Na localidade de Arrifana está sediada uma empresa familiar que tem passado de geração em geração
São os mestres da preparação da cortiça. Tem sede na localidade de Arrifana, concelho de Abrantes, e tem dado continuidade ao trabalho iniciado pelas mãos de Manuel Domingos Apura.
Manuel Domingos Apura & Filhos S.A. é o nome da empresa que começou a dar os primeiros passos nos anos 60.
Manuel Domingos Apura era motorista numa empresa de cortiça e pouco a pouco começou a fazer alguns negócios. Começou a trabalhar por conta própria, “numa pequena empresa, de quintal de casa”, como recorda ao JA António Apura, seu neto e um dos administradores atuais.
“Numa fase inicial, ele era intermediário, pois tinha muitos contactos na zona norte do país. Já nos finais dos anos 70, princípios de 80, o meu avô acaba por integrar os dois filhos na empresa, o meu tio António e o meu pai Joaquim. Começaram a trabalhar com ele e a apostar na área de preparação da cortiça. O início foi num espaço no Cabrito, depois transitaram para um espaço aqui contíguo e em 2000 chegam ao espaço onde ainda hoje nos encontramos”, conta o responsável.
António Apura ingressa no ramo em 1997/98 e pega no atual espaço com a intenção de o reabilitar e adequar às necessidades de uma indústria corticeira.
“O meu avô, na altura, já tinha comprado este espaço, em hasta pública. Isto era uma antiga cooperativa de fruta, que foi à falência. Antes de falecer já tinha a ideia de começar a trabalhar nesta unidade”, avança António.
Com o espaço pronto, a empresa começa a crescer a vários níveis. Hoje, trabalha cerca de 150 a 160 mil arrobas de cortiça. O produto é escoado, sobretudo para a indústria rolheira, cerca de 3 vezes por semana.
É também uma empresa que aposta na mão-de-obra local, empregando 14 trabalhadores que todos os dias assumem várias funções:
“Quando a matéria-prima chega tem de ser organizada por lotes de proveniência e por anos. Depois está cerca de um ano em parque, terá de apanhar as quatro estações, para fazer o estágio. De seguida, entra na parte da cozedura e depois é separada por lotes. Daqui segue devidamente preparada para os clientes. Somos das primeiras etapas do processo e ficamos por aqui, sobretudo devido à falta de mão-de-obra especializada nesta zona do país para trabalhar com este produto natural”, afirma António Apura.
A matéria-prima provém sobretudo do Alentejo e de certas zonas de Espanha. A cortiça é normalmente extraída entre maio e agosto e é recolhida depois para parque. Este espaço tem merecido a atenção da família, pois é dos mais importantes em todo o processo. “Este é um produto que começou a ganhar responsabilidade alimentar e tem de estar num parque em condições. No exterior nós não temos um quilo de cortiça fora de cimento. A cortiça não pode estar em contacto com a terra e tem de ser toda dividida pelos 3 hectares que temos atualmente”, refere o administrador.
Os principais clientes da empresa estão no norte do país, na zona de Santa Maria da Feira. Alguns, “residuais”, também se encontram em Espanha.
António Apura conta que 85% do setor da cortiça destina-se às rolhas, à indústria vinícola, mas a cortiça está de facto na moda e por isso multiplicam-se os artigos que provém deste produto natural.
“Se tivermos presença através de outros produtos, que não sejam somente as rolhas, é sempre importante. Se virmos uma senhora com acessórios de cortiça é sempre uma imagem que fica e que potencia o setor em geral. Penso que seja uma área em expansão, principalmente ligada ao design”, avança.
A cortiça que preparam “é para qualquer tipo de artigo ou até mesmo para a área da construção, mas sem dúvida que o que continua a dar valor é a rolha. A cortiça dá garantia que um vinho, durante 7/8 anos e muito mais, não sofre alterações. É um bom vedante”, acrescenta.
No que diz respeito à concorrência, o responsável refere que a mesma é sobretudo sentida na compra da matéria-prima do que propriamente nas vendas.
“A matéria-prima só surge de nove em nove anos. Acontece que o produtor florestal tem normalmente vários interessados na cortiça. É neste aspeto que muitas vezes temos de nos antecipar e conseguir os melhores negócios”, explica.
Já o investimento tem sido constante: “Nós temos investido ao longo dos anos. No parque, onde pavimentámos todo o espaço de acordo com as exigências atuais e por forma a dar garantias aos clientes. O investimento mais recente foi um queimador, cerca de 10 mil euros, que é completamente automático e que programa a cozedura para manter a temperatura que necessitamos, não havendo quebras”.
Por fim, os objetivos estão definidos: “consolidar a nossa liderança na área da preparação de cortiça, continuar a estabelecer um acompanhamento de proximidade com os nossos clientes e conseguir comprar mais e melhor matéria-prima”.
A nível pessoal, António Apura refere que liderar uma empresa deste tipo “é um bom desafio. Alem de ser um negócio de família, é algo que gosto muito. Gosto muito do contacto com o campo. Depois é saber que lidamos com um material nobre e que não traz problemas ao meio ambiente”.
Joana Margarida Carvalho