O rio Tejo continua, gradualmente, a voltar ao seu leito normal, com a diminuição das descargas das barragens.
Depois de um mês de março muito chuvoso, a depressão Martinho trouxe à Península Ibérica níveis muito altos de pluviosidade, o que causou aumento das escorrências para a bacia hidrográfica do Tejo e, como consequência, cheias no Ribatejo.
Mas desde esta terça-feira, 25 de março, as barragens estabilizaram as descargas e começaram a diminuir, de forma lenta, a libertação das águas.
De acordo com informação da Proteção Civil, às 07 horas deste sábado, o caudal debitado pelo conjunto das barragens com influência no Rio Tejo, Fratel, Pracana e Castelo de Bode, foi de 1338 m³/s. O caudal registado na estação de medição do Almourol à mesma hora era de 1512 m³/s.
A manutenção dos caudais, com valores próximos dos 1500 m³/s na soma dos caudais das barragens, carece de monitorização devido ao risco ainda existente.
De qualquer forma esta diminuição permite aliviar os constrangimentos. No Município de Abrantes continua alagada a Estação de Canoagem de Alvega. Em Constância ainda está submersa a Estrada Campo Tramagal/Santa Margarida, mas o Parque Ribeirinho já só tem água em 20% do seu espaço. E em Vila Nova da Barquinha apenas de verifica a submersão cais do Castelo de Almourol.
O presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) disse esta semana que a gestão articulada com Espanha permitiu minimizar o efeito das cheias no leito do rio Tejo devido à depressão Martinho.
Na semana passada, tanto Espanha como Portugal estiveram sob a influência da depressão, com a região de Madrid a ser das mais atingidas, levando a um raro alerta de risco de transbordo do rio Manzanares.
A tempestade bateu recordes de precipitação na região de Madrid e, "portanto, muita água na bacia do Alto Tejo, que se deslocou para Portugal", disse José Carlos Pimenta Machado.
A subida das águas do rio Tejo provocou mesmo o colapso de dois troços de uma ponte romana em Talavera de la Reina, no município de Toledo, no centro de Espanha.
"Foi preciso fazer uma gestão muito articulada, quer com a Espanha, quer com os concessionários portugueses das albufeiras, com a proteção civil (...) para minimizar o efeito das cheias", disse Pimenta Machado.
"Obviamente há algumas zonas ali, em particular na Golegã, em que alguns campos foram inundados, mas, apesar de tudo, foi uma coisa muito limitada e acho que fez-se aqui uma boa gestão", defendeu o dirigente.
Pimenta Machado recordou as cheias de 2013, em que, "com uma precipitação muito equivalente, foram registados em Almourol, a jusante de Constância, caudais muito próximos de dez mil metros cúbicos por segundo.
"Desta vez, por efeito desta combinação da gestão das albufeiras, atingimos o máximo dos 2.800 metros [cúbicos] por segundo, num contexto muito parecido", referiu o presidente da APA.
Uma comparação também feita pelo autarca de Constância, na confluência dos rios Tejo e Zêzere, que na segunda-feira teve vários equipamentos submersos devido à subida dos caudais.
Sérgio Oliveira lembrou que os atuais caudais ficaram muito longe dos que originaram as cheias em 2013, quando a água chegou à Praça Alexandre Herculano, no casco histórico da vila, ou mesmo a maior cheia ali registada, em 1979.
Pimenta Machado prometeu ainda que a APA retirou lições das seis tempestades que atingiram o país desde o início do ano, para, "acima de tudo melhorar a gestão nos próximos eventos climáticos".
"Temos que preparar o país para isto. O clima está a mudar, é um facto. Estamos num tempo de bater recordes de precipitação, recordes de aumento de temperatura", alertou o dirigente.
Pimenta Machado sublinhou também o impacto tanto do Martinho como da tempestade Jana em "zonas muito vulneráveis à erosão costeira, como a Figueira da Foz, mas também toda a zona ali de Ovar, Furadouro".
Em novembro, a APA disse que Portugal já perdeu para o mar, entre 1958 e 2023, uma área de 13,5 quilómetros quadrados, equivalente a 1.350 campos de futebol, – e que 20% da costa, 180 quilómetros, estão em risco de erosão costeira.
Pimenta Machado falava à margem do Fórum e Exposição Internacional de Cooperação Ambiental de Macau 2025, que começou hoje e decorre até sábado.
C/Lusa