Mação inaugurou a requalificação do Museu de Arte Pré-Histórica e do Sagrado do Vale do Tejo, após a remodelação do piso térreo. Trata-se de um investimento municipal de cerca de 300 mil euros. O Museu reabriu as portas ao público com um “espaço renovado e mais atrativo”, com “uma nova fachada e com o piso térreo modernizado”, com espaço expositivo, sala de conferências e terá ainda uma pequena loja.
Este espaço requalificado assume-se “como um espaço para pensar o futuro. Não é um museu sobre o passado, é um museu que olha para o passado, pensando no futuro.” Na ótica de Luís Oosterbeek, responsável científico do Museu, ao passarem as portas em vidro os visitantes podem encontrar a demonstração, a explicação, de como é que a prática, os gestos do quotidiano são, no essencial, os mesmos há mais de 30 mil anos, embora os objetos sejam diferentes. E as angústias do dia-a-dia também são muito parecias. É isto que encontramos nestes vídeos.”
Luís Oosterbeek
Luís Oosterbeek destacou o lado físico da requalificação. Uma parte de obra, na fachada ou no chão, que ficou com um piso versátil que dá para a realização de qualquer atividade. A sala de visitação pode levar cadeiras e transforma-se num auditório ou até pode receber outros eventos, incluindo com gastronomia.
O arqueólogo lembrou que, em 2000, quando “descobrimos arte rupestre, pedimos somente que a Câmara salvaguardasse o espaço. Foi então que o vereador Saldanha Rocha me pediu para vir cá [a Mação] e apresentou-me uma contraproposta, que se pensasse num Museu em termos de futuro. Eu sugeri criar um centro internacional em Mação e ele disse sim. Toda esta conversa demorou cinco minutos.”
Hoje o Museu de Arte Pré-Histórica e do Sagrado do Vale do Tejo faz parte de uma rede, à escala mundial, na área da pré-história e o Centro Internacional traz a Mação muitos jovens e investigadores que vêm trabalhar nas suas teses, nos seus documentos de investigação daqueles períodos da humanidade.
Luís Oosterbeek
Este é um trabalho é continuo e não apenas nas gravuras rupestres do Ocreza. No início de setembro, Mação vai integrar um novo projeto de investigação nom consórcio de vários países e apoiado pela Comissão Europeia. O convite partiu de um parceiro francês e o “Territórios em transformação”, nome do projeto, que vai “trazer artistas internacionais e portugueses a trabalhar com as comunidades de Mação, para tentar construir, com as pessoas, soluções para que a arte e a cultura possam ser uma vida mais saborosa.”
Luís Oosterbeek
Já Vasco Estrela, presidente da autarquia destacou o investimento, totalmente municipal, mas que representa o fecho de um ciclo de todo o equipamento que estava carenciado. Esta obra permitirá à vila ganhar mais um espaço polivalente para utilizar pelo Museu ou por outras instituições.
Vasco Estrela vincou que o Museu de Mação não é reconhecido internacionalmente pelo que está dentro das quatro paredes. “O reconhecimento vem por tudo o que está extramuros. E isso passa pelo trabalho do professor Oosterbeek e pelo Instituto Politécnico de Tomar.” E o presidente deu um exemplo simples, mas revelador do que é o Museu e o centro de estudos que lhe está associado. “Ainda hoje [sexta-feira, 30 de agosto] estávamos a preparar a cerimónia e chegaram dois alunos do Paquistão. Um deles estava há um ano à espera de obter visto para entrar em Portugal. E não vêm por causa do edifício, vêm para aprofundar os seus conhecimentos.”
Vasco Estrela, presidente CM Mação
Há muito trabalho ligado ao Museu, e todas as atividades paralelas que existem pretendem envolver a população. E isso reflete-se, muito, nas atividades seniores e nos clubes seniores. Até porque os habitantes da vila percebem bem a quantidade de investigadores e estudiosos que vêm a Mação e ao Museu. Depois, Vasco Estrela indicou também o parque arqueo-social que lhe está associado e que permite experimentações várias na área das construções e vivências pré-históricas.
“Pretendemos aproximar as pessoas aos Museu. Mas também há projetos do Museu nas aldeias do concelho, em que os estudantes que aqui vêm têm de contactar com essas realidades e até apresentar projetos e ideias para ali implementar”, explicou Vasco Estrela que disse acreditar que os maçaenses têm orgulho neste equipamento.
Vasco Estrela, presidente CM Mação
Mas o Museu de Mação ultrapassa os limites do cimento dos três pisos, ali no largo da Feira da vila. O património pré-histórico é um dos pontos chave para estudiosos e alunos que aqui se deslocam, e vêm de todo o mundo.
No entanto o autarca deixa um lamento e um apelo. O lamento de alguém, não se sabe quem ou porquê, foi para o Ocreza, na zona das gravuras rupestres e tentou ser um homem das cavernas ao “riscar” muitas pedras ou rochas daquele espaço. Vasco Estrela apelou aos visitantes dos sítios arqueológicos, a céu aberto, que respeitem o património e não entende estes atos de vandalismo.
Vasco Estrela, presidente CM Mação
Com um núcleo em Ortiga, ligado à etnografia, ruralidade e rio Tejo, a rede de museus de Mação vai crescer porquanto Vasco Estrela espera lançar ainda este ano o projeto para criação de um Núcleo Museológico ligado ao Presunto, em Envendos. O espaço físico está encontrado, trata-se de uma antiga fábrica de presuntos, a obra estará para avançar, depois entram os técnicos para preparar o espólio a mostrar ao público.
Vasco Estrela, presidente CM Mação
José Saldanha Rocha, hoje presidente da Assembleia Municipal, foi, em 2000, o homem que, a liderar o pelouro da cultura da autarquia, viu nos achados rupestres um projeto de futuro. De um Museu, mas de algo mais, que depois continuou como presidente da Câmara e que foi continuado pelo seu sucessor, Vasco Estrela.
Na inauguração, emocionado, Saldanha Rocha destacou que “isto é uma história de amizades”, desde o telefonema do professor Oosterbeek, à amizade com o Vasco e com todos os que trabalharam no Museu.”
José Saldanha Rocha, presidente AM Mação
O Museu Municipal de Mação surgiu em 1943 na sequência de achado arqueológico do Porto do Concelho, na altura, iniciativa de João Calado Rodrigues com o apoio da Câmara de Mação.
Em 1967, Maria Amélia Horta Pereira foi convidada a estudar a coleção e a elaborar um projeto de Museu, que só viria a ser concretizado em 1986, altura em que abriu ao público com coleções de arqueologia, etnografia e arte.
Mas é no ano 2000 que se iniciou um novo ciclo e uma alteração na estratégia e na conceção deste espaço cultural. Foi a 6 de setembro que aconteceu a descoberta das gravuras rupestres no vale do rio Ocreza. E a partir desse momento nada mais foi como era em Mação. Foi a grande mudança para o Museu de Arte Pré-Histórica e do Sagrado do Vale do Tejo e com a criação de um centro internacional de formação e investigação. Na altura, o vereador com o pelouro da Cultura, José Saldanha Rocha, desafiou o arqueólogo Luís Oosterbeek a tomar as rédeas do projeto, lugar que ainda hoje é o seu.
Desde 2003 até hoje, o Museu tem sido palco de inúmeras exposições, colóquios e apresentações, cooperando com diversas entidades e instituições, quer a nível local, nacional e internacional, levando ao reconhecimento e integração de Mação, em 2016, na Rede UNESCO de Cidades da Aprendizagem.
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