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Câmara de Abrantes compra Cine-Teatro S. Pedro por 470 mil euros

9/12/2019 às 00:00

A novela Cine-Teatro S. Pedro chega finalmente ao fim com a aquisição do imóvel, a título definitivo, pela Câmara Municipal de Abrantes por 470 mil euros.

Depois de longas negociações e de um processo complicado e que teve vários avanços e recuos a autarquia e a Sociedade Iniciativas de Abrantes, que era a proprietária do edifício cultural chegaram a acordo. O presidente da Câmara de Abrantes, Manuel Jorge Valamatos anunciou o negócio no interior do cineteatro lado a lado com José Carreiras e José Alberty, dirigentes da Iniciativas de Abrantes. A compra por 470 mil euros pagos ao longo de sete anos. 70 mil euros a serem pagos em 2020 com assinatura da escritura e, depois, 65 mil euros nos seis anos subsequentes.

Nas últimas rondas negociais a Iniciativas de Abrantes tinha apresentado uma proposta de venda pelo valor de 800 mil euros e a Câmara de Abrantes, já liderada por Manuel Jorge Valamatos, fez uma contraproposta do arrendamento por 35 anos, pelo valor de 150 mil euros. A sociedade concordou com a proposta de arrendamento, mas depois resolveram apresentar uma nova proposta, desta vez para a venda do edifício à autarquia.

José Alberty e José Carreiras explicaram o motivo da proposta de venda em vez do aluguer que tinha tido aceitação. “A sociedade não tem rendimento nenhum (…) e não é possível manter uma sociedade ativa sem rendimentos. A solução do arrendamento era empurrar de barriga um problema para os vindouros. Temos filhos e netos e temos de ter respeito por eles”, justificou José Alberty. E acrescentou que o acionista com maior relevância da sociedade é o Centro Social Paroquial de Rossio ao Sul do Tejo e “havia de ter cuidado para não prejudicar essa instituição”. O dirigente assumiu que “talvez não soubessem, mas há coisas que, por vezes mais escondidas são muito importantes”. Não querendo adiantar valores ou percentagens José Alberty garantiu que o Centro Social do Rossio será um dos grandes beneficiários desta venda.

Num comunicado conjunto a Câmara Municipal e a Iniciativas de Abrantes explicam, em resumo, a história do imóvel e depois explicam o negócio: “A Câmara Municipal de Abrantes está consciente que o Município de Abrantes e os seus munícipes têm para com o Cine-Teatro S. Pedro uma ligação histórica e de grande afinidade. Considera que é um espaço privilegiado de promoção e difusão de atividades culturais e artísticas, estando o mesmo vocacionado para o serviço público, para Abrantes e para a região”.

O texto assinado pelas duas partes finaliza com a frase: “A propriedade do imóvel será transmitida à Câmara Municipal, que a partir de agora velará pela sua adequada manutenção e o porá ao serviço da Cultura e de Abrantes”.

O presidente da autarquia revelou que há uma estimativa de obras no valor de 2 milhões de euros para devolver o imóvel à sua função que, no entanto, poderá ser faseadas. Não querendo avançar datas para a reabertura da sala revelou que a primeira preocupação será com a segurança, pelo que será avaliada e intervencionada a estrutura e o teto do edifício. Adiantou ainda que agora é altura de levar o processo para a CCDR Centro (Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro), e tentar encontrar financiamentos para suportar os investimentos que têm de ser feitos para que assuma a sua função de sala cultural e de espetáculos.

Manuel Jorge Valamatos vincou a abertura que a Iniciativas de Abrantes sempre teve com ele, depois de ter assumido a presidência da autarquia uma vez que antes o processo estava a ser gerido por Maria do Céu Albuquerque, sempre com a participação do vereador com o pelouro da cultura Luís Filipe Dias.

O presidente frisou que “podíamos ter feito esse contrato de arrendamento, mas entendemos que devíamos comprar (…) está em causa um investimento de 2 milhões de euros [de requalificação] e faz todo o sentido fazer este investimento num imóvel que é do município”.

José Alberty questionado sobre se a mudança de presidente de Câmara teve influência na rapidez que o processo ganhou fugiu na resposta para uma explicação do que tinham sido as negociações. Segundo afirmou o processo emperrou entre o final do contrato de comodato e as mais-valias que a Câmara queria que a sociedade suportasse. Continuou a explicar e finalizou “quando há respeito, quando há a compreensão dos interesses envolvidos para cada parte, e há a possibilidade e inteligência de se apagarem essas divergências para se construir uma obra, essa obra faz-se. Não tenho mais nada a dizer.”

José Carreiras disse que este é um momento histórico para a cidade e não apenas para a Iniciativas de Abrantes e agradeceu à Câmara ter criado condições para que se “tivesse chegado a acordo”.

70 anos de história na cultura de Abrantes

O Cine-Teatro S. Pedro tem sido, ao longo dos anos, a sala de cultura do concelho de Abrantes.

A ideia de construir um cinema ou um teatro terá começado a germinar em 1946 quando um grupo de cidadãos abrantinos, encabeçados por Manuel Fernandes, terá encomendado um projeto ao arquiteto Amílcar Pinto. A construção ainda terá começado em 1947 com a demolição da Igreja de S. Pedro Novo, construída em 1708, mas acabou por não ir em frente. Apenas foram executadas as fundações para que fosse apresentado outro “desenho".

O projeto construído é da autoria do arquiteto Ruy Jervis d’Athouguia e foi inaugurado a 19 de fevereiro de 1949 com a comédia de Júlio Dantas “Outono em Flor” da Companhia do Teatro Nacional Dona Maria de Amélia Rey Colaço / Robles Monteiro. A sala de espetáculos tinha, nesta altura, uma plateia com 512 lugares a que se acrescentavam 232 no primeiro balcão e mais 210 no segundo balcão.

No ano 2000 a sociedade proprietária, Iniciativas de Abrantes, fez um contrato de cedência do cineteatro à autarquia que o recuperou num trabalho dos arquitetos Sara Morgado e Pedro Costa.

O S. Pedro reabriria ao público em 2001, depois de remodelado, com uma lotação mais reduzida: 350 cadeiras na plateia, 139 no primeiro balcão e 72 no segundo balcão.

Em 2016, estando quase a terminar o acordo de 1999 [tinha uma duração de 19 anos] Município [liderado, na altura, por Maria do Céu Albuquerque] e Iniciativas de Abrantes começaram a “discutir” o futuro do imóvel e de um eventual novo acordo.

A 31 de janeiro de 2018 a Câmara de Abrantes emite um comunicado onde revela que: “apesar de todas as diligências efetuadas pelo Município, iniciadas no final de 2016, para a consolidação de um novo acordo entre as partes, as Iniciativas de Abrantes, Lda, reunidas em Assembleia Geral de 28 de janeiro de 2018 recusaram as propostas apresentadas pela autarquia”.

Em 29 de maio de 2018 a presidente da Câmara de Abrantes, Maria do Céu Albuquerque anunciou que tinha apresentado a proposta de compra do Cine-Teatro S. Pedro, por 267 mil euros.

Em 17 de outubro de 2018 o Município ponderou avançar com a celebração de um contrato de comodato com a Sociedade Iniciativas de Abrantes.

Em 12 de novembro de 2018, em entrevista à Antena Livre, quando questionado sobre o que pensa a Sociedade acerca do valor proposto pelo Município, que se cifra em 267 mil euros, José Alberty [da sociedade Iniciativas de Abrantes] disse que o valor “não caiu bem na Sociedade” e lembrou que o imóvel foi avaliado pelo Município em setembro de 2017 por 844 mil euros. Na altura o responsável vincou que a sociedade queria vender o imóvel à autarquia, mas nunca pelo valo que tinha sido proposto.

Em 26 de junho de 2019, já na liderança de Manuel Jorge Valamatos o vereador do PSD questionou o “novo” presidente da Câmara sobre a situação do edifício cultural. Manuel Jorge Valamatos disse, na altura, que “nós entendemos que, se for de forma equilibrada e com bom senso, podemos todos agarrar o Cine-Teatro S. Pedro e fazer o que temos para fazer, porque neste momento ele não reúne condições para poder receber qualquer espetáculo e é preciso um investimento financeiro muito significativo”. Adianta ainda que pretendem “chegar a um entendimento, é isso que queremos e temos a sensação que os representantes da Iniciativas de Abrantes também querem. Estamos todos muito empenhados em resolver o assunto e, neste momento, a «bola» está do lado deles, que estão a analisar as diferentes possibilidades”.

Créditos da imagem: restosdecoleccao.blogspot.com

Créditos da imagem: restosdecoleccao.blogspot.com

 

Cine-Teatro S. Pedro abre portas ao multiusos no antigo mercado diário

Ao que Antena Livre sabe, no entanto, que a prioridade seria concluir, de forma positiva, o processo do Cine-Teatro S. Pedro o que irá permitir avançar com o projeto de transformação do antigo mercado diário de Abrantes num pavilhão multiusos. Manuel Jorge Valamatos, presidente da Câmara de Abrantes, confirmou no final de outubro esse cenário garantido que o projeto irá manter toda a linha arquitetónica exterior, embora refaça todo o interior daquele imóvel.

Estes dois processos sempre foram mais prioritários para a autarquia, embora ninguém o queira confirmar, porque permitirá, mais facilmente, o acesso a fundos comunitários. É que o programa Portugal 2030 vai ter uma linha de apoio à requalificação de edifícios culturais e educacionais, tanto mais que a Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo, já está a fazer o “trabalho de casa” que é identificar em todos os municípios quais os “potenciais” projetos a desenvolver. Desta forma ganha mais lastro a aposta do Município de Abrantes em poder avançar para duas requalificações, com financiamento, do que a construção de um edifício novo, ainda que pudesse ser mais adequado aos tempos atuais.

Manuel Jorge Valamatos referiu-se a uma nova dinâmica cultural a nascer em Abrantes. Há a galeria de arte, no antigo quartel dos Bombeiros, vai haver o cineteatro S. Pedro, o MIAA – Museu Ibérico de Arqueologia e Arte, a abrir em 2020, o MAC – Museu de Arte Contemporânea, no Edifício Carneiro, e depois o pavilhão multiusos no antigo mercado diário de Abrantes.

Questionado sobre investimentos na área cultura o presidente do Município revelou que vão começar a olhar para uma intervenção a sério, no interior da Igreja de S. Vicente, e outra mais robusta [exterior e interior] na Igreja de S. João.

O cineteatro de Alferrarede também não está esquecido, pode mesmo ser alvo de uma intervenção pública ou privada no âmbito do projeto ARU - Área de Reabilitação Urbana para Alferrarede. “É uma das situações mais complicadas, pois os proprietários são mais de 90 herdeiros dos proprietários originais do imóvel”.

Jerónimo Belo Jorge

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