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“A personalidade e seu desenvolvimento”
Falar sobre questões de personalidade é assunto que se transformou em modalidade de conversa recorrente. Porém, não raro fico por vezes pensando porque existe ainda tanta gente que tem deste conceito uma perspetiva desfocada. Não que não aceite que deste ou daquele assunto se possa ter ideias muito pessoais. É bom que assim seja, digo eu. Contudo, talvez até por desfocagem pessoal tenho tendência a pensar que tendo havido tão grandes avanços na compreensão daquilo que o ser humano é, e da forma como se comporta, dou comigo a ficar surpreso quando ainda noto que certas pessoas pensam que a personalidade é coisa que se adquire lá por volta dos dezassete, dezoito anos, e que depois disso pouco muda. Claro que aceito que muita gente ainda esteja ligada a formas de pensar algo passadas, e que, função de vivências em contextos culturais que ainda mantêm marcas dos tempos antigos, estejam algo distantes das novas formas de pensar o homem. Porém, fico satisfeito por saber que em termos educativos, as crianças do momento atual já possuem novas e diferentes formas de entender o que o ser humano é não deixando, contudo, de pensar que era bom que se fizessem esforços no sentido de transformar certas formas recorrentes de literacia em possibilidades de aquisição de conhecimentos. Certo também que aceito que o conceito anterior é ainda algo que carece de acertos científicos já que quando se pergunta “como definir a personalidade?”, muitos dos estudiosos do tema entendem que a resposta ainda necessita de ser, no mundo académico, objeto de maiores consensos.
Grégory Michel e Diane Purper – Ouakil, em obra com o título “Personalidade E Desenvolvimento – Do Normal Ao Patológico, publicada pelo Instituto Piaget, em 2009, na coleção Epigénese Desenvolvimento e Psicologia, fazem um esforço sério para trazer à superfície dos tempos alguns conhecimentos que permitam ver mais claro sobre as questões suscitadas pela temática anterior. Partindo justamente da pergunta feita, levantam outras não menos interessantes. Desde procurarem responder à interrogação no sentido de ser necessário esclarecer se a personalidade está dependente do nosso ambiente social, ou da educação que se leva, até procurarem satisfazer perguntas que são formuladas para se saber se ela varia ao longo do desenvolvimento do indivíduo, ou se a sua expressão será a mesma em crianças, adolescentes, adultos ou pessoas idosas, os autores deixam na obra várias pistas para que se possa ter da personalidade uma ideia mais acertada. Contudo são consensuais ao achar que este domínio de conhecimento é extraordinariamente complexo, e que a questão de distinguir entre uma personalidade normal e outra que é patológica é exercício que exige sempre segurança nos diagnósticos e saberes solidamente conseguidos. Por mim tenho que saber mais sobre aquilo que é a personalidade humana é um tema essencial que merece preocupações acrescidas das sociedades modernas, até porque o momento atual exige, cada vez mais, que se perceba porque razão certos comportamentos humanos parecem contrariar a forma de estar do próprio Universo.
Despeço-me com amizade,
Luís Barbosa*
*Investigador em psicologia e ciências da educação
SALPICOS DE CULTURA, uma parceria com a Associação Internacional de Estudos Sobre a Mente e o Pensamento (AIEMP)