A Oliveira do Mouchão, na freguesia de Mouriscas, concelho de Abrantes, foi alvo de uma ação de limpeza na manhã desta quinta-feira.
Numa iniciativa que juntou a Junta de Freguesia de Mouriscas, a Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Abrantes (EPDRA) e a empresa Ourogal, os trabalhos foram executados por alunos do curso de Técnico de Produção agropecuária supervisionados por um professor da escola.
Mas sendo a Oliveira do Mouchão património natural de Portugal, o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) teve de autorizar a intervenção e enviou ao local o engenheiro Vasco Pereira para verificar o que seria feito.
E o trabalho concreto na árvore, um zambujeiro (oliveira bravia) enxertado com oliveira galega, resumiu-se a aliviar a copa dos ramos mais secos e outros que estão “a prejudicar o desenvolvimento” da árvore.
Ao fim e ao cabo, de acordo com António Cordeiro, engenheiro INIAV (Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária) investigador e especialista em olivicultura, esta não foi uma limpeza como as que, tradicionalmente, os olivicultores fazem em fevereiro e março. Tratou-se de cortar ramos secos ou excedentários que podem estar a tirar vitalidade à Oliveira do Mouchão.
E, no final, pode verificar-se que a ação deixou um pequeno monte de ramos e não trouxe grande alteração à copa e perímetro (de 11,2 metros) do monumento natural.
“É uma poda muito cirúrgica para estimular novos crescimentos para que a árvore nos continue a dar sombra, frutos e alegria só de olhar para a sua imponência”, disse António Cordeiro.
São mais de 3350 anos de história que estão a ser protegidos e tratados com todo o cuidado que a Oliveira do Mouchão merece.
António Cordeiro, Engenheiro INIAV
O especialista do INIAV apontou um corte enorme no que seria o terceiro tronco da Oliveira. Terá sido na década de 40 ou 50 que foi feito aquele corte não se percebendo qual o motivo. Ou a enxertia de zambujeiro para oliveira galega que não funcionou, ou um relâmpago, ou uma fratura no tronco por peso da copa. O certo é que é visível, hoje, que não foi um corte programado.
Simão Pita foi o professor que acompanhou os quatro alunos da EPDRA que cortaram os ramos “excedentários”. Sempre com as indicações precisas de António Cordeiro, de Vasco Oliveira (ICNF) e de algumas achegas de André Luís Lopes, da Ourogal.
Simão Pita explicou aquilo que estavam a fazer, que faz parte dos trabalhos letivos dos jovens, mas aqui num outro patamar. Para além da intervenção na Oliveira milenar, houve ainda o aproveitamento dos conhecimentos transmitidos pelo investigador do INIAV. “A sua presença dá-nos mais segurança porque estamos a falar de um grande especialista a nível nacional da área da olivicultura”, disse o docente da EPDRA.
Um dos pormenores que saltou à vista de quem é leigo nestas matérias foi a colocação de uma massa no corte acabado de fazer. “Trata-se de uma massa que é uma espécie de cicatrizante. Vai evitar que no corte entrem bactérias ou outras doenças”.
Ao que explicou com a aplicação desta “massa” a árvore não perde tanta seiva como aconteceria se a “ferida sarasse” de forma normal. E é visível que este ato já tinha sido feito noutra altura, há uns anos. Consegue perceber-se que houve cortes “pintados” com uma “tinta” esverdeada.
Simão Pita, professor EPDRA
André Lopes que revelou à Antena Livre que esta experiência os jovens da EPDRA estariam a ter deveria ser única no mundo. Alunos de um curso agrícola poderem estar a trabalhar numa oliveira com mais de 3350 anos de idade.
E o que se pretende, de acordo com o responsável da empresa produtora de azeite, de S. Miguel do Rio Torto, concelho de Abrantes, é a valorização deste património que é de todos e que tem de estar cada vez mais visível na promoção de Mouriscas, de Abrantes e da região.
E recordou, para a Antena Livre, como é que teve conhecimento da Oliveira milenar que agora pertence à freguesia e que é tutelada pelo ICNF.
André Lopes, Ourogal
Pedro Matos, o presidente da Junta de Freguesia disse que esta intervenção “cirúrgica” já estava programada há algum tempo porque tem e haver cuidados a ter com este “nosso monumento”.
De acordo com Pedro Matos, o espaço vai levar mais alguns melhoramentos, como a instalação de papeleiras, bancos para que os visitantes se possam sentar a apreciar a árvore.
Pedro Matos revelou o trabalho que está a ser desenvolvido na promoção da Oliveira de Mouriscas.
Pedro Matos, presidente da JF Mouriscas
Recorde-se que na última Assembleia Municipal de Abrantes Manuel Jorge Valamatos, presidente da Câmara Municipal, numa resposta a uma pergunta do deputado social democrata João Fernandes revelou que está para breve a edição de um livro sobre a Oliveira do Mouchão.
Trata-se de uma edição Municipal, feita por técnicos da autarquia. Informou que teve uma reunião com André Luis Lopes, da Ourogal “que tem tido um papel importantíssimo neste processo de conservação da Oliveira do Mouchão”, com a EDPRA e com a Junta de Freguesia. E destacou também a participação da ACROM com a GR 55 em Mouriscas e nos concelhos vizinhos.
Manuel Jorge Valamatos, presidente da CM Abrantes
Ao que a Antena Livre sabe o livro de edição municipal tem a componente de investigação e ilustrações e que deverá ser lançado muito em breve.
O certo é que no espaço de duas horas que durou a operação, dois casais de turistas ou “gente de fora da terra” passou pela Oliveira do Mouchão. Mesmo com algum aparato no local tiraram fotografias, umas selfies e uma das senhoras até levou um raminho dos pedaços cortados na ação de limpeza.
É que esta oliveira vem lá dos tempos em que viveu a conhecida Nefertiti, da civilização Egípcia...
Quanto à Oliveira do Mouchão, fica localizada em Mouriscas, no lugar de Cascalhos e tem as seguintes coordenadas de GPS: 39°28'23.5"N 8°04'51.3"W
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