Nesta quarta-feira, dia 3, subiu ao palco do cine-teatro de S. Pedro, em Abrantes, a peça “Bodas de Sangue”, de Federico García Lorca. A representação esteve a cargo dos alunos do 12º ano do Curso Profissional de Artes do Espetáculo – Interpretação, com a participação das alunas do 11º ano. A encenação foi assinada por Teresa Baguinho, professora de teatro naquela Escola – Dr. Manuel Feranandes.
Lorca, Andaluzia, boda e sangue: o drama levado à categoria de tragédia, ao modo andaluz, os desencontros sociais nas pequenas sociedades, a energia e o poder de vida e de morte. Baseada num caso real, dizia a apresentação da peça, mas todos nós conhecemos, de perto ou de longe, casos semelhantes, embora sem o desfecho trágico à andaluza.
A encenação mostrou uma fina sensibilidade, servindo o texto com recursos cénicos de grande efeito plástico e de vigoroso sabor poético.
Os atores estiveram à altura do desafio. A inevitável falta de amplitude, pela idade, de algumas vozes foi compensada pela manifesta capacidade técnica da representação. O canto, em duo à capela, cortava a cena como uma espada e o coro das dançarinas encheu o palco de alegria em contraponto com a tragédia que ali se desenhava de forma cada vez mais nítida. Algumas soluções cénicas foram muito bem conseguidas. Importa lembrar que os atores são alunos do ensino secundário, logo não profissionais com curso de teatro. Mas fizeram uma noite memorável para uma sala muito bem composta de público.
Um dos atores tem manifestos problemas. O facto de fazer parte inteira do elenco de artistas em palco diz ainda do trabalho de inclusão que valoriza, também a esse nível, o trabalho apresentado. Alguns dos comentários ouvidos referiam o facto de uma ou outra das alunas terem tido dificuldades escolares no terceiro ciclo e desempenharem agora papéis de relevo com nítido sucesso, outro sucesso, de outro tipo, mas não menos importante como formação.
Esta apresentação das “Bodas de Sangue” (de 1933) foi há algum tempo precedida no mesmo palco pela representação de “Yerma” (de 1934), do mesmo autor. Com “A Casa de Bernarda Alba” (de 1936), estas peças fazem uma trilogia que conjuga mito, poesia, drama e tragédia, que consagrou de Gacía Lorca (1898-1936) um dos maiores dramaturgos espanhóis do século XX. Como os alunos são quase só mulheres, pode ser que no próximo ano tenhamos a oportunidade de ver “A Casa de Bernarda Alba”, que tem apenas personagens femininas. Até lá, vamos aguardar os últimos trabalhos destes alunos no presente ano letivo.
Alves Jana