São milhares as pessoas que se deslocam durante as celebrações da Semana Santa à vila de Sardoal. O clima de introspeção, aliado ao misticismo desta época de fé e religiosidade, entranha-se na vila e sente-se em todo concelho. Sardoal está engalanado com o roxo. Virá o vermelho e o amarelo quando acontecer a Ressurreição. Fomos conhecer os pontos altos desta festa com o presidente da Câmara Municipal de Sardoal, Miguel Borges.
- Vem aí mais uma Semana Santa. De que forma Sardoal se prepara para este momento?
Com todo o empenho, não só do Município mas também da população em geral, das diferentes Irmandades e das associações. Isto porque é um momento que todos aceitamos como um dos pontos altos da nossa vida comunitária. Não só no âmbito da fé e da religiosidade, com tudo o que acarreta para quem é crente, mas também no âmbito de rever e encontrar pessoas. É que nesta altura todos os caminhos vão dar ao Sardoal. Não só daqueles que nos visitam mas também dos sardoalenses que estão longe e que nesta altura do ano gostam de vir à terra. Também é uma altura em que todos nós nos preparamos para mostrar aquilo que de bom temos, não só no nosso património material mas também no imaterial.
- Que sente o presidente da Câmara nesta altura, com toda esta preparação e carga emocional?
O presidente da Câmara sente uma grande responsabilidade. A responsabilidade de quem gere com a equipa e os funcionários os destinos deste Concelho, numa altura em que todos nós nos engalanamos para receber os milhares de pessoas que vêm ao Sardoal. É uma grande responsabilidade mas, ao mesmo tempo, um grande orgulho e uma grande honra participar como o cargo o permite nesta tão importante altura do ano para a nossa comunidade.
- Sente-se no ar o clima de introspeção próprio da data?
Eu julgo que sim. Mesmo os não crentes não conseguem ficar indiferentes a toda esta mística e ao clima envolvente. Dou um exemplo: a Procissão dos Fogaréus. Ninguém fica indiferente ao que acontece, com as luzes apagadas, as velas, os painéis, o barulho das varas dos Irmãos da Misericórdia, o som da Filarmónica União Sardoalense… cria-se um clima que para quem é crente tem um valor acrescido mas que, por outro lado, também se sente que estamos em festa.
Por outro lado, não estamos apenas a falar de fé e religiosidade mas também de património, neste caso, imaterial. É importante não só preservar mas, acima de tudo, transmitir aos mais novos toda esta mística, todo este sentimento para que sintam cada vez mais que isto também é deles, é da terra deles, faz parte deles e é importante que o sintam.
- Nota-se a presença de jovens nestas festividades?
Com muita frequência os vemos e cada vez mais. O número de jovens vai aumentando nas capelas, onde desenvolvem o seu projeto, quer da escola quer da sua área de residência. Há um grande entusiasmo da parte dos jovens e isto leva-nos a pensar que, realmente, o futuro está garantido. Nas procissões também vemos um número crescente de jovens que vão vestidos como anjinhos ou que vão acompanhando, por isso, é uma tradição que, felizmente, não está perdida e tenho a certeza que vai ter força e vai crescer.
- É uma comemoração religiosa mas atrai muito mais gente, para além dos católicos…
Claro. E para que tenhamos tudo isto durante muitos anos, há algo que é de fundamental importância. Ter um enorme respeito pela essência destas festividades, ou seja, tem de haver um enorme respeito por aquilo que é a fé e a religiosidade, mesmo para os não crentes. Havendo isso e as pessoas conseguirem estar em comunhão em respeito mútuo, é garantia de que as coisas vão resultar.
- As capelas, as procissões, a encenação ao vivo… são marcos importantes. O voluntariado é aqui fundamental?
Sim. Toda a população, em geral, se envolve mas, particularmente, aqueles que desenvolvem os tapetes de flores nas capelas. O que era tradição era nas igrejas e capelas da vila mas, há três anos a esta parte, nós lançámos o desafio a todo o concelho e todas as capelas das freguesias também são agora enfeitadas com tapetes de flores. Claro que tudo gira em volta da essência da religiosidade mas depois temos também a Filarmónica, que tem um papel fundamental, a Fábrica da Igreja, as diferentes Irmandades, o GETAS e a população que sabe muito bem receber e se empenha com orgulho naquilo que é o seu conhecimento e a sua forma de ser. É de um empenho enorme de todos os sardoalenses.
- Que atividades mais se destacam nestas celebrações?
A Procissão dos Passos porque é a primeira de todas. A Procissão dos Fogaréus, porque é diferente. Mas há ainda a Procissão do Enterro do Senhor e a Procissão da Ressurreição. Todas têm o seu significado, a sua beleza e o seu colorido diferente. No sábado, acontece mais uma vez a recriação da Paixão de Cristo, pelo GETAS, e vamos ter ainda duas exposições, uma de arte sacra e outra de trabalhos de alunos do Agrupamento de Escolas. Destacaria ainda o concerto da Filarmónica, no dia 22 de abril, e o Passeio Pedestre a que chamamos “Caminhos de Fé” e que fazemos sempre nesta altura. Ainda aquilo que é uma tradição do Sardoal, que é o quiosque da venda de amêndoas, pois era tradição no Sardoal, durante a Páscoa, os namorados oferecerem amêndoas às namoradas.
- Com o Turismo Religioso a ganhar espaço na sociedade, até onde pode ir Sardoal?
Há um objetivo claro de desenvolvimento do Sardoal através do Turismo, no âmbito da fé e da religiosidade. E a Semana Santa, no Sardoal, é diferente. Queremos dar passos pequenos mas sustentados e sustentáveis para que, um dia, não transformemos tudo isto em algo que descaracterize esta nossa festa.
- São os últimos meses deste primeiro mandato. Que mensagem quer passar aos sardoalenses?
Que nestes últimos meses ainda temos muito trabalho para fazer.
Patricia Seixas