Fica situada na Estrada Nacional 3 ou na Rua da Fonte dos Amores, bem no centro da freguesia, ali perto dos correios e da papelaria, com café 40 ou da loja chinesa, portanto muito fácil de localizar. Um espaço mais central era, aliás, a ideia base para a Associação Cultural das Rotas de Mouriscas (ACROM) que já tinha a sua sede social no lugar do Poçarrão.
Quando encontraram o espaço, portanto mais central, a ACROM deparou-se com uma questão: era um espaço demasiado grande para uma simples sede administrativa.
Só que, de espaço grande, num ápice passou a diminuto face à ideia que a equipa de António Louro teve para preencher aquele espaço. A possibilidade de terem uma exposição de artefactos ligados à história da aldeia de Mouriscas ganhou forma e da ideia à ação durou pouco tempo. Começaram a falar com alguns mourisquenses que cederam à ACROM coisas antigas que teriam lá por casa, ou nas arrecadações.
Um arado, uma grade em madeira, cangalhas em madeira, rodízio da azenha, fuso do lagar de varas são alguns dos artefactos apresentados neste núcleo que inclui também uma cantareira antiga com cântaros de barro e outras loiças, trem de cozinha em esmalte ou candeeiros antigos.
Quadros com imagens da vida de Mouriscas, como uma junta de bois, ou a carta de ferrador, máquina de costura ou um rádio antigo, ferragens, roupas antigas de homem, mulher e criança também podem ser apreciados nas novas instalações da ACROM. As telhas mouriscas ou as ceiras e capachos fazem parte do espólio recolhido junto de cerca de três dezenas de mourisquenses.
Balanças, pesos e medidas de líquidos e cereais representam as atividades comerciais da aldeia, assim como cestos e cabazes ou ferramentas onde se inclui um tear com os respetivos tapetes e a roda para fazer os capachos para os lagares, primeiro em esparto e mais tarde em cairo.
Este espaço museológico conta ainda com várias obras literárias de autores de Mouriscas e uma amostra de moedas e notas em escudo, claro está.
António Louro destacou ainda que haveria muito mais objetos ligados, de alguma forma, à história rural da aldeia, mas acabaram por não ter espaço para colocar tanto objeto recolhido.
A sede, em local central da freguesia pode permitir aos visitantes conhecer um pouco mais da história de uma aldeia em que a ruralidade é uma marca da vida das suas gentes.
Não falta a ligação às ribeiras, da Arcês e Rio Frio, e ao rio Tejo, afinal de contas o objeto de um dos grandes trabalhos da ACROM, da sua direção e voluntários. A abertura de trilhos e limpeza de caminhos têm colocado a descoberto verdadeiras maravilhas da natureza, entre construções feitas pela mão do homem, como pontes, casas, azenhas e lagares ou quedas de água naturais no curso das ribeiras. É nesta área específica que a ACROM tem em curso as parcerias com os municípios de Abrantes, Sardoal e Mação para a implementação da Grande Rota das Ribeiras da Arcês, Rio Frio e do Rio Tejo. Trata-se da criação e identificação de percursos e trilhos junto aos cursos de água. O concurso público está a avançar e António Louro espera que no final do ano a rota possa estar implementada.
O presidente da direção da ACROM avança com outra ideia a juntar à rota: “a criação de um centro interpretativo, que irá depender das ajudas que apareçam, porque sozinhos não conseguimos fazer tanta coisa”. Salientando que a ACROM tem apenas 11 meses de vida, embora com muito trabalho anterior, António Louro agradeceu a colaboração e as parcerias com outras entidades, nomeadamente com as Câmaras Municipais de Abrantes, Mação e Sardoal que estão envolvidas na grande rota, projeto vencedor do Orçamento Participativo Português em 2017.
Vasco Marques, vereador da Câmara de Mação, destacou as parcerias entre populações vizinhas bem patentes nas ajudas mútuas “nos incêndios, mas também em coisas boas, como a rota das ribeiras”. Já Pedro Rosa, vereador da Câmara de Sardoal, esta colaboração “permite pensar o território, não em pequenas ilhas, mas de uma forma mais abrangente”.
Manuel Valamatos, presidente da Câmara de Abrantes destacou que há muito trabalho a fazer entre todos e evidenciou o trabalho “apaixonante” desenvolvido pela ACROM que tem sido “a limpeza de trilhos das ribeiras, por forma a poderem captar mais pessoas para nos visitarem”.
Aliás, uma das formas de divulgação das rotas e dos trilhos tem sido as caminhadas promovidas pela ACROM. Já contam com mais de uma dúzia delas e a próxima acontece já este sábado, dia 2 de Março. A concentração está agendada para as 8 da manhã no Casal dos Cabrais e o percurso, de cerca de dez quilómetros “sons da ribeira”, será na Arcês entre “o pisão do bruxo e a Lapa”.
A Rota cultural e etnográfica das ribeiras da Arcês, Rio Frio
António Louro apresentou o projeto da “Rota cultural e etnográfica das ribeiras da Arcês, Rio Frio” ao Orçamento Participativo Português (OPP) em 2017. O voto popular levou este projeto a ser um dos vencedores a nível regional e a poder ter um investimento de 30 mil euros, financiado pelo Governo nacional e que irá avançar até ao final de 2019.
“A criação de uma rota pedestre de cariz cultural e etnográfica em zonas de intensos vestígios de património antigo e outro mais recente, nomeadamente: pontes e calçadas romanas, grutas, castelos, antas, lagares, azenhas, levadas” foi a base da candidatura a que juntou ainda a componente religiosa com Nossa Senhora da Lapa (Sardoal), Nossa Senhora da Tocha e Nossa Senhora dos Matos (Mouriscas, Abrantes).
Segundo a memória descritiva deste projeto, vencedor do OPP, a criação da rota permitirá “encontrar vestígios de 15 lagares e azenhas, vários açudes, vários quilómetros de levadas, quatro grutas, duas pontes romanas, uma barragem, uma praia fluvial, uma calçada romana, vestígios de um antigo castelo e inscrições antigas”, tudo na Ribeira da Arcês.
Já no Rio Frio podem ser encontrados “dez lagares e azenhas (uma das quais ainda se encontra em funcionamento), vários açudes, vários quilómetros de levadas, uma anta, vestígios de extração mineira e uma grande charca”.
No rio Tejo poder-se-á ainda encontrar o canal de Alfanzira e “restos do que foi a Mata Real de Alfanzira para além de oliveiras milenares incluindo a mais antiga de Portugal com 3.350 anos”.
Jerónimo Belo Jorge