SALPICOS DE CULTURA….
Da consciência à «Conscienciologia
Confesso que por vezes fico bem embaraçado quando topo com certos livros que me chamam mais a atenção pelo ineditismo dos títulos que pelos conteúdos tratados. Não raro fico até a pensar que os autores escrevem as obras não tanto porque de facto divulguem conhecimento, mas para cumprir o muito antigo preceito de que andar pela vida só tem sentido se se plantar uma árvore, se se for pai ou mãe e se, mesmo que seja no fim do percurso, se escrever um livro.
Claro que o mundo da publicação de livros é um universo algo complexo, que se desenvolve de diferente maneira nos diferentes países. O Brasil é um dos muitos sítios onde publicar parece fácil, e se de lá vem muito boa obra, também é facto que oiço, aqui ou ali, algumas queixas quanto a fidedignidade do que é publicado. Bem, aqui não quero tecer conjeturas a propósito, e se fiz esta introdução ao tema que quero trazer à colação é porque, desta vez, fui mesmo surpreendido.
Passava por uma das muitas livrarias da Feira do Livro de Lisboa e eis que os meus olhos esbarraram num livro de tamanho pequeno, de capa amarela, onde, num fundo preto se vê, bem desenhada, uma linda concha, no interior da qual emerge, bem figurada, uma pérola. A simbologia do desenho pareceu-me desde logo bem sugestiva. Mas o que mais me chamou a atenção foi o título do livro. Waldo Vieira, seu autor, chamou à obra “O que é a Conscienciologia” e a obra foi publicada no Brasil, na Foz do Iguaçu, em 2012, para cumprir a 4ª edição. Ora, eu, que tenho andado tanto à volta das questões da mente, fiquei logo preso ao título do livro. Waldo Vieira não coloca o referido título em jeito de pergunta.
Ao invés, aborda a questão como algo de cientificamente bem estudado, e procura explicar o que é mesmo esta ciência. O autor é médico, formado em Medicina e Odontologia, e possui uma pós-graduação em Plástica e Cosmética tirada numa das instituições prestigiadas do Japão. Na sua terra propôs as ciências Projeciologia e Consciência e atualmente dedica-se a desenvolver pesquisas e a fazer tertúlias diárias online no Tertuliarium do Centro de Altos Estudos da Conscienciologia - CEAEC, Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil. No livro, que acabei por comprar, lê-se ainda que sendo o autor especializado em Lexicografia, coordena equipas de pesquisadores no desenvolvimento da Enciclopédia da Conscienciologia. Pois é meus amigos, confesso que ao ler esta obra fiquei surpreendido. Não porque já não soubesse que lá pelos lados do Brasil existe muita gente a meter o dedo nas questões da mente e da consciência.
Porém, confesso que não tinha a ideia de que tanto já se vá fazendo num domínio tão partícula do conhecimento. É que a ciência que este médico procura desenvolver como que estende sobre as ditas ciências humanas um enorme espelho no sentido de as levar a entender que o homem não é diferente do Mundo. Ao invés, retém-se do que se lê, que se dele faz parte é porque é pertença do dito Mundo. Então, na aceção do autor, o que importa é estudar os fenómenos na sua amplitude, e esta, para ele, tem uma dimensão cósmica. Vejamos então o que o autor propõe na tal ciência cujo saber procura disseminar. Vou citá-lo com base no que escreve a páginas 12 da dita obra e quando se propõe mostrar como, na sua universidade, procura tornar mais científica a sua invenção ao ter criado a Conscienciometria, disciplina que, na ideia do autor, visa medir os fenómenos que ele e os seus estagiários estudam. Diz o autor:
“Uma das metas da Conscienciometria é identificar as aptidões evolutivas da consciência e estabelecer uma educação autoprogramada para a evolução, através do curso intermissivo, da proéxis, e das muitas dimensões, das existências e dos muitos séculos ou milénios daquilo que ela pensa, sente e energiza, que é a pensenidade”
Bem, meus amigos, as palavras difíceis que o texto contém são mais que muitas, mas uma ideia me deixou a pensar mais que outras. É que afinal, para muitos dos seres humanos que andam por cá, não é só o homem que pensa e tem consciência. O próprio Mundo também disso á capaz, e pelos vistos, segundo essas mentes, fá-lo desde que existe. Ou seja, acreditemos ou não no que vamos lendo, bom é que pensemos que, pelos vistos, quando fazemos o nosso caminhar, quer queiramos quer não, podemos andar mesmo, sempre, bem acompanhados.
Despeço-me com amizade, até ao próximo programa,
Luís Barbosa*
*Investigador em psicologia e ciências da educação
SALPICOS DE CULTURA, uma parceria com a Associação Internacional de Estudos Sobre a Mente e o Pensamento (AIEMP)