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OPINIÃO: «A Biologia das emoções», por Luís Barbosa

12/04/2021 às 08:45
Luis Barbosa

SALPICOS DE CULTURA….

“A Biologia das emoções”

Confesso que algumas particularidades do momento atual deixam-me mais emocionado que outras.  Bem sei que a época da Páscoa é propícia a estados emocionais onde a melancolia ganha maior ênfase. Mas certas situações que muitos de nós estão a passar, tornaram-se muito particulares. Não falo só das que vou constatando pessoalmente, mas de outras que vejo na televisão ou que leio na imprensa escrita.

Claro que entendo que não se deve passar uma esponja sobre o que se vai ouvindo e vendo, mas embora as questões das emoções seja tema que gosto de aflorar, tenho sempre a preocupação que ao fazê-lo não introduza, em quem possa ler os textos que escrevo, estados de alma que não ajudem a aligeirar as tensões com que vamos vivendo.

Bem, o que anteriormente escrevi certamente que permite perceber que hoje vou trazer à colação algumas coisas que os estudiosos das emoções vêm deixando dito. Escolhi para companhiao livro Biologia das Emoções, escrito por Catherine Belzung e editado em Portugal pelo Instituto Piaget, em 2010.

A obra é escrita justamente para que se tenham das emoções ideias que não sejam, como por vezes são, muito catastróficas. Ao invés, a autora procura tratar as emoções com naturalidade deixando expressa a ideia que as mesmas, fazendo parte da condição humana, é algo com que o homem tem de saber viver. Claro que aqui, não esconde que os efeitos educativos e culturais são fatores muito importantes para que se viva emocionalmente de forma a não se ser sistematicamente torturado.

Contudo há um aspeto que não fica fora do seu trabalho, o facto de hoje sermos muito flagelados com a sistemática influência de fontes informativas que mais não fazem que explorar as emoções alheias. Logo no prefácio da obra começa por dizer que, passo a citar:

“As emoções passaram a ocupar, nestes últimos anos, o primeiro plano da nossa existência: da atualidade geopolítica que exacerba os medos mais irracionais à apresentação mediatizada das catástrofes naturais, das violências de bairro às aventuras desportivas radicais, tudo serve para nos comover. Não há jornal televisivo que não forneça a sua dose de sensações fortes: o nosso coração acelera, a nossa respiração pára e enxugamos o suor que nos inunda a fronte.”

Depois, e sem tecer considerações fora de tempo, continua: “Interrogamo-nos: como é que um acontecimento exterior consegue produzir estas mudanças no nosso corpo?”

Para sabermos qual a resposta à questão anterior é necessário ler boa parte do livro. Porém, um aspeto particular é sublinhado com intenção. Muitas vezes, alguns de nós terão a tentação de pensar que sentir e expressar emoções é algo que até do ponto de vista social é reprovável. Lembro-me bem de como a minha educação foi marcada pelo slogan “um homem não chora”, e de como ao tempo em que fui criança, grande parte das mulheres escondiam o seu chorar.

Os tempos mudaram, é um facto, mas eu tenho a impressão que os slogans anteriores ainda andam por aí. Contudo a autora, talvez para nos ajudar a ser mais livres em relação aos mesmos, tambémexpressa no seu prefácio a ideia que “As emoções são um dado permanente e essencial do vivido humano e da experiência das outras espécies animais. Elas são essenciais para a sobrevivência: sem medo não há evitamento do perigo, que o mesmo é dizer, não há comportamento que permita fugir-lhe.”

Bem, por hoje fico por aqui desejando que cada um seja capaz de se libertar do peso que as emoções nos colocam sobre as costas. Não para adquirirmos um comportamento de “faz de conta”, mas para que possamos ir vivendo de uma forma mais saudável.

Despeço-me com amizade,

Luís Barbosa*

*Investigador em psicologia e ciências da educação
SALPICOS DE CULTURA, uma parceria com a Associação Internacional de Estudos Sobre a Mente e o Pensamento (AIEMP)

 

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