A pandemia da covid-19 obrigou o serviço de Oncologia do Hospital Distrital de Santarém a alterar alguns procedimentos, mas nenhum tratamento foi cancelado e, afirma a sua diretora, o acompanhamento de todos os doentes está assegurado.
De máscara na cara, tal como todos os profissionais e todos os utentes que chegam ao hospital de dia do serviço para receber os tratamentos de quimioterapia, imunoterapia ou de hormonoterapia, Sandra Bento disse à Lusa que os cancelamentos e adiamentos de consultas foram “mínimos”.
Sandra Bento - Diretora do serviço de oncologia do Hospital Distrital de Santarém
“Passámos a fazer algumas consultas de seguimento por telefone para evitar que o doente se deslocasse ao hospital. Decidimos sempre caso a caso e com possibilidade de remarcação para presencial, caso o doente, depois da consulta telefónica, tivesse queixas que justificassem a vinda ao hospital”, explicou.
Sandra Bento - Diretora do serviço de oncologia do Hospital Distrital de Santarém
Nos casos em que são necessárias análises com marcadores tumorais, os doentes passaram a deslocar-se ao hospital apenas para fazer a colheita e, quando conhecido o resultado, a consulta passou a ser feita por telefone, a exemplo do que acontece com os que necessitam fazer TAC.
“Isso já reduzia o número de utentes aqui e já permitia algum distanciamento, porque a nossa sala de espera não é muito grande e também não queríamos que as pessoas viessem ao hospital”, disse.
Os tratamentos foram mantidos, à exceção dos paliativos em doentes institucionalizados, que foram adiados para evitar a “maldade” de os obrigar a 15 dias de isolamento nos lares por se deslocarem ao hospital.
“Foram os únicos que foram adiados. No resto mantivemos sempre o funcionamento”, afirmou.
Sandra Bento - Diretora do serviço de oncologia do Hospital Distrital de Santarém
Ramiro Antunes, sentado numa das cadeiras de uma sala que não permite grande espaçamento entre doentes, vai todas as semanas fazer o tratamento ao cancro do pulmão.
É a segunda vez, depois do cancro da mama que surgiu há cinco anos, que é seguido no serviço de Oncologia do Hospital Distrital de Santarém (HDS).
Ramiro Antunes - utente
A pandemia apenas lhe alterou as rotinas, em casa, na rua e nas vindas ao hospital, onde, como todos os que entram no edifício, lhe passaram a medir a temperatura e a desinfeção frequente das mãos e o uso de máscara passaram a ser obrigatórios.
“Fazem-me o tratamento conforme fizeram há cinco anos. Igual. Perfeitamente igual. Estou muito feliz, além da doença, estou muito feliz de ser acompanhado por esta magnífica equipa de enfermagem”, disse à Lusa.
Ramiro Antunes - utente
A equipa de 11 enfermeiras, de auxiliares técnicos e de secretariado dedicado só à Oncologia, com experiência acumulada num serviço criado na década de 1990 e a funcionar no atual espaço desde 2006, garantem a estabilidade perante um quadro médico que Sandra Bento admite ser curto.
Com cerca de 1.500 novos casos de cancro por ano, o serviço tem duas oncologistas em horário completo e vários em regime de prestação de serviços que completam mais 40 horas/semana.
“Em termos de carga horária é como se fossemos três. Precisaríamos de um bocadinho mais”, disse, salientando a dificuldade em contratar numa especialidade que é ainda "muito carenciada e muito solicitada".
Sandra Bento - Diretora do serviço de oncologia do Hospital Distrital de Santarém
Além do hospital de dia, as especialistas integram as unidades dedicadas à cirurgia oncológica, como a de Senologia, pioneira em mastectomias radicais e acreditada como centro de referência, onde chegam anualmente duas centenas de novos casos de cancro da mama, e a do cancro do reto, reconhecida como centro de excelência.
Em 2019, o serviço avaliou em consulta cerca de 2.000 doentes, 600 dos quais em tratamento ativo, cobrindo o Hospital de Santarém uma região com cerca de 240.000 habitantes.
Os doentes chegam ao serviço de Oncologia depois da avaliação feita numa consulta de grupo, que inclui várias especialidades – cirurgia, radioterapia, anatomia, imagiologia, oncologia -, sendo assegurado, “sempre, que o tratamento é feito dentro dos prazos e atempadamente”, salientou Sandra Bento.
Com a pandemia, os doentes passaram igualmente a ser testados para a covid-19.
“Até agora nenhum caso deu positivo, felizmente, nem em doentes nem nos nossos profissionais”, afirmou.
Maria de Lurdes Lopes (Agência Lusa)