Eram 25 equipas inscritas, mas só 19 estão em Constância para participar na maior competição europeia de rockets ou de foguetes.
O EuRoC realiza-se em Constância, com o Paddock instalado no Pavilhão Desportivo Municipal e o campo de lançamentos no Campo Militar de Santa Margarida.
O EuRoC 2023 tem esta particularidade de ter pela primeira vez o Paddock em Constância, já que este evento foi lançado em paralelo com o Portugal Air Summit. Só que, como o Air Summit passou a ter realização de dois em dois anos, a Agência Espacial Portuguesa, deslocou o paddock para Constância em anos em que não se realize o festival em Ponte de Sor.
E das 25 equipas inscritas estão apenas 19 em competição. E as outras 6 acabaram por não vir a Portugal por problemas com os projetos. É que o EuRoC tem os ajustes finais dos foguetes e os lançamentos com parâmetros técnicos e científicos, não fugindo às comunicações e ao espectro espacial.
Os alunos universitários das 19 equipas de vários países da Europa começaram a chegar na segunda-feira e instalaram-se em Constância e Região, tendo começado os trabalhos no paddock esta terça-feira. São muitos jovens, muitas línguas, mas com a comunicação em inglês. São muitos intercâmbios e troca de informação entre os participantes. E o que se pode ver é que o pavilhão desportivo está transformado, por estes dias, num autêntico laboratório aeroespacial. Quer pelos foguetes, quer pelos componentes dos mesmos, passando pelos equipamentos e pelos muitos cérebros de equipas que são multidisciplinares.
Os lançamentos vão decorrer entre 12 e 15 de outubro no Campo Militar de Santa Margarida, à semelhança do que tem acontecido ao longo das últimas três edições, sempre com o apoio do Exército português.
Marta Gonçalves, porta-voz da Agência Espacial Portuguesa, diz que o arranque está a correr muito bem, nas últimas edições têm tido “um pezinho” em Constância com os lançamentos e no Campo Militar de Santa Margarida e agora “decidimos colocar o outro pé. E tem corrido muito bem”.
Destaca que as infraestruturas cedidas pela Câmara são as ideais para a realização do evento. O paddock está instalado no pavilhão desportivo. O facto de ser realizado dentro da vila tem permitido que mais população possa visitar, os próprios participantes possam visitar a vila e incentivar assim o comércio local.
“O ambiente que se sente é que as equipas estão mais prontas do que o ano passado, muitas delas são repetentes, mas que mesmo as novas estão aqui com algumas expectativas de que possam ter um lançamento bem-sucedido”.
O ano passado havia duas equipas portuguesas aceites, mas apenas uma lançou. Este ano há igualmente duas que esperamos que consigam lançar. Isto seria considerado mais um “record”.
“Sempre foi um objetivo, com esta competição, estimular a participação das equipas portuguesas. Temos visto cada vez mais equipas portuguesas a quererem formar-se e é exatamente isto que nós queremos estimular com a competição”.
Cada vez mais há candidaturas e patrocinadores internacionais interessados no evento, porque, de acordo com Marta Gonçalves, há uma solidificação do evento ao longo dos anos, ao sucesso que tem tido e à partilha de experiências entre equipas.
“A outra competição que se pode equiparar é nos Estados Unidos e isso traz, como sabemos, vários problemas logísticos. Sabendo que que há esta competição aqui, e que se continua a solidificar, é bom perceber que mais equipas estão interessadas. Mais equipas não só em Portugal, mas de toda a Europa estão a formar-se e querem vir a Portugal e ao EuRoC lançar os seus foguetes”.
600 jovens, traduzidos em 19 equipas, que vão estar na vila de Constância e no Campo Militar de Santa Margarida por estes dias.
O EuRoC é uma iniciativa, organizada pela Agência Espacial Portuguesa, tem como objetivo promover o desenvolvimento de competências científicas e educativas, ao desafiar os estudantes a lançar os seus foguetes (rockets), pensados e desenvolvidos ao longo do último ano e montados em Constância, os quais podem atingir altitudes entre os 3.000 e os 9.000 metros.
Esta é a única competição do género existente na Europa, e que desde 2020 tem conquistado um número crescente de participantes. Para a sua quarta edição, a Agência Espacial Portuguesa recebeu um valor recorde de 48 candidaturas por parte de várias equipas universitárias europeias. Dessas, foram selecionadas 25 equipas para lançarem os seus rockets este ano. Estão presentes em Portugal 19 e há a expetativa de que os 19 rockets possam ser lançados.
Pela primeira vez, há duas equipas portuguesas em competição no EuRoC: os RED, do Instituto Superior Técnico, e a North Space, que inclui estudantes do Instituto Superior de Engenharia do Porto, da Universidade de Aveiro e das Faculdade de Ciências e de Engenharia da Universidade do Porto. A eles juntam-se a outras equipas, vindas de países como Suécia, Polónia, Espanha, Alemanha, Suíça, Reino Unido ou Noruega, por exemplo.
O Ténico (Instituto Superior Técnico) já é presença veterana no EuRoC. Gonçalo Machado explicou à Antena Livre que “é um orgulho para todos nós sendo, estudantes de vários cursos do Instituto Superior Técnico, além de representar a própria instituição também representar o próprio país, estarmos aqui no meio de Universidades espalhadas por toda Europa. E estamos aqui a tentar o nosso melhor, a tentar competir também em alto nível. E estamos muito orgulhosos do que estamos a fazer principalmente com o nosso rocket Camões”.
Depois alude ao intercâmbio no encontro. “Queremos também que esta competição motive os nossos alunos e faça também com que haja um maior contacto entre as universidades portuguesas com as universidades estrangeiras mesmo com o mercado de trabalho que é sempre importante”.
No paddock não há cofres ou gavetas fechadas. Os foguetes e outras peças estão em cima das bancadas. As equipas vão sempre “espreitando” as bancas das outras equipas, tirando notas e fotos para tentar todos os anos melhorar os sistemas. E trocam bastante informação porque “todos estamos aqui com um objetivo, que é fazer foguetes, divertimo-nos e aprendermos... É mais do que uma competição”.
Quando chegar a altura do momento lançamento todo se torna muito mais intenso porque as preparações têm que ser detalhadas, “não pode faltar nada”, têm que estar atentos a todos os detalhes, assim como, seguir todos os protocolos de segurança, de montagem. “Não pode faltar nem um único parafuso para que o foguete conseguir voar e alcançar o nosso objetivo dos 3.000 metros”.
Já os testes e simulações foram feitos e com sucesso. A equipa conta com um motor e estruturas “cada vez melhores”, tendo como objetivo “bater sempre recordes”. A equipa, ficou em segundo lugar na competição geral com o seu rocket “Baltazar” e este ano o seu principal objetivo é alcançar o segundo lugar.
A eleição do nome vem de uma linha de literatura que a equipa está a tentar seguir, sendo a terceira participação no EuRoc e “fazendo literacia à terceira letra do alfabeto a achamos por bem homenagear o Camões que deu tanto a Portugal”. Há sempre uma linha, tentado sempre de fazer uma referencia a Portugal, à história de Portugal e principalmente a literatura portuguesa. Depois a coincidência de o “Camões” estar a ser preparado e lançado em Constância.
A equipa tem 80 membros, divididos por sete equipas, já que, não têm só o projeto da competição como também têm outros projetos onde desenvolvem novas tecnologias e depois contam também com a equipa de marketing que estão encarregues das parcerias e de partilhar a imagem da equipa.
A equipa além de buscar adquirir mais conhecimento e aprendizagens ao lado das ouras equipas europeias, procuram contactar com as empresas presentes para conseguirem trocar ideias com elas e conseguirem contactos para o futuro.
A North Space além de uma equipa para o EuRoC é uma associação juvenil com sede no Porto com o objetivo de permitir a todos os jovens não só a estudantes, poderem introduzir-se no setor aeroespacial através de vários projetos práticos e de investigação.
A North Space este ano decidiu construir um foguete, sendo este um projeto piloto da associação. “Isto porque no inicio foi algo complicado. Conseguirmos certos apoios de empresas e, portanto, de forma a facilitar todas estas burocracias. Também fundamos a associação nesse aspeto, embora, o projeto ou a ideia do foguetão já vem desde 2020”
Tem havido uma logística muito grande para conseguirem alcançar uma articulação entre as várias instituições. Ao principio foi complicado conciliar as universidades, horários, graus académicos e as vezes isto fez com que fosse complicado gerir o projeto. São uma equipa multidisciplinar, nenhum dos integrantes estuda aeroespacial. São todos estudantes de algum outro tipo de engenharia, alunos de física, já tiveram alunos de medicina ou de artes, isto, com o objetivo de tentar “juntar o bom de todos aos bocadinhos, porque é muito disso que acontece no espaço e no centro aeroespacial. E tentamos fundar aqui uma equipa que fosse multidisciplinar”. A articulação entre a equipa feita de forma a separar os grupos por cursos e universidades “de forma a facilitar a junção de horários, até porque depois, muitas das vezes, no que toca a estrutura do foguetão estão mais envolvidos os alunos de mecânica do que os de eletrotecnia. Por isso, faz sentido que os alunos de mecânica se juntem mais do que houver aqui uma mistura”.
Sendo estreantes no EuRoC João Coutinho desabafa: “Mal entramos aqui dentro… isto é espetacular, é dum outro mundo. Parece daqueles filmes que nós vemos dos Estados Unidos, do homem a pisar a lua. E de repente pousou tudo aqui em Portugal. Para nós como equipa é um enorme privilegio conseguirmos ver o trabalho dos outros, é também incrível a disponibilidade que os outros demonstram para connosco”.
“Sendo nós caloiros nesta competição existe muita ajuda e disponibilidade das outras equipas para nos ajudarem em quais quer problemas que possamos ter”.
O facto de causarem surpresa às outras equipas ao não terem nenhum elemento da equipa que estude engenharia aeroespacial acaba por criar mais motivação. “O que nos motiva é tentarmos desenvolver e tentar implementar um bocado mais no norte, e no resto do país, esta possibilidade de alcançar o espaço porque isso é uma coisa que às vezes é vista pelos estudantes e jovens como algo inalcançável, mas não é, o espaço está mesmo aqui a porta”.
O foco para a realização do foguete foi sempre desde a “simplicidade”, desde então eles não desenvolvem o seu motor, para isso, compraram um motor externo e implementá-lo, portanto, “forca mais na implementação e no desenho estrutural, porque isso nos permitia no futuro, então, desenvolvermos os nossos sistemas, portanto, aqui o nosso foco é a simplicidade”.
Há muito nervosismo na equipa. “Quando entrei estava completamente calmo e vi que a minha equipa não estava e depois começamos a ficar todos nervosos porque começamos a ver o tempo a passar e a aproximar-nos da data, mas quando começamos a ver as coisas a encaixarem e com o lançamento cada vez mais cerca, é uma sensação como se tivéssemos no céu, nas estrelas”.
Lara Alves é portuguesa, natural da zona de Setúbal e é estudante do último ano da Royal College London. É uma das líderes da equipa desta universidade que volta ao EuRoC. Aliás, a própria Lara já no ano passado esteve na competição onde até teve oportunidade de conversar com Elvira Fortunato, a ministra do Ensino Superior, quando a governante visitou o evento, em Ponte de Sor.
O sentimento da Lara, ao vir a esta competição, é de emoção. “É regressar a casa. É muito bom vir a uma competição e ver como está a comunidade europeia ao nível de estudantes de engenharia aeroespacial”.
No ano passado a equipa da Lara veio com um foguete híbrido (com combustível misto, sólido e líquido) e este ano trazem um rocket com combustível puramente líquido (com dois ativos de combustíveis diferentes, mas ambos líquidos).
Como foi tudo transportado desmontado, agora a equipa o que lhe resta é juntar tudo. Peça a peça. Componente a componente. “Está tudo muito bem organizado, a equipa está a trabalhar de forma muito profissional, muito seguida, muito juntos, portanto, não está a ser assim muito stressante como eu achava que poderia ser”.
O foguete da equipa londrina vai até três quilómetros, o motor consegue ir até mais alto, mas a equipa visa fazer tudo “o melhor possível para estarem o mais perto possível dos três quilómetros”.
“Mesmo sabendo e tendo confiança no nosso trabalho do ano inteiro, ficamos sempre ali com aquele entusiasmo, porque é sempre os últimos momentos, assim que vemos o lançamento é um sentimento de euforia de termos aquilo no que estamos a trabalhar há meses, finalmente concretizado”.
A Lara esteve em Ponte de Sor, o ano passado, e agora está em Constância, e considera os espaços parecidos.
“Acho que os locais são muito semelhantes, se calhar em Ponte de Sor havia mais pessoas, mais espetadores, mas de resto está tudo igual, conseguimos mais equipas ainda aqui em Constância, portanto, é uma experiência incrível”.
Quanto ao trabalho conclui a dizer que: “O foguete está prontíssimo, vamos ter hoje à tarde os membros técnicos a ver o nosso trabalho e dar aquele final go para podermos lançar, quem sabe, amanhã [quinta-feira]”.
O EuRoC é um desafio único com elevados níveis de exigência técnicos e inúmeros parâmetros de avaliação para que os foguetes tenham o máximo sucesso e consigam ser lançados com eficácia, atingido a altitude-alvo a que se propõem. A segurança dos equipamentos e as condições atmosféricas encontram-se entre os principais critérios.
As equipas competem por prémios em várias categorias. O júri, composto por especialistas nacionais e internacionais em rocketry, avaliará o desempenho das equipas segundo o comportamento do foguete em relação à altitude alvo (3.000 ou 9.000 metros), carga útil, design e qualidade do relatório técnico, entre outros. A ANACOM, enquanto Autoridade Espacial portuguesa, é responsável pelo prémio ANACOM, dedicado à análise e utilização do espectro de frequências pelas equipas. O prémio EuRoC, o mais cobiçado por todos, premeia a excelência em todos os aspetos da competição em avaliação.
O público é convidado a visitar o paddock ou a assistir aos lançamentos, devendo, neste último caso, reservar o respetivo bilhete, em https://app.beamian.com/euroc-23/new-visitor. Para cada dia serão disponibilizados 100 bilhetes – à exceção de domingo, dia 15 de outubro, quando este número se fica pelas 75 entradas.
Por se tratar de uma instalação militar e por razões de segurança do próprio evento, o acesso ao Campo Militar de Santa Margarida é condicionado e só pode ser realizado mediante bilhete ou acreditação prévia.
European Rocketry Challenge
O European Rocketry Challenge (EuRoC) é uma competição universitária europeia de lançamento de foguetes (rockets) criada em 2020 pela Agência Espacial Portuguesa. A competição, a primeira do género na Europa, desafia estudantes universitários a lançar os seus foguetes de propulsão sólida, líquida ou híbrida em altitudes entre 3.000 e 9.000 metros. Nos últimos quatro anos, o European Rocketry Challenge afirmou-se como um motor de desenvolvimento do quadro científico e educativo europeu e nacional, estando alinhado com os objetivos que guiam a ação da Agência Espacial Portuguesa.
Jerónimo Belo Jorge com Jade Garcia
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