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CRÓNICA: «Emoções, medo e alimentação» por Luís Barbosa!

30/09/2020 às 00:00
Luis Barbosa

SALPICOS DE CULTURA….

«Emoções, medo e alimentação»

Se dedicarmos atenção mais fina aos últimos dois textos que escrevi, pode dizer-se que um indicador comum é o facto de o medo estar como a emoção mais presente em todos os casos que foram abordados. Medo de se ter peso a mais que o necessário, medo de se comer mais do que aquilo que se deve e até medo de não se possuir a massa muscular conveniente.

Verdade se diga que, correntemente, sinto de facto que é frequente que muitos de nós, quando atormentados pelas preocupações anteriores, exibe comportamentos algo emocionais em que o receio de estar a passar limites físicos, psíquicos, ou até espirituais, parece presente. Mas também, não raro fico com a sensação que por não se saber bem como responder ao que se vai sentindo, acrescem preocupações que se transformam em autênticos tormentos.

Se nos socorrermos da ciência encontramos na Biologia das Emoções um campo onde estas problemáticas são muito estudadas e se tivermos a paciência de ir caminhando no aprofundamento temático que é proposto pelos estudiosos, encontramos na Epigenética um contexto bem preciso, onde muitas das dúvidas sobre a temática anterior podem ser melhor esclarecidas.

Bem, na sequência dos escritos anteriores ressalta que é no universo das emoções que temos de mergulhar, se quisermos deslindar alguns porquês das frustrações anteriores. Mas acautelemo-nos, porque nessa matéria não nos podemos considerar os primeiros. Ao invés, as questões em torno do corpo e da beleza, como de resto afirmámos, mereceram sempre grandes atenções no seio da raça. AtherineBelzung, na obra Biologia das Emoções, disso nos dá bem conta.

A obra foi publicada pelo Instituto Piaget, em Lisboa, em 2010 e está integrada na coleção Epigénese Desenvolvimento e Psicologia, e no capítulo 3, cujo título é “As Bases Neuroanatómicas e Neuroquímicas das Emoções”, em 3.1., ao falar do conceito de cérebro tripartido de Mclean, diz o seguinte:

            “Está longe de ser nova a ideia segundo a qual existe um substrato neuroanatómico     solicitado especificamente pelas emoções; já a encontramos em autores da Antiguidade grega. Assim, para Demócrito (460 a.C.), o controlo do comportamento e da razão exige        a cabeça, o desejo está localizado no fígado e o ressentimento e a cólera no coração.”

Claro que ao ler esta citação vem-me sempre à mente a ideia de que para a medicina chinesa, nós, seres humanos, possuímos o que os chineses chamam de “segundo cérebro” e que, veja-se bem, consideram situado no meio do corpo, e é composto por órgãos que nele se situam bem no centro da nossa estrutura.

Porém, atenção porque de facto as preocupações em torno das emoções, e sobretudo do medo acima referido, não é coisa que só a nós ocidentais do século XXI diga respeito. A autora, continuando a dissecar o tema, deixa escrita na sua obra a citação que a seguir faço:

            “Na mesma época, Hipócrates defende que o cérebro seria em parte responsável pela            vida consciente – emoções incluídas – e que os estados emocionais são          determinados pela temperatura cerebral, pela higrometria e pala aridez. Ele defende            igualmente que          o medo           seria consequência de um sobreaquecimento do cérebro enquanto que a       ansiedade resultaria de um arrefecimento.Estes estados do cérebroinduziriam     alterações em certos órgãos: por exemplo, o diafragma seria ativado no caso de uma             alegria inesperada, o coração dilatar-se-ia em caso de surpresae o peito seria solicitado pela cólera.” (pág. 127.Ibid.)

Bem, caros amigos, as emoções em torno da estrutura corporal são de facto problemática que nós humanos de há muito adquirimos. Mas repare-se bem, que o medo em se andar a comer muito ou pouco, e em se possuir massa muscular adequada, também já era coisa que deixava os gregos antigos a pensar. Por hoje fico por aqui, despedindo-me com cordialidade, Luís Barbosa. 

 

Despeço-me com amizade,

Luís Barbosa*

*Investigador em psicologia e ciências da educação
SALPICOS DE CULTURA, uma parceria com a Associação Internacional de Estudos Sobre a Mente e o Pensamento (AIEMP)

 

 

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