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“O APHELEIA é hoje reconhecido como o mais importante programa em termos de gestão territorial no mundo e a UNESCO abraçou-o”

11/05/2017 às 00:00

Luiz Oosterbeek, 56 anos, coordenador científico do Museu de Arte Pré-Histórica e do Sagrado no Vale do Tejo e presidente do Instituto Terra e Memória, em Mação, e professor coordenador do Instituto Politécnico de Tomar (IPT), é o responsável pelo seminário internacional do projeto APHELEIA que decorreu em Mação no início do mês de abril e que juntou cerca de uma centena de especialistas de todo o mundo, entre professores e alunos de áreas como a arqueologia, antropologia, história, filosofia, geografia, ciências da comunicação, educação, entre outros.

Fomos saber melhor do que trata o projeto APHELEIA e de como olha Luiz Oosterbeek para o futuro do mundo.

Foram 10 dias de projeto APHELEIA. Em que consistiu?

Esta é uma experiência única. É uma experiência de 10 dias com quase uma centena de pessoas a viverem juntos, de manhã à noite, o que também tem a suas dificuldades, com um único objetivo. Por um lado, produzir conhecimento e, por outro, serem felizes para poderem transformar a realidade.

E o que é, efetivamente, o projeto APHELEIA?

O projeto APHELEIA começou por ser uma rede de universidades europeias, com centros de investigação e organizações de poder local, entre as quais a Câmara Municipal de Mação e a CIMT (Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo), que são fundamentais, para mudar os modelos de gestão territorial. O que posso dizer é que ao fim de três anos, que era a duração do nosso projeto mas que agora vai continuar, e ao qual a UNESCO aderiu a partir do ano passado, vai ser apresentado na Assembleia Geral da UNESCO este ano.

Durante estes dias, de que falam?

Romper com certos equívocos, como por exemplo o facto das pessoas pensarem que a cultura e a economia são coisas separadas. Na verdade, são exatamente a mesma coisa. Não são parecidas, são exatamente a mesma coisa. Ao falar com colegas dizia que o nosso erro é quando as pessoas vão ver o Convento de Cristo, dizerem-nos que aquilo é bonito. Claro que aquilo é bonito. Não é preciso ir a nenhum curso para aprender que aquilo é bonito. Mas então e a parte de engenharia? E a organização social que foi precisa para pôr aquilo de pé? Quem é que ensina isso? Acho criminosa a forma como é feita a gestão patrimonial. Temos que mudar isso radicalmente.

Um dos temas que falaram referia-se à gestão das lideranças dos territórios…

Para mim, a gestão das lideranças é um exercício de humildade. A liderança não são uns indivíduos iluminados que pensam que sabem tudo. Os bons líderes não são necessariamente os mais inteligentes. São aqueles que são humildes e são capazes de juntar. O que é perigoso são os indivíduos que acham que sabem tudo e o nosso programa é contra isso. O que é facto hoje é que esse programa está a um passo de se transformar em recomendações de política internacional. Claro que isto para os asiáticos não é nenhuma novidade porque eles sabem isso, mas nós temos muito a aprender desse ponto de vista e penso que há coisas que estamos a fazer que têm um enorme peso. O APHELEIA é hoje reconhecido como o mais importante programa em termos de gestão territorial no mundo e a UNESCO abraçou-o. E isso deve-se aos meus alunos.

Durante o APHELEIA 2017, falaram também acerca dos serviços do Município onde estão inseridos. Qual foi a avaliação?

Estamos ainda em processo mas há um conjunto de soluções… no entanto, tenho que dizer que toda a gente fica muito impressionada com Mação.

Em que medida?

Mação conseguiu fazer (e é isso que explica em grande medida o investimento que o Politécnico de Tomar e muitos de nós fazemos em Mação) um exercício que é difícil em democracia, que é manter o debate democrático, que implica contraditório e que implica divergência, com um consenso e uma pacificação sobre tudo aquilo que é fundamental para a vida das pessoas. Eu penso que Mação é um espaço de enorme felicidade, de enorme liberdade e de enorme democracia. Onde as questões que têm a ver com educação, com crescimento económico e com a cultura são pacíficas. Não quer dizer que não hajam diferenças de opinião, mas não se anda a mudar de política cada vez que não sei o quê… Penso que temos uma liderança muito boa, muito forte, muito estável e Portugal e a Europa precisam disto.

E qual o balanço do APHELEIA 2017?

O Apheleia 2017 é o fim de um primeiro ciclo. Transformou-se numa organização internacional, já é membro do Conselho Internacional de Filosofia e Ciências Humanas, já estabeleceu um acordo com a Rede Asiática das Humanidades, estamos a colaborar com colegas do Brasil e de outros países sul-americanos para criar uma rede que surgirá ainda este ano e que vai dentro da mesma lógica para a América, mas cada um com o seu próprio ritmo. Pensamos que ainda este ano, ou no próximo, se crie uma rede africana. Estamos a transformar isto em política mundial. E é uma política mundial de tranquilidade. Como o mundo vai rapidamente na direção da guerra, só há uma resposta possível, que é com um grande rigor, perceber que não é com discursos que se impede a guerra, que há problemas e que aqueles que vivem ansiosos têm alguma razão. (…) Num mundo que vai na direção da guerra, Portugal tem muito a dizer e está a saber dizer. E acho que todos temos que ter muito orgulho nisso. É o que pretendemos fazer aqui também.

Patricia Seixas

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