SALPICOS DE CULTURA....
«Edmund Halley o conversador»
É muito comum abordarmos nos nossos textos as desventuras daqueles que se dedicam às coisas da construção do conhecimento. Claro que tal facto é, não raro, para valorizar o muito que homens e mulheres têm dado de si a fim de que a nossa sociedade seja vista e pensada como um palco tolerante e aprazível.
Porém, verdade se diga, que nem todos aqueles que nos antecederam, eram figuras casmurras, ou mesmo irreverentes. Outros houve, que ganhando jus à bonomia e ao gosto pelos bons momentos, levaram a vida gozando o que de bom a vida tem.
Edmund Halley poderá ter sido um deles. Vivendo entre 1656 e 1724, granjeou junto dos seus concidadãos a fama de “bon vivant”. Homem de trabalho, aceitou sempre que este não o atrapalhava, e por isso as suas actividades não lhe faziam parar as noites particularmente animadas.
Gostava de falar, e as ceias longas e perlongadas tinham sempre como fundo animadas discussões. Conta-se até que numa das noites, provavelmente, já bem acompanhado de bom sumo de uvas, a discussão terá mesmo permitido que Halley atirasse o monarca russo Pedro o Grande, para um silveiro.
Na cidade, em diversos sítios, este estudioso gostava de montar aquilo a que chamava cafés e ao longo das noite aí se divertir, aquecendo conversas sobre os mais diversos temas. Fundou mesmo “O Clube das Ceias” que sendo uma estrutura integrada na chamada Sociedade Real, da qual foi secretário, serviu para juntar muitos dos estudiosos do momento.
Utilizando logaritmos inventados por colegas resolveu problemas de astronomia e levando os seus estudos bem longe conseguiu mesmo calcular os graus de mortalidade da humanidade. Fazendo duas viagens para a América do Sul organizou o primeiro mapa magnético (1701) em que se assinalam as declinações e inclinações da bússola. Mais tarde, viajou mesmo pelo Canal da Mancha para recolher os dados indispensáveis acerca das marés e correntes do mesmo.
Dos livros, onde sobre este estudioso se tecem considerações, diz-se que, para além de astrónomo, matemático, humanista, capitão de navio, hidrógrafo, diplomata, editor e publicista, um dos temas que bem o preocupou foi justamente a questão da velhice. Veja-se bem, um dos temas que hoje, mais é falado na nossa sociedade. Provavelmente que uma conversa com Halley, mesmo que em espírito, talvez servisse a uns quantos para se questionarem quanto às questões da terceira idade.
No âmbito do conhecimento as coisas são mesmo assim. O que uns lá longe descobriram mais não são que âncoras que a outros, mais tarde, podem servir, a fim de se conseguir ir mais além.
Despeço-me com amizade,
Luís Barbosa*
*Investigador em psicologia e ciências da educação
SALPICOS DE CULTURA, uma parceria com a Associação Internacional de Estudos Sobre a Mente e o Pensamento (AIEMP)