A receção começa sempre cedo. Logo depois das 09 da manhã. Os convidados vêm dos quatro cantos de Portugal e, este ano, contam com uma representação de “nuestros hermanos”.
O III Capítulo da Confraria do Bucho e das Tripas do Pego aconteceu no sábado, 10 de maio, e juntou 22 confrarias na capital do petisco. E quando se fala em capítulo fala-se do acontecimento de entronização de novos confrades, que é como quem diz, a entrada de novos elementos que vão vestir o capote e chapéu azul e que juram defender o bucho e as tripas.
As portas da Junta de Freguesia abriram-se para começar a receber os convidados. Como vêm de todo o país, há sempre umas horas para os receber com uma mesa farta, ou não fosse uma confraria gastronómica. E mesmo para o pequeno-almoço, bucho, tripas e enchidos não podiam faltar ao arranque do evento.
Pelas 11:30 rumam à Igreja de Santa Luzia, a matriz do Pego, onde todos são recebidos pelo Rodrigo Costa que canta a marcha da aldeia das casas baixas.
O padre Adelino Cardoso fez o acolhimento de todos e marcou o arranque da cerimónia. Recordou os outros momentos anteriores, ou seja, os outros capítulos de uma confraria que pretende avivar memórias e sabores.
Padre Adelino Cardoso
A presidente da Junta de Freguesia do Pego, “Bia” Salgueiro, destacou a importância da confraria e do evento para a sua aldeia, dizendo que sabe bem o que é “vestir o capote azul, porque a filha também é uma das confrades.”
António Mor, presidente da Assembleia Municipal de Abrantes, destacou, igualmente, o trabalho feito por uma das associações mais recentes do concelho de Abrantes.
Já o representante da Confraria do Leitão da Bairrada, madrinha da confraria pegacha, elogiou o trabalho que está a ser feito, passo a passo. E pediu mais união das confrarias de Portugal.
Daniela Canha, a Grão-Mestre do Bucho e das Tripas fez os agradecimentos da praxe, tendo destacado o trabalho que tem vindo a ser feito pela confraria. E não esqueceu as outras associações da aldeia que colaboram neste evento.
Mas o momento esperado por todos é mesmo a cerimónia de entronização. Cada novo confrade é chamado Altar da Igreja para fazer o juramento perante o Chanceler-Mor. Este, com a sua colher de pau, que representa o bordão da confraria, e toda a plateia. O novo confrade a repete os mandamentos a que fica obrigado:
“Juro em consciência e honra defender em qualquer momento e lugar a gastronomia do Pego.
Juro defender as tradições, costumes e produtos da nossa aldeia.
Juro ainda manter uma relação de fraternidade, amizade e respeito entre todos os confrades.
Juro promover o bucho e tripas nem, que para isso, faça das tripas coração.”
Depois desta “aceitação” dos mandamentos o “Chanceler-Mor” faz o “decreto”: “Pelos poderes que me foram confiados, entronizo-te e dou-te poderes para representar a Confraria do Bucho e Tripas. Bem-vindo à Confraria.”
A fechar a cerimónia o padre Adelino Cardoso deixou uma mensagem aos cinco novos confrades entronizados. E deixou ainda a nota sobre uma série de mensagens que os convidados que foram discursar deixaram. Notas para a humildade necessária ao trabalho que, todos, têm pela frente e uma outra a união, processo fundamental para qualquer percurso. Porque, disse o pároco, se uma pessoa sozinha pode andar mais rápido, em grupo, unido, chega mais longe.
Padre Adelino Cardoso
Feita a cerimónia, houve ainda tempo para cultura da aldeia das casas baixas. Ou não fosse o Rancho Folclórico do Pego uma das marcas desta aldeia. E foi, como antigamente, no adro da Igreja que se bailou. Foram três modas, apenas como demonstração do que eram as tradições da terra. E, tal como nas atuações, uma das modas teve demonstração, para depois os bailadores e baladeiras largarem os pares e irem à plateia encontrar um outro homem ou mulher para experimentar. Naturalmente que os alvos dos elementos do Rancho foram os representantes das 22 confrarias que apreciavam o momento.
Depois da dança os céus abençoaram o Capítulo III com sete minutos de chuva e levou a organização a fazer a foto e família das confrarias no interior do templo e não na rua, como tem sido a tradição.
E antes do almoço o desfile é considerado outro ponto de honra destes eventos. Este cortejo aconteceu entre a Igreja de Santa Luzia e a sede da Junta de Freguesia, passando pelo Largo do Cruzeiro e pela Estrada Nacional 118.
Um almoço foi tradicional e de pleno convívio entre os confrades presentes. O “comer do Pego” esteve representado com uma sopa de couve com feijão, peixe do rio frito com açorda de ovas, não faltou o grão cozido com bucho e, para sobremesa, estiveram presentes as Tigeladas e Palha de Abrantes.
À Antena Livre, Daniela Canha, grão-mestre da Confraria do Bucho e das Tripas do Pego o que foi este capítulo. “Entronizamos cinco novos confrades para defender a nossa gastronomia e o nosso património", explicou a responsável acrescentado que não há obrigatoriedade a cada dois ou três anos fazer um novo capítulo, ou seja, a entrada de novos elementos.
Mas há aqui um valor que não pode faltar. Fazer parte da confraria não é apenas vestir um traje ou dizer que se faz parte, é preciso sempre ter em pensamento a defesa da gastronomia do Pego. E não está em cima da mesa o bucho e as tripas. Daniela Canha diz que o Pego é sinónimo de petisco, pelo que há muito a defender pelos confrades. E, porque uma das tradições do Pego, às quartas e aos sábados era sempre a matança do porco, com todos os petiscos que daí foram crescendo.
22 confrarias presentes no Capítulo é um número muito bom, tanto mais num fim de semana, explicou a Grão-Mestre, com diversas iniciativas de outras confrarias. “São as mesmas que tivemos no Capítulo anterior” e este ano com a presença, pela primeira vez de uma confraria espanhola.
A Confraria do Leitão da Bairrada é a madrinha da pegacha e os responsáveis presentes na festa deixaram os parabéns pelo caminho que está a ser feito. O conselho é não desviar caminho e manter sempre o foco no objetivo para o qual os confrades se juntaram.
A Confraria do Bucho e Tripas do Pego tem sete anos, mas já tem história. Para além dos três capítulos realizados, têm dezenas de representações em iniciativas de outros grupos de defesa da gastronomia e já lançaram um livro sobre as tradições e a gastronomia pegacha: “O que é o comer”. E o comer é mesmo o almoço ou jantar, porque ali p’la aldeia não se pergunta o que é o almoço, mas sim “o que é o comer?”
Daniela Canha, Grão-Mestre Confraria
E para se ter uma noção do país presente no Pego, eis a lista das Confrarias:
Real Confraria do Maranho
Confraria da Foda
Confraria da Ovelhã
Confraria do Carneiro e das Sopas do Verde
Confraria do Pão da Regueifa e do Biscoito de Valongo
Confraria do Queijo Rabaçal
Confraria do Frango da Púcara
Confraria Gastronómica dos Carolos e das Papas de Milho
Real Confraria Gastronómica das Cebolas de Castelo da Maia
Confraria de Gastrónomos do Minho
Confraria do Atum de Vila Real de Santo António
Confraria Gastronómica de Almeirim
Confraria do Grão Vasco
Confraria Etnogastronómica da Ilha da Madeira
Confraria do Arroz Doce de Maiorca
Confraria da Enguia de Salvaterra
Confraria Gastronómica do Leitão da Bairrada
Confraria do Galo de Barcelos
Confraria da Caldeirada de Peixe e do Camarão de Espinho
Confraria Del Bonito Del Norte - Colindres - Espanha
Confraria do Arroz doce de Almalaguês
Confraria do Arinto de Bucelas
Foi o III Capítulo para entronização de mais cinco confrades. A Confraria do Bucho e Tripas tem agora, como sete anos de existência, 32 confrades que Juram promover o bucho e tripas nem, que para isso, tenham de fazer das tripas coração.
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