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Padre Carlos de Almeida: “Penso que a igreja de massas nunca mais existirá”

6/09/2018 às 00:00

Padre Carlos de Almeida, 48 anos, natural de Alvito da Beira, concelho de Proença a Nova, canta ao JA como iniciou a sua vida dedicada a Deus. Falou de novos desafios e projetos, entre os quais a requalificação do adro da igreja de Rio de Moinhos, que já está em obra.

 

Porque é que decidiu ir para o Seminário?

Eu sou de uma aldeia do concelho de Proença a Nova, que se chama Alvito da Beira. Entrei no Seminário com 12 anos, muito novo, e pelo facto de ter entrado no seminário as pessoas pensam logo que era para ser padre, mas com 12 anos ninguém tem a opção de querer ser padre de uma forma muito clarificada. É preciso então referir que entrei no seminário por vários motivos. O primeiro motivo, foi pelo facto de o meu pai ser muito amigo do padre Sequeira Rosa, pároco da altura. A segunda razão, prendia-se com o facto de vivermos numa aldeia extremamente isolada da escola, do ciclo e da escola secundária e seria difícil estudar. O facto de sair dali e ter um espaço onde estar e poder estudar foi importante e foi uma das opções que os meus pais tomaram e que influenciaram, consequentemente, a minha entrada no seminário.

 

Como foi a passagem pelo Seminário?

Tive dois anos no Seminário de Alcains, mais seis anos no Seminário de Portalegre. Em Alcains, fiz o 1º e 2º anos antigos, portanto 5º e 6º anos da altura e em Portalegre fiz os restantes anos até ao 12º ano.

Em 1991, no 12º ano, foi quando surgiu a opção de ser padre de uma forma muito concreta. Surgiram as questões e as interrogações todas associadas. O papel dos padres ao longo de toda a minha vida ajudaram-me a descobrir os caminhos da felicidade, da razão de ser, de estar e da vida. E foi naquele caminhar que fui percebendo umas coisas. Contudo, não foi naquela altura o grande momento. O grande momento foi no meu 2º ano do curso de Filosofia, onde pensei em estar ao serviço de uma instituição e de uma comunidade de uma forma diferente. Foi naquele momento que surgiu a devoção de uma forma mais forte. Não de uma forma muito clara, mas através de retiros, de caminhadas e de um iscernimento espiritual, com o diretor espiritual, que fui descobrindo que esta podia ser uma opção de vida para mim.

 

Como foi a reação da família?

A minha mãe é uma pessoa humilde, de uma fé clarificada e aceitou bem. Sentiu que a minha opção era uma bênção e uma graça de Deus. Nós somos três irmãos. O meu irmão e a minha irmã escolheram outras opções de vida. Contudo, a minha mão aceitou de uma forma calma e pacífica. O meu pai também aceitou de uma forma pacífica, mas pelo meu feitio, às vezes colocava algumas reticências e questões, mas também aceitou.

 

Foi uma decisão difícil?

Não é uma decisão fácil, mas como não é fácil outras opções de vida. É claro que as opções e decisões que temos de tomar passam sempre por um processo de discernimento e renuncia porque não podemos ter tudo na vida. Se optamos por uma coisa, por um caminho, temos de renunciar a outro caminho, porque os dois caminhos paralelos nem sempre são fáceis, nem sempre são possíveis.

Ao optar pela vocação sacerdotal tive de fazer algum tipo de renuncias. E a grande renuncia foi ter tido tempo para mim. Nunca perdendo a dimensão da minha liberdade, mas foi muito difícil encontrar tempo para mim.

A vida de padre é hoje uma vida muito ocupada, ainda há tempo para a espiritualidade?

Se não houver tempo para a espiritualidade, é impossível ser padre. Esse tempo tem de ser encontrado, tem de se organizar muito bem o tempo, o dia, a semana, o mês e o ano. Eu sou padre há 21 anos e estas coisas nem sempre são iguais. Quando fui ordenado padre, em 1997, fui trabalhar numa equipa. Estava responsável por um setor da pastoral da comunidade de São Miguel, em Castelo Branco. Eramos três, mais dois sacerdotes que estavam connosco e eu estava responsável pela catequese.

Hoje, tenho uma vida completamente diferente. Tenho quatro paróquias, Sardoal, Rio de Moinhos, Alferrarede e Valhascos. Aquilo que se faz numa comunidade, faz-se nas quatro. Claro que nem todas as paróquias têm a mesma dinâmica, os mesmos desafios pastorais. Neste momento, ainda todas têm catequese, mas não é possível ter uma organização conjunta das quatro, ainda assim vou conseguindo ter uma folga (risos).

 

A freguesia de Rio de Moinhos foi a paróquia que lhe foi entregue. Que objetivos tem?

Quando cheguei, o que fiz foi observar. Depois, foi organizar o conselho económico da paróquia, o grupo de pessoas que está responsável pela gestão dos bens materiais, imateriais e imóveis da paróquia de Rio de Moinhos, sendo que nas localidades de Amoreira e Pucariça ainda estou a iniciar esse trabalho.

Com o apoio da Junta de Freguesia, estamos a avançar com a requalificação e arranjos paisagísticos e de mobilidade do adro da igreja.

Quanto à igreja, antes de mais, é preciso legalizá-la, porque não está. A igreja tem uma caderneta, mas não está inscrita. Finalizado esse processo burocrático, estamos a pensar num projeto para a igreja matriz. A igreja precisa da requalificação do telhado, das paredes interiores e exteriores, a requalificação de retábulos, a fixação da policromia e a limpeza da mesma. Não tenho noção do investimento, estamos numa fase de levamento das carências.

 

O Papa é um revolucionário ou é a comunicação social que o torna assim?

Penso que o evangelho que o Papa anuncia, que ele encarna, é que é revolucionário. O Papa Francisco provoca e desafia as várias realidades das sociedades de hoje, seja ao nível da pobreza, do desporto, ou dentro da própria igreja, para que as pessoas também se aproximem e possam ter uma experiência feliz da vida.

 

Quais sãos os desafios que se impõem à religião Católica?

Penso que a igreja de massas nunca mais existirá. A igreja das multidões e das massas nunca mais existirá. Existirá pequenas comunidades que vivem a palavra de Deus com uma intensidade forte e intensa. E, portanto, dessa forma intensa da palavra de Deus estaremos sempre próximos do mundo porque vamos influenciando as pessoas e o meio ambiente onde estamos integrados. Não será uma influência tão grande como no passado, mas há sempre influência, porque na verdade também é o próprio Deus que influencia.

Joana Margarida Carvalho

 

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