do 25 de abril.”
Miguel Borges, presidente CM Sardoal
Dulce Figueiredo, responsável pela biblioteca e arquivo do Sardoal, começou por indicar que os investigadores, Manuela Poitout e Carlos Alves, deram o primeiro empurrão e depois o Grande Oriente Lusitano abriu as portas do arquivo e da documentação da loja maçónica.
A vida mostrada nesta exposição vai da política à filantropia e à medicina. “Foi uma pessoa muito discreta.”
Dulce Figueiredo indicou que várias pessoas da vila disseram que o Dr. Raul nunca foi agraciado. “Quando há este sentimento temos de olhar para isso. E nos 50 anos do 25 abril temos esta pessoa que foi preso político e este deportado em Angra do Hero-ísmo”.
A coordenadora disse que Sardoal é muito conhecido pelo GETAS, mas há muitas personalidades por explorar. Ou seja, há muito Sardoal.
Dulce Figueiredo
Manuela Poitout investigou a vida de Raul Wheelhouse, principalmente nas suas ligações ao Entroncamento e, à altura, concelho de Vila Nova da Barquinha.
E fez desfilar datas e factos dos anos 30 do século passado. Em 1931 (o Entroncamento fazia parte do concelho de Vila Nova da Barquinha) ainda não havia dia de descanso, era aos domingos para os barbeiros, e era ao domingo que o Dr. Raul dava as suas consultas. E talvez o seu consultório pudesse ser também um ponto de encontro para os Maçons.
Depois ligou-o ao Sardoal e à Maçonaria. Revelou ter consultado documentos da biblioteca do Grande Oriente Lusitano, a mais antiga Obediência Maçónica em Por-tugal. E foi aí que se deparou com o triângulo de Sardoal e Entroncamento [triângulo era o nome dado a uma estrutura para pequenos grupos maçónicos que não conseguiam ter elementos para uma loja. Normalmente tinham 3 a 6 elementos.]
Carlos Alves, também um historiador, traçou uma outra visão sobre o médico que nasceu em Santa Comba Dão (2-11-1901) e faleceu em Lisboa (1-7-1976), mas que teve consultório e viveu em Sardoal.
Carlos Alves vincou que Raul Wheelhouse “era socialista, laico, republicano e dirigente maçónico. Foi perseguido pela polícia, preso e esteve deportado."
Raul Wheelhouse sempre foi opositor ao Estado Novo. Foi preso duas vezes em 1933, sendo que esteve deportado em Angra do Heroísmo, nos Açores, até 1935.
Regressou depois a Sardoal, à casa que fica, hoje, situada na rua 5 de outubro.
Joaquim Grave dos Santos, responsável pelo Arquivo Histórico do Grande Oriente Lusitano, começou por explicar que o médio foi iniciado nos ritos maçónicos no triângulo 302 onde assumiu o nome simbólico de António José de Almeida e mais tarde trocou-o para Basílio Teles. Depois explicou que a maçonaria tem três ritos (francês, rito escocês e rito inglês) para dar indicação que Raul Wheelhouse iniciado no rito francês, foi depois transferido para o triângulo de Sardoal.
Foi na década de 30, depois da prisão, quando a maçonaria foi considerada ilegal que os corpos maçónicos regionais foram mais focos de resistência republicada em vez de lojas.
Raul Wheelhouse foi aprendiz, companheiro e mestre no dia que foi iniciado
O seu último desafio maçónico foi mais duradouro. Criou a loja “Estrela D’Alva”, que passou do rito francês para o escocês. Raul Wheelhouse recebeu 32.º grau deste sis-tema, mas foi aceite no 33.º, o último degrau do rito escocês antigo e aceite.
Joaquim Grave dos Santos
Fernando Cabecinha, é atualmente o Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano que tem uma vida de 222 anos (fundado em 1804). E afirmou que foi por causa de homens como Dr. Raul que permitiram que tenha feito esta afirmação, de ser uma ordem. com 222 anos ininterruptos. Ou seja, reuniam onde podiam para fugir à polícia, mesmo durante o tempo em que a Maçonaria foi considerada ilegal em Portugal.
“Raul Wheelhouse foi um destacado dirigente maçon, e onde está um maçon está a maçonaria. Sempre teve um compromisso ético, iniciado muito cedo na Maçonaria foi alguém que interiorizou os princípios maçónicos.”
Fernando Cabecinha indicou que foi numa maçonaria clandestina que percorreu a sua vida maçónica. “Foi Grande Chanceler o que equivale a ministro dos Negócios Estrangeiros. Por isso contactou durante a Segunda Guerra Mundial com Winston Churchill, primeiro-ministro britânico ou Franklin Delano Roosevelt, presidente dos Estados Unidos.”
E o Grão-Mestre revelou ainda outro fator que o liga ao ideal Maçónico, “quando sabia que os doentes não tinham condições para pagar não cobrava as consultas. A preocupação da maçonaria Portuguesa está presente, por exemplo em António Arnaut (Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano 2002 – 2005), que criou o Serviço Nacional de Saúde, agora tão maltratado.”
Mais liberdade, igualdade e fraternidade, lema da Maçonaria “podemos encontrar na vida de Raul Wheelhouse”, concluiu o Grão-Mestre.
Fernando Cabecinha
De 4 de novembro a 14 de dezembro, a Exposição estará patente na Biblioteca Municipal de Sardoal e pode ser visitada de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h30m e das 14h às 17h30m.
“Raul Wheelhouse foi um médico por missão, um homem de carácter, um político comprometido com ideais de liberdade e de bem-comum, uma pessoa com um per-curso rico e digno de registo que o Sardoal ganhou em acolher na sua comunidade”, fez saber o Município sardoalense.
Galeria de Imagens