Ontem, quarta-feira, subiu ao palco do cineteatro S. Pedro, em Abrantes, a peça Yerma, de Federico García Lorca. A representação esteve a cargo dos alunos do 11º ano do curso de Artes do Espectáculo, da Escola Dr. Manuel Fernandes e a encenação foi de Teresa Baguinha, professora daquele curso. O espectáculo teve ainda a participação de uma turma do 5º ano do curso de Música da mesma escola e de um grupo de alunas da Universidade da Terceira Idade de Abrantes. A peça, de 1934, é uma tragédia, e conta a história de uma mulher que não consegue engravidar, com os dramas pessoais, familiares e sociais que nessa situação se cristalizam.
Numa perspectiva mais crítica, podemos dizer que os actores estiveram muito bem. Sobretudo mostraram uma boa expressividade nos movimentos. E conseguiram dar uma clara dimensão trágica ao texto. As vozes, como não podia deixar de ser, mostraram a verdura dos anos das actrizes, só mulheres, mas o conteúdo da peça passou facilmente, com a forte ajuda de uma encenação arrojada, portanto criativa, que não se esqueceu de um toque andaluz, terra de origem do autor. Do ponto de vista pedagógico, pois trata-se de um curso, é nítido que só um trabalho de ensino e aprendizagem pode ter levado jovens comuns a ter realizado um espectáculo com aquele nível de execução. E se, como disse o director da Escola à RTP 1, este é um curso que oferece uma alternativa a jovens que não se revêem na oferta mais tradicional da escola, então há duas conclusões a tirar: a escola conseguiu realizar um bom trabalho com aquelas alunas e estas vão levar dali para a vida aprendizagens e competências que não lhes seria possível obter de outro modo.
A sala estava cheia, com plateia esgotada e o 1º balcão a receber ainda mais público. Eram sobretudo pais dos alunos que actuaram. Isso também significa que muitos dos espectadores tiveram assim acesso a um espectáculo a que nunca teriam assistido por sua iniciativa. Foi, portanto, um momento cultural cheio de bons resultados.
Alves Jana