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OPINIÃO: «Konrad Lorenz e a agressão», por Luís Barbosa

23/07/2021 às 10:04

SALPICOS DE CULTURA...

Konrad Lorenz e a agressão”

A forma como hoje se relacionam os seres humanos é bem diferente da que era usada há cerca de quarenta anos atrás. É um facto, e a liberdade na maneira de nos darmos uns com os outros parece ter vindo para ficar. Não teço em relação aos modos de estar de quem quer que seja juízos de valor, e até penso que a referida liberdade é consequência de um ganho significativo na história dos preconceitos sociais.

Contudo, olhando para o que de importante nos é transmitido pelas notícias do dia a dia, acabo sempre, ou quase sempre, por ficar com a ideia que embora o ganho anterior seja uma realidade concreta, não menos o é o facto de vivermos um momento em que a sociedade aparece como um contexto algo agressivo.

Então formulo o juízo que se o ganho de liberdade está instalado de forma muito expressiva, também é real que a agressividade entre os humanos se instalou duradouramente. Por mim tenho pena que assim seja, e até não me importo que seja eu que esteja a pensar erradamente.

Por via do que acima deixo expresso tenho feito da temática da agressão uma leitura recorrente e os meus olhos têm passado por alguns livros que tratam o tema de múltipla maneira. Verdade se diga que alguns deles contêm um discurso algo moralista que não me agrada, já que gosto mais de olhar para os nossos comportamentos agressivos como algo que ainda espelha a relação primeira com instintos que sendo ancestrais, ainda transportamos.

Konrad Lorenz é investigador e cientista a quem recorro com frequência. Dirão alguns que é homem do passado, mas eu digo que sendo já antiga referência, parece-me que deixou escrito muito saber que deve ser lido com intenção.

Uma das suas obras que teve no contexto literário português divulgação mais cuidada foi a titulada “Agressão” – Temas e Debates, publicada pela Moraes editores em 1974. Do seu conteúdo tenho feito algumas anotações, mas a que mais me interessou sublinhar é aquela em que o autor trata a temática da agressividade como sendo algo que remonta ao instinto de combate do animal e do homem, e quando este mesmo instinto é dirigido aos seus semelhantes.

É muito particular a maneira como o autor trata o tema, mas o sublinhado maior respeita o facto de pensar que o estudo da conduta dos animais pode indicar-nos os perigos que é possível evitar. Repare-se que a preocupação do autor não é que se estudem os animais para que se deixe de possuir comportamentos de respostas às afrontas que possam ser feitas, mas ao invés, para que, embora se tenha a capacidade de defesa contra a agressividade alheia sejamos capazes de manifestar defesas que se afirmem manifestações verdadeiramente dissuasoras.

Talvez pelo que acima deixo expresso o autor trate o tema com humor. Exemplo do que refiro é o facto do Konrad Lorenz dissecar os cerimoniais lúdicos dos casamentos dos gansos selvagens como manifestações de enorme beleza, ver nos contactos intencionais de natureza territorial de certos peixes autênticas manifestações de celebrações sociais, ou entender as inibições quase morais que se manifestam nas assembleias dos lobos quando em causa está decidir vantagens ou ganhos conseguidos como comportamentos de negociação entre pares.

Gosto deste autor e uma das expressões que mais me agradou desde que o comecei a ler vem expressa na contracapa da refira obra. Nela é dito, passo a citar: “Aquele que conhece verdadeiramente os animais é por isso mesmo capaz de compreender plenamente o carácter único do homem”.

 

Despeço-me com amizade,

 

Luís Barbosa*

 

*Investigador em psicologia e ciências da educação
SALPICOS DE CULTURA, uma parceria com a Associação Internacional de Estudos Sobre a Mente e o Pensamento (AIEMP)

 

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