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Cascata renova restaurante e mantém gastronomia como o maior património (c/áudio e fotos)

18/04/2023 às 18:22

“Mudou o visual todo. Foi todo reestruturado. Acho que evoluiu no tempo.” É desta forma, simples, que Fernanda Martins, com um sorriso a rasgar a face, explica o que é que estava prestes a acontecer.
Foi sexta-feira, dia 14 de abril, à tarde que o Restaurante Típico “A Cascata” escolheu como momento certo para mostrar a um núcleo restrito de convidados, entre entidades locais, fornecedores e amigos, a reestruturada sala do primeiro andar do restaurante que estavam em obras.

“Sentimos a necessidade de transformar esta sala. Era para ser há 4 anos, mas a pandemia veio mudar essa intenção. Era o meu sonho... e da filha, e do marido. Foi muito bom chegar aqui”, explicava Fernanda Martins que entre a conversa com os jornalistas e a chegada dos convidados ainda teve tempo para uma sessão de fotografias “para mais tarde recordar” e para corrigir aqui e ali o posicionamento deste ou daquele prato. Afinal de contas o dia era de festa e a anfitriã queria mostrar que mudou a sala, mas não mudou o grande mote que é a Gastronomia em primeiro lugar.

Fernanda Martins dividia-se em sorrisos e agradecimentos pelas felicitações a quem entrava na sala e a ia cumprimentar. “É um momento de festa. Estão cá os fornecedores. Todos. E os amigos mais chegados.”

E para reforçar a importância há quatro fatores que aplica nesta nova sala. A principal é, sempre, a gastronomia. E na arte de bem servir ou de bem comer, depende da perspetiva, Fernanda Martins diz que continua a ir à cozinha e meter a mão na massa: “Gosto de cozinhar.” A segunda continua a apontar à gastronomia com a presença, à entrada da sala, do traje da Confraria Gastronómica do Ribatejo, à qual pertence desde 2006.

Depois, há um pilar no restaurante que tem o resumo da história de vida deste casal que se mistura com a história de vida da Cascata. E o quarto fator é a decoração que o espaço teve, depois da remodelação. De acordo com Fernanda Martins, a decoradora que preparou a proposta foi ao encontro das ideias que a proprietária tinha.

Apesar de o espaço interior não estar com o desenho habitual de um dia a servir refeições, para ver o ar refrescado. Se lhes juntarmos a decoração das mesas com as entradas, doces ou fruta, então aí temos a produto final desta intervenção.

Fernanda Martins foi explicando que sentiam a necessidade de mudar. E até poder casar a expressão de mudar com expandir. “Para mim o dinheiro não conta”, diz Fernanda Martins, “não é tão importante como a evolução das coisas.”

Ao longo dos meses da intervenção, que começou em janeiro, Fernanda confessa que quase todos os dias acompanhou as obras do primeiro andar.

Agora que abriu portas, no domingo, dia 16, Fernanda Martins explicou que o conceito vai manter-se o mesmo, como sala “à carta” ou para grupos. As diárias mantêm-se no rés do chão.

Fernanda Martins à conversa com os jornalistas

Também nas ementas não há alterações. A responsável explica que pode mudar um prato ou outro, mas sem grandes mexidas.

Atualmente a Cascata pode trabalhar com cinco espaços, os quatro em Chainça, rés do chão e esta sala que se juntam a mezzanine e o Salão Jardins da Cascata. E depois junta-se ainda o espaço Sabores da Cascata, em Abrantes. O restaurante tem uma capacidade para 120 pessoas.
“Eu acho que nasci para isto. Lecionei durante 34 anos, em conjunto com a existência da Cascata. Houve alturas que assumi a cozinha sozinha”, explica Fernanda Martins e acrescenta logo a seguir que gosta “de cozinhar. De meter a mão na ‘massa’ e de ajudar a ‘construir’ o menu.”

E logo de seguida entramos na cozinha, no reino de Fernanda Martins. “Eu cá não sou muito de modernices. Gosto da cozinha tradicional toda. Os maranhos nós é que confecionamos tudo, as tripas. Nós é que temperamos a carne.”

E para a reabertura da Cascata há produtos da Artelinho, com pão e tigeladas, e depois os pratos “com as nossas receitas.”

Fernanda Martins não esconde que quando entra na cozinha há sempre “dicas a dar” porque revela que “estamos todos os dias a aprender coisas novas. O cozer o arroz, o tempo de cozedura da massa. Ouça, a cozinheira que temos começou a lavar pratos. Já lá vão 30 anos.”

“Gostava que as pessoas dissessem está uma sala bonita. E gostava que viessem mais pessoas de fora”, revela Fernanda Martins.

E vamos ao que interessa. A pergunta foi simples e a resposta imediata. Que sugestões faz para uma refeição? “O nosso cabrito que é muito bom. A nossa miolada que mais ninguém faz. Os nossos maranhos e bucho. O nosso peixe, com a maionese de tamboril ou o ensopado da garoupa. Temos o bacalhau com crosta de broa e as nossas migas. As migas da minha mãe, que já muita gente passou por aqui e levaram a receita. Faço migas com bacalhau ou com carne grelhada.” E doces? “Temos a nossa charlotte de chocolate, o pudim de gemas (o abade de priscos), o cheesecake, a Palha de Abrantes e as tigeladas da Artelinho.”


Fernanda Martins faz parte da Confraria Gastronómica do Ribatejo. Sobre a presença do traje de confrade, à entrada desta sala, explica, com alguma mágoa, que Abrantes “se esqueceu disto. Por isso quero avivar a memória. Fui eleita em 2006 e depois esqueceu-se isso. Elisete Jardim é que me fez o convite e eu aceitei, com muito gosto”, diz a confrade. Depois da pandemia, aguarda-se que confraria possa voltar às atividades normais.
E o pós-pandemia, se é que já podemos dizer isto, está, diz a empresária, a correr muito bem ao nível de grupos e de serviços.

A reabertura da sala da Cascata contou com um único discurso. Carolina Cardoso. Neta de Fernanda Martins, ou a terceira geração da Cascata, uma vez que a filha, Carla Martins, assumiu em 2000 a gestão da empresa.

E foi um discurso simples, direto e com os agradecimentos que entenderam terem de ser feitos, como à arquiteta Ana Barral, autora do projeto, ou a decoradora Teresa Matos, sem esquecer os colaboradores (cerca de 30) e, naturalmente, a família, como pilar base e histórico da empresa.

São 40 anos. 40 anos é uma vida. E uma vida com um caminho que foi sendo desbravado a partir de 1975. Muito antes, portanto, da data que é assinalada como o ponto de partida para esta caminhada que resulta numa cascata de decisões, risos, choros, emoções ou ansiedades.

Ainda antes dos 40 anos, agora evocados, José Maria Martins regressa de Angola, colónia onde trabalhava na área dos tecidos. Em 1982 ruma a Lisboa para gerir um restaurante, mas um ano mais tarde, em 1983, regressa à sua terra para com a sua mulher “meterem” as mãos na massa e, juntos, darem o salto com a abertura de um espaço próprio. Foi a 25 de dezembro de 1983 que nascia este espaço onde se podia comer bem.

O início, como todos os princípios, foi devagarinho. A mulher, Fernanda, dividia o tempo entre a escola, onde era professora, e a cozinha. O restaurante tinha apenas o rés do chão. Mas cresceu.

Em 1997-98 conquista o primeiro prémio do concurso do Ano Nacional do Turismo / Gastronomia Património Nacional. Fernanda Martins leva a este concurso um prato de peixe do rio, o achegã grelhado uma coisa que ninguém trabalhava. E nós trabalhamos com o achegã grelhado e com o nosso molho especial. Até porque o segredo é, diz Fernanda Martins, o “molho” que “rega” o peixe. “Eu dou-lhe uma dica que é aproveitar a raiz do coentro. Limpá-la muito bem e depois por a ferver.”

José Maria e Fernanda Martins

O Restaurante Típico “Cascata” está aberto de terça-feira até ao almoço de domingo. Tem a sala das diárias, esta nova sala no primeiro piso, a mezzanine, o salão e o Sabores da Cascata no edifício S. Domingos.

E à saída pode levar a última mensagem da Cascata: “Nesta casa reconhecemos a gastronomia como um dos nossos mais valiosos patrimónios.”

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