José Guilherme Moura Neves é o presidente do Rotary Club de Abrantes. Fomos conhecer a atividade do Club e o que move os 26 membros que o compõem. Para o presidente, o lema que melhor se adapta é o “dar de si antes de pensar em si”.
Na tomada de posse, falou do “peso da responsabilidade”. De que forma é se sente esse peso?
A responsabilidade de ajudar um Club que tem uma dinâmica muito grande, que exige de quem está na sua presidência algum tempo e onde temos sempre algum receio de não estarmos à altura do desafio. Mas, como é evidente, nós vamos buscar sempre tempo, às vezes roubando à família e aos amigos...
É por isso que o mandato é só de um ano?
Não é só por isso. Em todos os Rotary Club's do mundo, a presidência roda todos os anos para que haja diversidade. Não se quer apegos ao lugar, o objetivo é ajudar a comunidade e assim pode ser feito de forma diferente por quem comanda o Club nesse ano.
Já não é a sua primeira vez como presidente do RCA... encara este mandato de forma diferente?
Muito diferente.
O que é que mudou, entretanto, no Rotary Club de Abrantes?
Passaram-se 18 anos e esse tempo, quer no Club, quer na minha pessoas, trouxeram muitas modificações e transformações. Da primeira vez, eu era um rapazote com pouco mais de 30 anos.
O peso da responsabilidade não era tanto na altura?
Não era porque o Club não estava envolvido em tantas frentes como está agora. Era mais o lugar do presidente, que era quem fazia o Club e o ano. Hoje, isso não se verifica. Temos várias frentes de ação onde estamos há vários anos e em que temos que estar preparados para levá-las para a frente porque não podem parar.
Para este mandato, quais são os principais objetivos?
Primeiro que tudo, a continuidade. Há programas que fomos desenvolvendo e aos quais vamos dar continuidade, como o Curso de Liderança. É uma formação de jovens, que vai arrancar dia 4 de setembro e até dia 10, com 34 jovens.
E sempre com as inscrições lotadas...
Mais uma vez, houve necessidade de fazer seleção. Tivemos mais candidatos ao Curso do que as vagas existentes. Chegámos à conclusão que o Curso de Liderança funciona com 30 a 33 jovens. Este ano há mais um mas é uma situação pontual. E os que ficaram de fora este ano, para o ano decerto que serão os primeiros da lista. Este Curso tem, na sua globalidade, jovens dos 17 aos 21 anos. Esta variação de quatro anos, é benéfica porque lhes dá outras dinâmicas. Os mais velhos têm uma maturidade diferente, bem como as raparigas mais velhas. Isso é ótimo no desenrolar do Curso.
Mas voltando aos objetivos do mandato...
Apostamos ainda na continuação das nossas ações na comunidade, essencialmente das associações que necessitam muitas vezes da nossa ajuda, como a Santa Casa da Misericórdia, a Casa de S. Miguel, o Projeto Homem e outros... associações preferencialmente do nosso concelho mas também fora dele. O Rotary Club de Abrantes não está exclusivamente dedicado ao concelho de Abrantes. Temos ações sociais nos concelhos de Sardoal, Mação, Constância e até Ponte de Sôr.
Essas associações procuram-vos?
Algumas procuram e outras são projetos que algum companheiro conhece e sugere. Verificamos se há possibilidade e o que podemos fazer, como o levantamento das necessidades, estudamos e vemos quais são as respostas que podemos dar a essas associações.
Em que é que se pode inovar?
A nossa principal missão é a ajuda na comunidade, em várias vertentes. Temos ao apoio aos jovens, com o Curso de Liderança e a atribuição das Bolsas de Estudo. E, noutro aspeto, a Casa de S. Miguel, por parte dos nossos jovens do Rotaract e Interact. Mas claro que há sempre possibilidades de inovar...
No dia da Transferência de Tarefas, um dos objetivos dos presidentes dos clubes jovens era atrair mais jovens para trazerem novas ideias. Isso não poderá ser também um dos objetivos do Rotary?
Mas esse é um dos nossos objetivos. Eu estou a repetir um mandato e já somos cinco repetentes nestes 38 anos. Já repetiram os companheiros Júlio Miguel, Paulo Sousa, António Domingues e o José Terras Marques. Para que isto não aconteça, tem que haver refrescamento do Club, têm que entrar novos sócios. Temos que ir à procura de gente na sociedade que tenha este cariz de ajuda.
O Rotary Club é um clube elitista? Como se pode entrar?
Só se entra através de convite e tem uma explicação muito simples. Não é nada elitista e só tem a ver com a unidade do Club. Por exemplo, nós não podemos introduzir alguém que tenha alguma questão ou qualquer tipo de animosidade com os membros que já lá estão. Para que isso não aconteça, o nome é proposto por um companheiro, é verificado pela Comissão de Admissão, e o primeiro convite é para se juntar a nós numa das nossas reuniões ou jantar e ver se sente bem. Normalmente, se se sentem bem, ficam membros.
De que mais se orgulham?
A mim, o que mais me orgulha é poder ajudar os outros. Sem qualquer dúvida. Esta é uma questão que aprendi com o meu pai, que era uma pessoa generosa... Quando conheci o Rotary, achei que seria um sítio onde me iria sentir bem. Fui convidado, entrei quando tinha 16 anos portanto, há 22 anos, e orgulho-me acima de tudo de saber que estou a ajudar quem precisa. Para mim, isso é o principal.
Mas há alguma campanha que o tenha deixado particularmente orgulhoso?
Particularmente, orgulho-me das Bolsas de Estudo, do Curso de Liderança... as campanhas ao nível dos jovens e da educação são para mim pedra angular no nosso desempenho. A educação nunca fez mal a ninguém e se pudermos ajudar quem tem menos possibilidades e que tem capacidades enormes, é aí que nós mais nos podemos orgulhar... se por razões económicas, alguém que é brilhante não puder continuar e nós lhe “partirmos as pernas” por causa disso...
As bolsas de estudo aumentaram este ano de 30 para 42, com a Câmara de Abrantes a comparticipar e a aumentar de 23,500 para 32,500 euros essa ajuda. A que se deve este aumento nas candidaturas?
Ao longo destes anos em que temos o Protocolo, a Câmara de Abrantes percebeu que, nos últimos 3 ou 4 anos, havia a necessidade de apoiar mais pessoas. O ano passado tivemos perto de 120 candidaturas. Antes do Protocolo com a Câmara, conseguíamos o apoio da sociedade abrantina para ter entre 20 a 25 bolsas. Ainda hoje, parte delas são de donativos de empresas que nós contactamos e nos ajudam. Gente do concelho e de fora dele. E a Câmara percebeu que o número de pessoas que procuravam este benefício era muito grande e não havia resposta porque nós não tínhamos capacidade. Então, a Câmara, em várias conversas ao longo dos últimos dois anos, ainda no tempo da presidente Maria do Céu Albuquerque, chegou-se à conclusão que eles tinham possibilidade de aumentar este bocadinho no orçamento da educação. E foi o que fizeram este ano e que a nós muito nos apraz.
Ainda assim, é difícil deixar alguém de fora?
É. É sempre difícil e há casos e casos. Também temos gente que se candidata e nós próprios ficamos sem perceber o porquê. Vêm à procura do “pode ser que...” E isto existe. Mas quando se começa a estreitar o leque, passa muitas vezes a ser complicado deixar um ou outro miúdo de fora. Nós não podemos olhar a quem é, temos que ser muito frios a olhar para os parâmetros de seleção e depois há o que têm a sorte de receber a Bolsa e há outros a quem, infelizmente, não a conseguimos dar.
Quantas pessoas o ajudam no Rotary Club? Têm todos tarefas muito bem definidas...
Ao todo, somos 26 membros ativos no Rotary Club de Abrantes. Somos 24 homens e duas senhoras. Neste momento, o “núcleo duro” do Club terá 12 a 14 elementos. Sãos os que estão permanentemente mais ativos. É que temos membros, como é o caso do dr. João Tavares, com 92 anos. Pessoas com oitenta e muitos anos, como o coronel Morgado e são pessoas que nós poupamos, digamos assim. E eles ajudam de outra forma
Para o cidadão José Guilherme Moura Neves, o que significa pertencer ao Rotary Club de Abrantes?
Uma forma de poder estar ativo na sociedade, de ser interventivo de alguma forma e de, no fundo, poder ajudar. Há um lema de Rotary que diz “Dar de si antes de pensar em si” e que se adapta muito bem a mim. Gosto muito de ajudar.