Cinco anos após terem sido confirmados em Portugal os primeiros casos de contágio pelo coronavírus que causa a covid-19, o especialista de Saúde Pública Francisco George alerta para as “ameaças no horizonte” como a do vírus da gripe H5N1.
“Nós temos é que estar preparados agora, mais do que nunca, para novos fenómenos. Há ameaças no horizonte”, declarou em entrevista à agência Lusa, precisando tratar-se “do vírus da gripe H5, que está a circular, sobretudo, em aves e em bovinos, (…), inclusivamente, nas vacas leiteiras”.
Os primeiros casos em Portugal de contágio pelo coronavírus SARS-CoV-2, que causa a doença designada de covid-19, foram confirmados a 02 de março de 2020, data oficial do início da pandemia no país.
O presidente da Sociedade Portuguesa de Saúde Pública (SPSP) considera que, ao contrário do que aconteceu na altura, Portugal hoje “está bem preparado” para fazer face a problemas que possam surgir neste campo.
“Portugal está melhor preparado (…) para enfrentar problemas que venham a surgir, nomeadamente, aquilo que é mais preocupante neste momento que é a gripe H5, que, esperemos, seja contida na área animal e que não ultrapasse a barreira de espécie e não provoque um problema como aconteceu com a covid-19”.
O ministro da Agricultura disse no passado dia 11 que Portugal tinha cinco focos domésticos e quatro selvagens da designada gripe das aves.
Francisco George observa que existe perigo nos aviários e nas explorações de gado, onde há contacto com os seres humanos, salientando que os riscos “têm que ser bem controlados (…) no local onde surge o problema, (…) para combater e impedir a propagação do vírus”.
Mas lembra que até agora só foram registados o que os epidemiologistas chamam de casos esporádicos, resultado “do contacto direto, muito próximo” com animais infetados, e que “a transmissão entre pessoas não aconteceu”.
“Há uma epizootia [doença que ataca ao mesmo tempo muitos animais da mesma espécie na mesma zona] a circular, mas sem tradução num lado humano, em saúde humana. Portanto, é preciso reforçar a vigilância e tomar medidas imediatamente se surgirem casos de infeção humana de doentes”.
Os especialistas em epidemiologia consideram também a existência dos ‘clusters’ ou grupos de infeção, quando se confirmam casos de doença de pessoas relacionados no tempo e no espaço, situação igualmente distinta da de uma epidemia, que ocorre quando a transmissão doente a doente se faz em cadeia. A distribuição internacional da doença é classificada de pandemia.
O ex-diretor-geral da Saúde foi um dos fundadores em maio de 2022 da SPSP, que reúne especialistas em várias áreas, como medicina, epidemiologia, veterinária e ambiente, para estudar os novos conhecimentos e ameaças e propor, quando considerado necessário, medidas de controlo para apoiar as autoridades de saúde.
O primeiro surto da gripe aviária causada pelo H5N1 ocorreu em Hong Kong, em 1997, tendo sido controlado através do abate em massa de 1,5 milhões de aves domésticas.
Em 2003, começou uma nova vaga de surtos e, desde 2015, a gripe já afetou mais de 60 espécies de mamíferos, incluindo cães, gatos e porcos. Transportado por aves selvagens, o vírus infetou leões-marinhos na América do Sul e visons na Europa.
Entre outubro de 2024 e janeiro deste ano, foram detetados mais de 840 focos da doença na Europa, sobretudo na Hungria e em Itália.
A transmissão do vírus para humanos não acontece facilmente, mas, quando ocorre, a infeção pode levar a um quadro clínico grave e especialistas da Organização Mundial de Saúde (OMS) temem uma possível mutação do H5N1 que possa, por exemplo, facilitar a propagação.
A agência das Nações Unidas anunciou que o ano passado foram reportadas um total de 81 infeções em humanos, o maior número de casos desde 2015.
Nas primeiras semanas deste ano foi divulgada a morte de duas pessoas devido à gripe das aves, uma nos Estados Unidos e outra no Camboja.
Lusa