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Investigação: Céus mais escuros e límpidos do mundo em risco devido a um megaprojeto industrial

19/01/2025 às 12:45

No dia 24 de Dezembro do ano transacto, a AES Andes, uma subsidiária da empresa americana de energia AES Corporation, apresentou um projeto para um enorme complexo industrial para avaliação do impacto ambiental. Este complexo ameaça os céus prístinos que cobrem o Observatório do Paranal do ESO, no deserto chileno do Atacama, o mais escuro e límpido de todos os observatórios astronómicos do mundo. Planeia-se colocar este megaprojeto industrial a apenas 5 a 11 km de distância dos telescópios do Paranal, o que causará danos irreparáveis às observações astronómicas, em particular devido à poluição luminosa emitida durante o período de funcionamento do projeto. É fundamental relocalizar o complexo para que possa ser salvo um dos últimos céus escuros verdadeiramente prístinos da Terra.

Um património insubstituível para a humanidade

Desde a sua inauguração em 1999, o Observatório do Paranal, construído e operado pelo Observatório Europeu do Sul (ESO), levou a descobertas astronómicas significativas, como, por exemplo, a primeira imagem de um exoplaneta ou a confirmação da expansão acelerada do Universo. O Prémio Nobel da Física de 2020 foi atribuído ao trabalho de investigação relativo ao buraco negro supermassivo situado no centro da Via Láctea, para o qual os telescópios do Paranal desempenharam um papel crucial. O Observatório do Paranal constitui um recurso fundamental para os astrónomos de todo o mundo, incluindo os do Chile, cuja comunidade astronómica cresceu substancialmente nas últimas décadas. Além disso, Cerro Armazones (situado muito perto do Paranal) acolhe a construção do Extremely Large Telescope (ELT) do ESO, o maior telescópio do mundo do seu género — uma infraestrutura revolucionária que irá alterar drasticamente o nosso conhecimento do Universo.

A proximidade ao Paranal do megaprojeto industrial da AES Andes representa um risco crítico para os céus noturnos mais prístinos do planeta”, sublinhou o Diretor Geral do ESO, Xavier Barcons. “As emissões de poeira durante a construção, o aumento da turbulência atmosférica e, especialmente, a poluição luminosa terão um impacto irreparável nas capacidades de observação astronómica do Paranal, que até agora têm atraído investimentos de vários milhares de milhões de euros por parte dos governos dos Estados Membros do ESO.

O impacto sem precedentes de um megaprojeto

O projeto engloba um complexo industrial de mais de 3000 hectares, o que corresponde quase à dimensão de uma cidade, ou distrito, como Valparaíso, no Chile, ou Garching, perto de Munique, na Alemanha. Inclui a construção de um porto, de instalações de produção de amoníaco e de hidrogénio e de milhares de unidades de produção de eletricidade.

Graças à estabilidade atmosférica e ausência de poluição luminosa, o deserto do Atacama é um laboratório natural único para a investigação astronómica. Estes atributos são essenciais para projetos científicos que visam responder a questões fundamentais, como a origem e a evolução do Universo ou a procura de vida e habitabilidade de outros planetas.

Um apelo à proteção dos céus chilenos

“O Chile, e em particular o Paranal, é um lugar verdadeiramente especial para a astronomia — os seus céus escuros são um património natural que transcende fronteiras e beneficia toda a humanidade”, disse Itziar de Gregorio, Representante do ESO no Chile. “É fundamental considerar locais alternativos para este megaprojeto que não ponham em perigo um dos mais importantes tesouros astronómicos do mundo.”

A relocalização deste projeto é a única forma eficaz de evitar danos irreversíveis nos céus únicos do Paranal. Esta medida não só salvaguardará o futuro da astronomia como também preservará um dos últimos céus escuros verdadeiramente prístinos existentes na Terra.

Observatório Europeu do Sul

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