A Médiotejo21, Agência Regional de Energia e Ambiente do Médio Tejo e Pinhal Interior Sul, foi constituída em 2009 e rapidamente começou a trabalhar com autarquias e algumas empresas na eficiência energética.
Desde muito cedo que apontou o hidrogénio verde como um caminho a ser desenvolvido pelo Médio Tejo. Mais de dez anos depois da criação, o diretor da Médiotejo21, Ricardo Beirão, engenheiro eletrotécnico, revela que a agência já movimentou, em candidaturas e projetos, mais de 4 milhões de euros e que há um grande investimento de uma empresa de capitais suíços para os terrenos ao lado da RPP Solar, próximo da Central do Pego. Trata-se de um projeto que vai criar uma unidade de produção de Hidrogénio Verde com 80 hectares de painéis fotovoltaicos. E há outro na calha, podendo ainda somar-se, se for esse o caminho escolhido, a reconversão das unidades de carvão da Central do Pego
Jerónimo Belo Jorge
O que é a Médiotejo21 - Agência Regional de Energia e Ambiente?
O nome Médiotejo21 foi criado porque somos uma agência que desde 29 de maio de 2009 (29 de maio é o Dia Mundial da Energia). E foi criada por vontade da presidente da Câmara de Abrantes da altura (Maria do Céu Albuquerque) em conjunto com o engenheiro Marcos Nogueira, que continua a ser consultor da agência. A presidente da Câmara de Abrantes sentia, em 2009, que estava para começar um grande caminho na área da energia e ambiente. E tentou procurar quem tinha estado na génese das agências de energia, que ainda eram poucas. Trouxe para Abrantes esse conhecimento para criar a Médiotejo21 para o Médio Tejo e Pinhal Interior Sul. Quando o Pinhal Interior Sul se dividiu, com Oleiros e Proença-a-Nova a irem para a CIM da Beira Baixa, já eram associados da agência, estavam satisfeitos e continuaram. E isso permitiu-nos avançar com protocolos de colaboração com os municípios da Beira Baixa para lhes fornecermos os nossos serviços.
O que motivou a criação desta agência?
O Médio Tejo é um território diversificado. Tem municípios grandes e pequenos. Logo, há municípios que têm recursos humanos da energia e ambiente nos quadros e há outros que não têm. Havia, na altura, um grande caminho a percorrer e com perspetiva de financiamentos comunitários a que se juntava a falta recursos humanos nas autarquias. E depois outros constrangimentos legais. Por exemplo só técnicos das autarquias podem fiscalizar, sugerir, acompanhar, mas não podem assinar projetos desta índole. Abarcamos um território mais vasto na procura de financiamento e captura de investimento nestas áreas para esta região (Médio Tejo e Pinhal Interior Sul).
Falamos de uma instituição com 27 associados (15 Municípios e 12 empresas). Que benefícios têm os associados?
Já são 28 porque tivemos a adesão, recentemente, de uma empresa multinacional de capitais suíços devido a um projeto que estamos a desenvolver. Temos associados públicos (municípios) e privados. Nós não vendemos produtos nem serviços. Nós fazemos o casamento, o encontro, entre a procura e a oferta. Ou seja, há necessidade de haver intervenção no âmbito da eficiência energética e do ambiente nos municípios. Há empresas, há entidades que desenvolvem esses serviços e nós fazemos o aconselhamento e avaliação técnica. E depois fazemos esse casamento que permite que as coisas avancem.
Esta área está em mudanças constantes. O mercado de energia está liberalizado. Que papel tem a Médiotejo21 no mercado elétrico? Analisa o mercado? Propõe aquisição de serviços?
Uma das atividades da agência é dar apoio aos municípios ou a quem nos solicita. E temos uma ligação estreita com a Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo que tem uma figura que é a central de compras onde lança os concursos e procedimentos para que os municípios ali comprem a sua energia aos fornecedores que se apresentam. Ali vê-se qual a melhor oferta para aquilo que os municípios pretendem. Não é um trabalho simples, porque tem-se em linha de conta a tipologia de edifícios e os vários segmentos. Na Médiotejo21 ajudamos na procura da melhor solução, tendo em conta as necessidades dos edifícios e de acordo com as ofertas de mercado.
Este trabalho também é feito para os cidadãos particulares. Houve uma alteração a partir de 2018, quando assumi a direção da Agência, que foi a sua abertura aos cidadãos. Fazemos um trabalho que não é muito visível, mas que existe e que tem retorno. Nós temos metas na redução da pegada carbónica que tanto ouvimos falar. E isso não se faz somente numa vertente. Faz-se “atacando” todos os setores do mercado, incluindo o particular. Cada vez que somos solicitados, fazemos esse aconselhamento. E houve a concordância do Conselho de Administração (presidido pela Câmara de Ferreira do Zêzere e que tem a Tejo Energia e as Câmaras de Abrantes, Tomar e Ourém) na abertura dos serviços de aconselhamento a particulares. Até porque o mercado de energia está sempre a mexer, é um mercado muito frenético. O que fazemos é o estudo de cada caso, colocamos em cima da mesa e o decisor toma a sua opção.
“Há um projeto para instalar uma unidade de produção de hidrogénio verde no Casal Curtido, próximo da Central do Pego”
E no ambiente, qual o papel da Agência?
Tudo está interligado. A redução da fatura energética representa a redução da pegada carbónica. Com uma fórmula matemática simples conseguimos apurar a redução das toneladas de emissões de CO2 relacionadas diretamente com a redução de consumo de energia. Posso dizer que de 2009, e somos quatro colaboradores (um engenheiro eletrotécnico, um engenheiro mecânico, um engenheiro eletromecânico e uma engenheira de ambiente), fizemos os planos de ação de energia sustentável para a região e para cada município, fizemos a matriz energética regional, executámos um plano intermunicipal para as alterações climáticas, temos várias candidaturas a programas nacionais e da união europeia. Está tudo interligado. Em todos estes documentos há a vertente energética e ambiental. Quando intervimos numa área, estamos a intervir na outra, obrigatoriamente.
Carolina Bragança, Ricardo Beirão e Duarte Mendes, da Médiotejo21
Sei que fazem análises à iluminação pública. Também analisam a eficiência energética de piscinas municipais e edifícios públicos de que forma?
Está tudo dito. Temos três caminhos que seguimos na área da energia. A iluminação pública...
… É uma despesa enorme...
As pessoas não fazem ideia. Seja em consumo, seja em euros, é o maior gasto que existe nos municípios. Mas a nossa intervenção é a iluminação pública, depois as piscinas municipais e a seguir os restantes edifícios. As piscinas foram desagregadas dos edifícios municipais porque têm características diferentes.
O cidadão, para recorrer à Médiotejo21, precisa de ser sócio?
Os cidadãos perceberam que há linhas de financiamento para a eficiência energética nas casas particulares ou outras entidades. Sempre houve o fundo de eficiência energética e o fundo ambiental. O certo é que desde 2013 [desde que estou na Agência] não temos histórico de termos tido uma procura tão grande como de 2018 para cá. Para o aviso 25, que tem linhas de apoio à instalação de painéis solares, mudança de portas e janelas, a Agência fez 47 candidaturas e para pessoas de, por exemplo, Coimbra, Esposende, do Algarve de vários pontos do país. No fundo ambiental também estamos a acompanhar cerca de 20 projetos.
“Projeto de multinacional suiça prevê instalação numa área de 80 hectares de um complexo de painéis fotovoltaicos e um eletrolisador de 10 MW”
O que é que mudou em 2018? Há uma maior consciência ambiental?
Os decisores (políticos) passaram a trazer a eficiência energética para o seu discurso, a mitigação das alterações climáticas (…) houve uma maior publicitação das linhas de financiamento e as pessoas passaram a ter mais atenção que ali (eficiência energética) também se pode poupar e, na minha opinião, os fundos deixaram de estar escondidos.
Sei que fizeram ações de formação de Gestores Municipais de Energia? Há ligação entre estes gestores e a Agência?
Há gestores municipais de energia porque a Médiotejo21 deu formação. Há um técnico municipal para tratar dos assuntos de energia ou para ser o gestor dos pontos de consumo dos municípios e há o gestor local de energia (que nós formámos) para as IPSS. Também vamos ao privado porque só temos a poupança global se “atacarmos” todas as vertentes.
O Médio Tejo já deu mais passos no objetivo de ser uma “região Hidrogénio Verde”?
A região do Médio Tejo, até final de 2020, era a única região de Portugal que se tinha proposto para ser a região de ponto de partida para o hidrogénio. Entre 2018 fez-se um primeiro evento em Tomar para falar sobre hidrogénio. Em 2019 fizemos um outro no Entroncamento, que nos enche de orgulho, porque tivemos 170 participantes de 11 países onde já estiveram presentes entidades para falar de projetos concretos. Começámos a criar o 'Cluster HyTagus' com entidades portuguesas e europeias para concertar ações. Temos um projeto com a CIMT que está em “PDA” [Project Developement Assistence] juntamente com outras 11 na Europa. E isto faz com que os holofotes internacionais se virem para a região.
Posso adiantar que temos uma candidatura ao POSEUR para a construção de uma central de produção de hidrogénio verde [produzido à custa de energia renovável, neste caso solar ou eólica]. A cadeia de valor assenta na produção, no armazenamento, na distribuição e no consumo. Primeiro para instalar na rede de gás natural, depois para as frotas de mobilidade e depois para as frotas municipais. E há possibilidade de alargamento ao mercado privado quanto os veículos o permitirem.
“Seja em consumo, seja em euros a iluminação pública é o maior gasto nos municípios em energia”
Está a avançar agora? Para onde?
Está a avançar. É um projeto e muitos milhões. Já é público, trata-se de uma empresa de capitais suíços que fez uma candidatura de vários milhões de euros que pode ter financiamento de 85% até um máximo de 5 milhões de euros. É um investimento robusto e muito superior àquilo que é o apoio comunitário, se for aprovado. Trata-se da instalação de uma central de produção de hidrogénio verde, como um eletrolisador com capacidade de produção de 10 MW, alimentando por um complexo de painéis fotovoltaicos (80 hectares) na zona do Casal Curtido (freguesia de Concavada) ao lado do edifício da RPP Solar e próximo da Central do Pego.
Quando começámos com esta ideia do hidrogénio, sempre tivemos a ideia clara do local onde construir uma unidade destas e que era na Central Termoelétrica do Pego. Como sabemos, está num processo de remodelação…
… mas ainda não está fora de hipótese as duas unidades de carvão passarem para a produção de hidrogénio?
Perspetiva-se. E isto é um somatório, se a Central do Pego enveredar por esse caminho temos o início do cluster do hidrogénio. Temos um outro projeto em vista para o Médio Tejo de uma outra empresa, que ainda não posso revelar o nome, para uma unidade de produção de hidrogénio, mas só para a mobilidade.
“Até final de 2020, o Médio Tejo era a única região de Portugal que se tinha proposto a ser região hidrogénio verde”
O que é que já representou o investimento desenvolvido a partir ou que passou pela Médio Tejo21?
Desde 2009 até final de 2020 diria que, entre financiamento ganho e captação de investimento privado (nacional e estrangeiro), representa mais de 3 milhões de euros. A Agência não tem fins lucrativos, tem um orçamento que ronda os 100 mil euros anuais. Ou seja, não conseguimos fazer muitas flores. Mas há um trajeto que nos leva para valores mais elevados. Todas as candidaturas da eficiência energética ao Portugal 2020 ou ao POSEUR passaram pela Médiotejo21.
Tivemos umas candidaturas que passavam pelas juntas de freguesia em que foi difícil chegar a todas e foram os presidentes de Câmara que ajudaram a desbloquear essas situações.
Este cluster do hidrogénio verde, com estes dois projetos de grande dimensão e, se avançar, a reconversão da Central do Pego, pode ser o ponto de “explosão mediática” da Agência?
Não gostamos dessa expressão. Nós queremos fazer o nosso trabalho e ser reconhecidos por quem de direito…
… mas se estes projetos avançarem?
Estamos plenamente confiantes que este primeiro projeto para a Concavada vai ser aprovado e vai mesmo avançar. Até porque construímos uma candidatura para ir aos rácios máximos do aviso. Mas sim, estamos desde a primeira hora no processo, desde a primeira hora no projeto do hidrogénio do Médio Tejo.
Queremos ser reconhecidos pelas entidades a quem prestamos serviços porque serão elas que nos dão o ganha-pão. Faremos 12 anos em maio e queremos estar cá outros tantos.
Nota da Redação: Já podemos avançar que a empresa é a Smartenergy e que o investimento previsto é de 15 milhões de euros.
A Smartenergy é uma empresa fundada em 2011 e que tem sede em em Wollerau (Suíça), a Smartenergy Invest AG concentra-se em investimentos em energia renovável e empreendimentos relacionados. Está já presente, para além da Suíça, na Alemanha, em Itália, Espanha e Portugal. No nosso país tem já uma unidade em Mogadouro, distrito de Bragança.