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“O grande investimento do Sport Abrantes e Benfica é nas pessoas”

8/04/2021 às 10:08

De braços cruzados, à espera de uma decisão e a viver na incerteza. Esta é a realidade dos responsáveis pelos clubes desportivos de todo o país. Em Abrantes, o Sport Abrantes e Benfica (SAB) é o clube que alberga mais atletas, desde os escalões da formação aos seniores. Paulo Neto é o presidente do clube e falou ao Jornal de Abrantes.

Ricardo Beirão e Patrícia Seixas

Como se vive a realidade de um clube desportivo por estes dias?

Estas incertezas fazem com que nós estejamos, nesta altura, de braços cruzados, à espera do desenrolar da Associação de Futebol de Santarém, através da Federação Portuguesa de Futebol. Sei que andam a envidar esforços no sentido de retomarmos a atividade com as devidas precauções e é disso que estamos à espera. Aguardamos por ordens da Associação para podermos começar os treinos e, de seguida, as competições.

Há compromissos que foram assumidos com atletas e com patrocinadores. Como é que tudo isto é gerido?

Pois, isto está muito complicado porque está tudo estagnado. Todos os compromissos que assumimos foram na eventualidade de os campeonatos serem normais, mas nesta altura não há nada normal. Há um futuro de incerteza e, como tal, está tudo parado, tanto os patrocínios como os compromissos que tínhamos.

Como tem sido a relação com os patrocinadores? Têm sido compreensivos, tendo em conta o panorama que se vive, não só no desporto mas a nível nacional?

Nesta altura estamos parados e não estamos a fazer grandes esforços porque não temos novidades nem informações para dar. Sabemos que, como sempre, e esse é um trabalho nosso, mas não temos grande mobilidade financeira nem como dizer aos nossos patrocinadores para continuarem a apoiar a equipa porque está tudo parado. Quando iniciarmos, teremos que voltar à carga, sabendo que a cidade de Abrantes ao nível do futebol, não é uma cidade apetecível para esta modalidade. Há muitos constrangimentos e agora temos as empresas com falta de liquidez, o que também vai ser outro grande problema mas havemos de lutar e chegar a bom porto.

“Não podemos fazer qualquer previsão porque o que hoje é verdade, amanhã pode ser mentira”

Visto que os seniores ainda vão tendo alguma atividade, como se gerem as expetativas dos atletas mais novos, da formação, e dos pais?

São crianças que gostavam de ter alguma atividade e não têm…
É muito difícil até porque temos pais a fazerem-nos perguntas constantemente e para as quais não temos respostas. Vamos tentando passar a informação que nos é facultada e é esperar… esperar para ver no que isto vai dar. Ainda hoje, não podemos fazer qualquer previsão porque o que hoje é verdade, amanhã pode ser mentira. Estamos a pensar que em abril haja novidades, mas é tudo uma incerteza.

Perspetivando-se em abril a abertura dos campeonatos mas para os mais velhos, vamos ter uma geração de mais novos a perderem um ano, ou mais, de atividade desportiva…

Sim, no fundo são duas épocas desportivas que se perdem nas camadas de formação mas, em Portugal, estamos todos em pé de igualdade. Foi igual para todos. No entanto, sabemos que os nossos atletas perdem forma e perdem a qualidade técnica devida. São dois anos da vida desportiva que eles perdem e não sei se será fácil recuperá-los. Tenho ouvido comentários que dizem que se perde qualidade com esta paragem. Temos que esperar para ver como vai ser no futuro.

“Como não damos o passo mais longo do que a perna, estamos preparados para tudo”

Atualmente, o Sport Abrantes e Benfica tem seniores, algo que já tinha acontecido no passado, mas a rica história do clube centenário é de formação. Como é que um clube que é formador, se vê sem aquilo para que nasceu?

A nossa índole é a formação, sem dúvida. Arriscámos na competição com os séniores, não estamos arrependidos e estamos com toda a força neste escalão. Mas relembro que é tudo por carolice dos nossos diretores e treinadores de quem esperamos sempre o bom senso e o bom profissionalismo de quem está no futebol por prazer.

“São duas épocas desportivas que se perdem nas camadas de formação”

Muitas vezes ouvimos os dirigentes dos clubes dizerem que está difícil o recrutamento de novas pessoas para ajudar no dirigismo. Esta pausa, que afasta também os pais do dia-a-dia do clube, poderá ser também prejudicial na angariação de novas pessoas?

Sim, nomeadamente houve muitos atletas que enveredaram por outros desportos que se podiam fazer nesta altura, mais isolado e mais individual, e vai ser difícil trazê-los de volta porque foi a atividade deles nestas duas épocas. No entanto, sabemos que a maioria tem o sonho do futebol e há-de voltar para o futebol. Mas, mais uma vez, estamos de igual para igual. Os nossos problemas também hão-de ser os problemas dos outros clubes. Até agora, era apanágio do Sport Abrantes e Benfica ter as equipas todas, e alguns escalões até com mais do que uma equipa, vamos ver o que conseguimos fazer mas tenho a certeza que tenho o pessoal todo empenhado e cada vez com mais vontade de retornar ao futebol.

Esta paragem trouxe o afastamento de diretores e potenciais diretores?

No início desta época, como só houve futebol sénior, só constituímos equipas técnicas e de direção nos seniores. Também foi só o que fizemos a nível de jogadores e com esses contamos e sabemos que também estão a contar connosco.

Como presidente do Sport Abrantes e Benfica, qual é o seu principal anseio, tendo em conta a conjuntura que se está a viver?

Mais do que um anseio, é o meu receio de que as coisas não voltem à normalidade esta época. Não sabemos nada, o futuro mais próximo o dirá. Só sabemos que estamos à espera a todo o momento que possamos abrir as portas para começar a treinar e poder constituir a equipa para o campeonato. É isso que nos interessa, é preparar jogadores, técnicos, diretores. Esta situação não é benéfica para ninguém e nós sabemos mas vamos tentar dar o nosso melhor.

“Houve muitos atletas que enveredaram por outros desportos (…) e vai ser difícil trazê-los de volta”

Ouvimos os responsáveis pelos clubes dizerem que, com esta situação no futebol distrital, a situação financeira dos clubes se agrava e alguns colocam mesmo em causa a sua continuidade. O Sport Abrantes e Benfica também está nesta situação? Poderão estar em risco alguns escalões de formação na próxima época, caso haja futebol? Como está a saúde financeira do clube?

Como nós nunca demos o passo mais longo do que a perna, posso dizer que o clube não está bem, mas também não estamos mal. Não devemos nada a ninguém, até porque o grande investimento do Sport Abrantes e Benfica é nas pessoas. Não temos as normais despesas com atletas nem com treinadores. As nossas despesas são com combustíveis para as carrinhas que transportam os jogadores, são com taxas de jogos, e taxas inerentes à competição. Como tal, como não há jogos, não temos receitas mas também não temos despesas. E como não damos o passo mais longo do que a perna, estamos preparados para tudo. Planeamos época a época, nunca podemos antecipar a época seguinte. Se tudo voltar à normalidade, nós vamos até ao fim da época sem problema nenhum. Não quero falar em muita saúde financeira, mas com o esforço de todos da direção, técnicos, jogadores – porque não fazemos investimentos nem entramos em loucuras salariais nem coisas do género – vamos conseguir. Se começarmos a jogar, as despesas são as inerentes aos treinos e à competição.

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