SALPICOS DE CULTURA....
«Saber científico e armadilhas»
Quando nas conversas se fala de forma despreocupada, fica-se muitas vezes com a ideia de que as temáticas são afloradas sem se ficar com a ideia de que a abordagem se enquadra em contextos nada simples. Penso que é normal que assim seja, e até acho saudável que, ao conversar, se retire a carga que faz com que muitas vezes a conversa se torne pesada e até mesmo frustrante. Porém, no domínio académico, diga-se, reconheço que quando se fala de pessoas é bom ter-se em consideração um pouco da sua história de vida. Porquê? Porque nesse domínio, ao falar-se do que alguém fez, ou faz, o contexto em que desenvolveu as suas ideias acaba, normalmente, por ser decisivo no que de conhecimento científico constituiu.
Há dias, aconteceu que em conversa de amigos, Einstein veio à baila, não tanto para dele se falar, mas mais para se chamar à colação as questões em torno da relatividade. A temática foi levantada na sequência de alguém ter visto na televisão um programa sobre coisas que se vão descobrindo à volta de planetas, e da forma como algumas das questões que o cientista referido terá dito. Uma das ideias que transcorreu foi a de que, pese embora ter sido um estudioso profundo da forma como o nosso universo funciona, não terá tido vida fácil para afirmar as suas ideias. A outra foi a de que ao tempo em que se tornou profundo observador do mundo, quanto às ideias que defendeu, estava muito avançado. Porém, uma terceira ideia deixou expresso o sentimento que a sua ligação à descoberta da energia atómica ter-lhe-á custado grandes dissabores.
Chegado a casa resolvi rever alguns dados sobre a vida e obra de Einstein. Não me foi difícil fazê-lo, não apenas porque ainda retenho algumas notas que fui coligindo sobre o investigador, mas porque hoje basta carregar no botão do computador, e de toda a gente se sabe a sua vida e obra. Einstein foi grande na sua dimensão científica, é um facto, mas o que talvez se não tenha muito presente é que o conhecimento científico que adquiriu correu paredes meias com uma vida extremamente atribulada.
Na Wiquipedia lê-se que o cientista nasceu de uma família humilde, trabalhadora, mas ao tempo marcada por negócios que não corriam bem. Por via disso foram várias as viagens que teve de fazer acompanhando os pais na busca demelhores sustentos. Conseguiu obter uma educação formal em Munique. Contudo, na escola as coisas não corriam, nem bem, nem mal, as notas oscilavam entre as assim-assim e as menos boas. Porém, cedo se lhe descobriu grande pendor para as coisas da Matemática e das matérias mais exatas. Mas as ausências às aulas, pese embora muitas delas fossem para se dedicar ao estudo do que mais gostava, fizeram dele um aluno marcado.
Formou-se em Matemática e Física, e conseguiu mesmo ser professor assistente. Porém, o desemprego perseguiu-o, e não fora um amigo, teria tido mais dificuldades de vida. Esse seu amigo conseguiu que Einstein se empregasse num departamento oficial de patentes, em Berna, ganhando um salário modesto. Contudo, movido pela intuição que lhe fervia na alma, continuou estudando, e em 1902 iniciou os estudos para o seu doutoramento. Findou este percurso em 1905 e logo de rajada resolveu publicar quatro estudos no domínio da Física.
O êxito dessas suas abordagens foi de tal forma que ainda hoje se diz que o ano em que esses estudos vieram a público foi “um ano miraculoso”.Einstein foi prémio nobel da Física e morreu em 1955, tinha 76 anos de idade. Contudo, pouco antes de partir, pese embora ter deixado um legado de conhecimento científico imparável, teve a oportunidade de dizer a um amigo que partia coma mágoa de ter visto as suas ideias sobre a energia nuclear ligadas à feitura de instrumentos que tanto mal fizeram à humanidade. Sobre este assunto muitas são as conjeturas que se fazem, já que o cientista é visto como um dos maiores lutadores pelas causas pacifistas. Por isso, dizem alguns, que aqui terá sido o poder político que dele se aproveitou para levar a sua avante.
Bem, a história está cheia destas diatribes, e não raro é timbre que o aproveitamento armadilhado por alguns das ideias que os investigadores tornam emergentes, é facto recorrente. Contudo também se pode dizer que o poder da verdade que o saber científico vai destapando faz com que a parte boa do que se descobre venha sempre à superfície.
Despeço-me com amizade,
Luís Barbosa*
*Investigador em psicologia e ciências da educação
SALPICOS DE CULTURA, uma parceria com a Associação Internacional de Estudos Sobre a Mente e o Pensamento (AIEMP)