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Entrevista JA: Associação Comercial centenária aposta na economia digital (C/ÁUDIO)

5/08/2021 às 12:11
Rui Serras - Presidente Direção ACE

A Associação Comercial e Empresarial (ACE) de Abrantes, Constância, Sardoal, Mação e Vila de Rei foi criada a 16 de julho de 1921, na altura como Associação dos Lojistas de Abrantes. 100 anos depois, a direção atual, com pouco mais de um mês em funções, assinalou a efeméride, mudou a imagem e apresentou as linhas orientadoras para os próximos anos. Rui Serras, presidente da direção, explica nesta entrevista a situação atual da associação e os desafios futuros.

Jerónimo Belo Jorge

 

Começamos pelo Centenário. Foi a comemoração possível de um século, por causa da pandemia?

Sim. Quando chegámos à ACE estava previsto outro tipo de evento, com outra envergadura que envolvia mais pessoas. Atendendo às condicionantes derivadas da pandemia, tivemos de fazer algo um bocadinho diferente, fundamentalmente no envolvimento presencial de pessoas. Penso que a data ficou devidamente assinalada.

Se não fosse a pandemia era, com toda a certeza uma festa diferente?

Sem dúvida. E iríamos envolver os nossos associados e a comunidade no sentido de participar de uma forma mais ativa nesta comemoração.

Esta direção chegou à ACE há cerca de um mês e uma das novidades foi a mudança de imagem? Porquê? Sentiram necessidade de agitar as águas?

Sim. Sem querer tirar o mérito a quem já lá esteve [aliás, só temos a agradecer a todos os que deram um pouco de si à Associação, sem eles não era possível a comemoração do centenário ou estarmos aqui], a mudança de imagem foi para fazer esta passagem do centenário. Sem esquecer o passado, mas projetando o futuro porque temos de olhar para o futuro. Foi nessa perspetiva que fizemos o rebranding da imagem da ACE.

Mantiveram os “cinco concelhos” em união. A nova imagem mantém cinco cores, cinco “pessoas” de mãos dadas…

… cada vez mais temos de olhar para o território de forma mais global, mais abrangente. E foi essa mensagem que tentámos passar com esta alteração, não foi só Abrantes (Mação, Sardoal, Constância ou Vila de Rei) mas todo o território tem vantagem a vários níveis de tomarmos medidas e posições conjuntas. E a ACE o que pretendeu com isto é dizer que também estamos cá para ajudar a que aconteça neste território, que é o território da Associação.

A Associação comemorou 100 anos. A vossa equipa entrou há pouco mais de um mês. Quais são, linhas gerais, os vossos objetivos?

Além de termos a obrigação de manter a Associação viável e a funcionar, temos aqui três ou quatro objetivos definidos. Um deles, desde logo, é a modernização da sede. A sede da ACE foi inaugurada há 30 anos e até à presente data manteve-se igual. Temos também o objetivo de sensibilizar os nossos associados para a economia digital e eco-economia. E a pandemia veio, em parte, acelerar esses processos. Queremos sensibilizá-los, numa primeira fase, e andamos também à procura de parcerias e parceiros para podermos ter soluções para que possam dar este passo. E outro dos objetivos que também temos é trabalhar a comunicação da ACE para os associados e para a comunidade destes cinco concelhos. Desenvolvemos uma série de atividades que acabam por não passar para o exterior ou para os nossos associados.

Rui Serras, presidente, e Pedro Fernandes, vice-presidente, da ACE

Entraram no leme numa fase de desconfinamento. Qual o estado do comércio e empresas destes cinco concelhos?

Em termos práticos, numa primeira fase houve dificuldade de toda a gente em gerir esta situação. Ninguém estava preparado. Mas pouco a pouco todos nós, empresários, temo-nos vindo a adaptar. Já percebemos que nada vai ser como antes e por isso temos de nos adaptar para sobreviver. É uma das leia básicas do universo. Penso que o tecido empresarial tem feito isso. Evidentemente que há setores que foram muito atingidos e não é fácil continuar com o mesmo negócio, viabilizá-lo. Mas temos de procurar oportunidades. Na crise há oportunidades, temos é de as procurar e, parece-me, que tem vindo a fazer isso.

Uma das áreas mais atingidas pela pandemia foi o turismo, mas na nossa região parece que aconteceu o inverso. Principalmente no verão, houve uma grande procura da nossa região e isso deu um alento a este setor. As outras têm-se adaptado e estão a sobreviver. Aliás, o comércio de proximidade tem tido uma procura maior.

Houve muitos encerramentos, insolvências?

Tivemos alguns pedidos de ajuda. Na nossa região não foi assim tão grave. Logicamente foi difícil, mas em termos de associados tivemos um número reduzido que cessou atividade, e não apenas por causa da pandemia. Também por outros motivos.

E novos negócios a abrir, ou em vias de abrir?

Houve e continua a haver a entrada de novos associados. É também um indicador que as pessoas estão-se a adaptar, a lutar contra a pandemia.

 

“... pouco a pouco todos nós, empresários, temo-nos vindo a adaptar”

 

Estes novos negócios representam oportunidades da pandemia, o regresso de pessoas naturais desta região que foram para os grandes centros?

Há. Tem havido. Se procurarmos terrenos em zonas industriais não é fácil encontrá-los. Acho que é um indicador. Há pessoas a regressar às nossas regiões, que tentam vir viver para cá, tanto mais que o teletrabalho tornou-se “mais normal”. Há muita gente que já consegue desenvolver o trabalho aqui e isso tem reflexos no negócio de proximidade.

Pode ser benéfica a vinda de população em teletrabalho? Ou seja, pode acrescentar-se mais empreendedorismo a estas pessoas que estão “de regresso” ao interior?

Queria ressalvar que depois temos os problemas do interior que é não termos nas nossas aldeias a rede de internet ou de telemóvel em condições. Teremos de, todos, olhar para esse fator e ver como é que se pode melhorar. E isso iria criar mais oportunidades, com toda a certeza.

Cada concelho tem um peso diferente, naturalmente, na associação. São áreas territoriais diversas. Como é que trabalham esta realidade?

Os serviços estão disponíveis para todos de igual forma. A sede está em Abrantes, que tem a maioria dos associados. Nos outros concelhos temos tentado, junto dos municípios, estabelecer parcerias no sentido de ter espaços para apoio nas sedes de concelho…

… irem mais às sedes desses concelhos?

… e vamos. As nossas técnicas deslocam-se, periodicamente, a esses concelhos. A pandemia trouxe um corte, mas antes tínhamos deslocações por exemplo à Loja do Cidadão de Sardoal ou ao Gabinete de Apoio ao Empresário de Vila de Rei. Desde que haja a necessidade, tudo temos feito e vamos continuar a fazer para estarmos lá a satisfazer as necessidades.

 

“...a formação é vital. Temos de aumentar competências, se queremos evoluir tem de ser por aí o caminho.”

 

A ACE tem apostado muito em formação. É por aí o caminho?

Vai ser com certeza. A formação é vital. Temos de aumentar competências. Se queremos evoluir, tem de ser por aí o caminho. Além dessa necessidade também para a ACE é importante em termos de viabilidade da própria associação. Daí que é uma aposta e vai continuar a sê-la para o futuro.

O que é que a associação oferece mais aos associados, para além da possibilidade de formação e consultoria?

Para além desta área de formação, certificada e grátis, há uma área de formação/ação mais específicas e dedicadas às necessidades das empresas. Fazemos um trabalho de consultoria para perceber quais as necessidades das empresas e depois tentamos arranjar soluções. E é aí que se enquadra o programa Dinamizar ou o Turismo 2020 [por exemplo no Centenário tivemos uma prova de doces enquadrados numa ação do Turismo 2020]. Depois, temos uma série de serviços que permite a quem pretenda começar um negócio arrancar de forma célere e garantindo todos os requisitos legais. Temos protocolos com diversas empresas [e estamos disponíveis para novos acordos] que possam acrescentar vantagens aos nossos associados.

As ARU’s (Áreas de Regeneração Urbana) que estão em curso na região. Deixem-me puxar para Abrantes, Alferrarede e Rossio. É o instrumento financeiro que faltava para alavancar mais comércio?

Aqui a questão que se coloca sempre, para além do investimento que se cria nessas zonas, é a criação de dinâmicas que permitam criar o fluxo de pessoas. Ou seja, criar polos de atratividade para além das fases iniciais em que todos têm curiosidade de ver, para ver se está bonito ou funcional. Mas muitas vezes o que falha são as fases posteriores aos investimentos iniciais no sentido de criar dinâmicas que permitam continuar a atrair pessoas a esses locais intervencionados. Se conseguirmos criar essas dinâmicas e esses fluxos, teremos naturalmente mais-valias para esses negócios e para essas áreas.

 

"...penso que seria importante entregar uma parte desses fundos [PRR] e dessa gestão às associações e aos municípios”

 

O PRR, daquilo que já se conhece, pode dar uma mão (forma geral) aos vossos associados ou à própria ACE?

Estamos na expetativa para perceber como é que vai ser feita essa distribuição. Já percebemos que não vai ser feita da forma como gostaríamos, mas depois na própria gestão dos fundos vamos ver o que é que vai sair. Penso que seria importante entregar uma parte desses fundos e dessa gestão às associações e aos municípios porque estão mais próximos dos territórios e conhecem melhor as necessidades. Temos essa expetativa e penso que há possibilidade de isso acontecer. E se acontecer, estaremos cá para dar resposta a esse desafio.

Em 100 anos, o que é que poderia já ter sido feito, em vossa opinião?

Tento ver sempre o copo meio cheio. Preferimos olhar para o que foi feito e para o que queremos fazer. Todos os que passaram pela Associação deram o seu melhor, tanto mais que temos uma associação estável e com boas perspetivas de futuro.

Os 100 anos [cerimónia realizada a 16 de julho] tiveram uma evocação da data mas foi uma “festa curta”. Os 101 anos, se a vida pós-pandemia permitir, vão ter uma “grande festa”?

Se for possível, está em aberto. Mas em cima da mesa temos a ideia de fazer vários pequenos eventos em todos os concelhos que fazem parte da Associação. Temos essa vontade.

 

Vera Rodrigues apresentou a nova imagem da ACE

ACE tem 100 anos, 650 sócios e está em 5 concelhos

Francisco Egídio Salgueiro, Francisco Augusto Salgueiro, Agostinho Ribeiro, e Joaquim Figueiredo e Manuel Coelho deram corpo a uma associação que tinha como objetivo reunir e representar os comerciantes de Abrantes. Foi a 13 de junho de 1921 que em Assembleia Geral foram aprovados os Estatutos da Associação Comercial dos Lojistas de Abrantes. Foi a 16 de julho de 1921 começou a funcionar. Durante décadas reuniu os comerciantes de Abrantes, depois foi alargada a Constância e Sardoal, depois a Mação e, mais recentemente, alargou para Vila de Rei.

Pelo meio integrou os serviços e outras áreas de negócio, para além do comércio e dos lojistas. Ao longo dos 100 a Associação mudou o nome para Associação Comercial e Serviços e depois para Associação comercial e empresarial de Abrantes, Constância, Sardoal, Mação e Vila de Rei.

Para assinalar os 100 anos a direção promoveu uma cerimónia, simbólica por causa da pandemia, a 16 de julho. E entre a entrega de lembranças às autarquias, em que a ACE trabalha, e a apresentação do doce "Fardo de Palha", de uma ação que está a ser desenvolvida nos restaurantes da região, houve ainda tempo para apresentar a nova imagem da associação.

A ACE 650 empresas associadas divididos por áreas com o o comércio a retalho e restauração a garantir mais de metade dos sócios. A segmentação é a seguinte: comércio a retalho (27,27%); restauração e similares (25,95%); IPSS e atividades de saúde humana (8,94%); Serviços (8,82%); comércio por grosso (6,78%); industria alimentar e fabricação (5,83%); construção (5,16%); oficinas e comércio automóvel (4,07%); agricultura (0,94%); e outros (6,24%)

Já no que diz respeito ao peso de cada concelho, Abrantes, naturalmente, tem a maior fatia com 69,47%. Segue-se Mação com 13,80%, Sardoal com 8,82%, Constância com 5,20% e Vila de Rei com 2,71%.

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