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Constância, Mação e Sardoal avançam para as finais distritais das 7 Maravilhas da Cultura Popular

7/06/2020 às 00:00

Os Picaretos de Ortiga e as Velas de Cardigos (Mação), os tapetes de flores da Semana Santa (Sardoal) e as Festas de Nossa Senhora da Boa Viagem (Constância) passaram à próxima fase do concurso 7 Maravilhas da Cultura Popular, ficou hoje a saber-se.

Nesta primeira fase do concurso que este ano vai eleger as sete maravilhas do nosso país [Artesanato; Lendas e Mitos; Festas e Feiras; Músicas e Danças; Rituais e Costumes; Procissões e Romarias] um painel constituído por 170 especialistas escolheu sete candidatos por cada distrito que vão avançar agora para a próxima fase. São 140 candidatos escolhidos de todas as candidaturas apresentadas este ano.

A partir de 6 de julho começam a ser emitidos os 20 programas que constituem as finais regionais. As transmissões serão feitas em direto a partir dos municípios mais pequenos que têm uma candidatura a concurso.

Nesta fase serão apurados 20 candidatos, os que tiverem mais votos populares, e a 16 de agosto haverá uma emissão especial para escolher oito dos 20 segundos classificados.

O regulamento das 7 Maravilhas da Cultura Popular dá conta que “estes 28 semi-finalistas serão distribuídos por critérios de proximidade geográfica, em duas semi-finais, que irão apurar os 14 finalistas, a realizar nos dias 23 e 30 de agosto.”

A declaração oficial das 7 Maravilhas da Cultura Popular será feita num programa da RTP, a emitir em prime-time, no dia 5 de setembro.

Os Finalistas do distrito de Santarém: 

 

Festas de Nossa Senhora da Boa Viagem

Constância, Santarém

Procissões e Romarias

 

Trata-se de uma festividade cíclica que ocorre, em Constância, todos os anos na segunda-feira da Páscoa. É uma manifestação religiosa, bicentenária, ligada à tradição marítima da vila e à consequente devoção a Nossa Senhora da Boa Viagem que ao longo dos tempos se foi adaptando às mudanças do mundo e da vida, transportando consigo a essência de Constância e o espírito deste lugar de encontro do Zêzere com o Tejo.

Consiste na procissão em honra da Senhora da Boa Viagem, protetora dos marítimos, que desce da igreja matriz até aos rios onde a esperam, na atualidade, largas dezenas de embarcações engalanadas para a bênção dos barcos. Para além das embarcações locais e das localidades vizinhas, acorrem a Constância neste dia muitas outras provenientes de todo o vale do Tejo, de Abrantes até ao mar, representando as comunidades ribeirinhas do troço do grande rio em que os barcos de água acima, carregados de mercadorias, navegaram durante séculos. Muitas das tripulações vêm trajadas ao modo tradicional e característico dos seus lugares de origem, o que faz desta manifestação uma grande Festa do Tejo.

A bênção dos barcos ocorre em três locais sucessivos: a primeira no Zêzere e as duas seguintes no Tejo, seguindo a procissão pelas margens e deslocando-se as embarcações pelos rios, num cortejo de grande significado cultural e especial beleza estética. Há ainda uma derradeira bênção – a das viaturas – que acontece na Praça principal da vila antes de a procissão tomar o caminho de regresso à igreja matriz onde a imagem da Senhora da Boa Viagem permanecerá, no seu altar, até à segunda-feira da Páscoa do ano seguinte.

A procissão e a bênção dos barcos e das viaturas em Constância têm características eminentemente populares, resultantes da devoção e do costume que em cada ano se manifestam e se renovam. As pessoas enfeitam os barcos a seu gosto, com flores naturais e enfeites de papel. Em muitas embarcações transportam imagens da sua devoção. Grande parte dos participantes são homens e mulheres, de uma forma ou de outra ligados aos rios, que têm o hábito de vir a Constância em cada Páscoa para se reencontrarem e confraternizarem, transformando a vila, onde se encontram os rios, num lugar de encontro também de pessoas e de afetos.

Vinda, pelo menos, do século XVIII, a procissão de Nossa Senhora da Boa Viagem e a bênção de barcos transportam em si sinais e memórias do passado fluvial da vila, ao mesmo tempo que se souberam adaptar aos tempos e às novas realidades, sobrevivendo ao desaparecimento das condições em que surgiram e continuando a afirmar no presente as marcas identitárias de Constância, ponto de encontro, que sempre viveu dos rios e cujo futuro passará, em boa parte, por eles.

 

Picareto (Ortiga)

Mação, Santarém

Artefactos

No concelho de Mação foram construídos os últimos Picaretos anunciando-se o seu fim com o de quem lhes dedicou mais de 6 décadas de vida. A história dos Picaretos é mais antiga, são 300 anos de uso deste barco, ou bote, para a pesca e para o transporte de pessoas no Tejo.

Manuel Fontes, o último Calafate de Ortiga – Mação deixou-nos os seus últimos trabalhos, dos mais de 300 que fabricou, tendo começado com 22 anos a trabalhar com a obra preta: trabalho de madeira que mexe com resina e alcatrão.

Os Picaretos, por terem a forma de uma picareta agrícola, têm 6 metros de comprimento e são um barco de aresta, com fundo chato podendo navegar com um palmo e água. São, assim, muito bem construídos em cerca de 20 dias com recurso a cerca de 100 tábuas, de 4 pinheiros. Depois de construída a estrutura coloca-se a “estopa” nas costuras do barco, entre as tábuas, com recurso a uma calafetadeira e um maço. O leito leva um revestimento de pano-cru e, por cima, uma camada de pez ficando como que encerado.

O barco é parecido na sua divisão com o corpo humano, dividido em fundo, costado e leitos.

A tábua do centro, a espinha, é que manda em toda a obra, e as do lado são cortadas ao meio, para darem a curva, e depois leva travessas ou cavernas.

O costado é feito só de tábuas compridas, uma em cima que se chama de boca e outra ligada ao fundo que se chama aresta, tem um molde e é deitado um pouco para trás para fazer o esbarramento, como se diz, ou fica feio em jeito de uma arca e sem equilíbrio na água.

O Picareto tem dois leitos: o mais largo é o leito grande onde, em cima, se trabalham as redes e onde, por baixo, se dorme.

O leito pequeno, que é o da proa, onde se mete o serrão da “bucha” para comer e os sapatos, pois no barco é obrigatório andar descalço.

A espessura da madeira que reveste o barco é de vinte milímetros.

Todas as peças do barco picareto, interiores e exteriores, têm uma designação própria, como os trancanis da proa, o cágado do remo, a tábua das bufas, o buraco do trapeiro, o entre pares, a chumaceira, a draga, o vertedouro ou os fiéis, entre outras.

Os barcos Picaretos são parte da nossa identidade, a par do Rio Tejo, sendo considerados autênticas obras de arte por conjugarem a experiência dos pescadores com a criatividade dos seus construtores. A técnica da sua construção passou de geração em geração e assumem-se hoje como um dos maiores bens da nossa história, com a certeza do seu fim, com a extinção dos Calafates, que foram muitos.

Em Ortiga, no sul do Concelho de Mação, vai inaugurar em breve o Núcleo Museológico, que será um um Polo Museológico das artes da pesca tradicional no rio Tejo, onde o Picareto tem lugar de honra assumindo-se como peça principal. Por tudo isto, porque é uma criação maravilhosa que trazia auxílio aos pescadores e comida às mesas e porque ainda cruzam as águas do nosso Tejo, se apresenta esta candidatura do barco Picareto de Mação.

 

Velas de Cardigos

Mação, Santarém

Artesanato

 

É grande a tradição e vasta a história da fabricação de velas na Freguesia de Cardigos, a norte do Concelho de Mação.

Atualmente ainda laboram três fábricas de velas em Cardigos. Umas mais modernizadas do que outras, mas ainda há quem fabrique velas de modo artesanal. Uma delas é a Fábrica de Velas Condestável.

Na Ladeira de São Bernardo, em Cardigos, António Silva, de 86 anos, produz há várias décadas velas artesanais, enviadas, em grande parte, para Fátima.

Esta Fábrica é antiga, mas ainda produz as velas artesanalmente, embora tenha acompanhado os tempos. António trata as tábuas de cera como se fossem da família.

São produzidos dois tipos de velas, as mais amareladas, que vão para Fátima e as brancas de primeira qualidade. Um dos segredos e brio de António é utilizar apenas boa matéria-prima sendo que foge à “moda” da parafina.

Cardigos sempre foi uma terra de fabrico de velas. Foi como aprendiz numa fábrica de velas que António lhe ganhou o gosto e apostou no seu próprio negócio.

Embora hoje tenha máquinas mais modernas ainda mantém em funcionamento a antiga, onde secam 16 velas de cada vez.

É no antigo lagar, que funciona de forma similar aos lagares antigos de azeite antigo é transformada a cera em bruto derrete-se a cera suja, para as ceiras de escorre novamente cera líquida para as travessas em que segue para a máquina que molda e dá forma à cera, com o tamanho e forma que se quer.

Um passado de história e glória cujo futuro se adivinha sorridente pois o neto de António acompanha o avô nos negócios sendo a terceira geração do negócio. Estudou e voltou às raízes, faz tudo com o avô, até estar na fábrica a produzir, procurando, ainda assim, tornar a Fábrica de Velas Condestável mais adaptada às novas tecnologias e com maior diversidade de produtos.

Um produto artesanal com futuro mas, sempre, baseado no saber-fazer antigo. Cardigos continua a ser uma referência na fabricação de velas.

 

Tapetes de flores das capelas da Semana Santa

Sardoal, Santarém

Rituais e Costumes

No decurso da Semana Santa, as Igrejas e Capelas da Vila de Sardoal abrem as portas para exibirem os artísticos Tapetes de Flores que lhes atapetam o chão, cuidadosamente elaborados por grupos de moradores que vivem perto, e que anualmente concebem e criam tapetes à base de pétalas de flores e de verduras naturais, com desenhos alusivos às temáticas religiosas cristãs da Semana Santa e da Paixão de Cristo.

As flores utilizadas na composição dos tapetes são, na sua larga maioria, espécies autóctones e plantas da época, designadamente giestas, glicínias, lilás, rosmaninho, alecrim e bucho, cravos, camélias, malmequeres, margaças, etc. As flores, além de comporem a moldura dos tapetes, provocam agradáveis aromas.

Os diversos grupos de moradores que habitam nas proximidades das Igrejas ou Capelas ou outros organismos específicos organizam-se na gestão das diferentes partes do processo da criação dos Tapetes de Flores, com muito tempo de antecedência, seja:

1) A conceção das temáticas e dos desenhos a desenvolver (sempre com motivos religiosos cristãos) – com cerca de um mês de antecedência;

2) A recolha de flores e verduras necessárias à criação do desenho desenvolvido, essencialmente no campo, com cerca de uma semana de antecedência;

3) A redução a pequenos fragmentos (depenicar) das flores e verduras, frequentemente realizada por mulheres e crianças – nos dias que antecedem;

4) A limpeza das Igrejas e das Capelas, e ornamentação dos altares das Igrejas e Capelas;

5) A conjugação das flores e a “composição” dos desenhos já previamente estruturados – no dia anterior (quarta-feira).

Neste sentido, cada um dos grupos desenvolveu uma forma própria na produção dos tapetes, seja na estruturação como na planificação dos desenhos (quer seja através de desenho direto no chão, da colocação em areia fina, ou de base de esferovite).

Reza a lenda que a tradição dos Tapetes de Flores em Sardoal teve início aquando da primeira visita da Rainha Santa Isabel à Vila, tendo os moradores elaborado tapetes em pétalas de flores por não possuírem tapeçarias ricas para a receber.

Sendo certo que, segundo notícias publicadas na Imprensa Regional, por volta do ano de 1890, refere-se o retomar da Tradição das Cerimónias Religiosas da Semana Santa em Sardoal, sendo salientado com particular destaque as Capelas enfeitadas com flores e verdura, que sob a orientação do Cónego Anacleto da Fonseca Morais, atingiram grande brilhantismo. Esta notícia confirma a antiguidade desta Tradição.

Trata-se de uma exposição de rara beleza visual bem como olfativa – a ingenuidade dos motivos ornamentais e a harmonia das cores e disposição das luzes, e que só pode ser contemplada nesta altura e nesta terra, fruto da inspiração, anualmente renovada, dos artistas anónimos que tecem com pétalas e folhas, muitas vezes separadas uma a uma, estas tapeçarias perfumadas, que julgamos originais do Sardoal, sinais de uma cultura popular sedimentada ao longo dos séculos, sempre renovada nos motivos e nas formas, mas sempre constante na sua religiosidade e no amor à sua Terra.

 

Festa da Bênção do Gado

Torres Novas, Santarém

Festas e Feiras

Cestaria em Junco

Coruche, Santarém

Artesanato

Manta de Minde

Alcanena, Santarém

Artefactos

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