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RAME tem novo Comandante: “Uma nova oportunidade está a aparecer com o Apoio Militar de Emergência”

7/01/2019 às 00:00

O Coronel de InfantariaMário Álvares, de 53 anos, tomou posse como Comandante do Regimento de Apoio Militar de Emergência (RAME), em Abrantes, a 20 de dezembro. É natural de Viana do Castelo, reside na Lourinhã, casado e pai de dois filhos.

Fomos conhecer o novo Comandante do RAME, que já manifestou abertura e disponibilidade para dar continuidade à cultura de abertura da instituição militar à comunidade local.

 

Tomou posse como Comandante do RAME a 20 de dezembro, quais as primeiras impressões da cidade, das gentes e da região?

As oportunidades para conhecer Abrantes e a região não têm sido muitas porque o assumir destas responsabilidades leva-me a desencadear uma série de processos, de reuniões, de apresentações formais também dentro da estrutura do Exército que me prendem muito do tempo que eu gostaria de ter para conhecer melhor a região. Contudo, no âmbito dessas apresentações formais, fiquei logo com uma impressão fantástica pela forma como fui recebido pelos militares e civis que servem aqui no Regimento. E o que me impressionou mais foi a humildade no trato das pessoas que eu senti aqui no Regimento e a disponibilidade permanente para me apoiarem, para perceberem as minhas ideias e os meus objetivos e sempre com uma dinâmica positiva.

E pensei que esta experiência seria apenas aqui no Regimento. Mas voltei a tê-la quando, no âmbito destas funções, me tive que apresentar ao poder autárquico, aos diretores dos Agrupamentos de Escolas... e fiquei com a mesma sensação e com a vontade genuína de fazer mais e continuar o esforço cooperativo. A iniciativa que todos me transmitiram, a vontade de dar continuidade ao que está feito e, se possível, fazer ainda mais em termos de conjunto de parcerias.

Senti essa vontade, quer de quem tem responsabilidades, quer até, nas poucas oportunidades que tive para me deslocar no interior de Abrantes, no local onde vou tomar um café. Mesmo não sabendo que eu sou o Comandante do RAME, é fantástica a maneira como sou atendido.

 

Não conhecia Abrantes?

Não, só de passagem. Embora tenha servido em Tomar, Abrantes só mesmo como ponto de passagem. Mas estou muito entusiasmado pela maneira como as pessoas olham os desafios... até os presidentes das Juntas. No último Juramento de Bandeira que fizemos aqui, tivemos cá todos os presidentes de Câmara. É uma coisa fantástica.

 

Construiu uma carreira dedicada em boa parte à docência e formação (elaborou diversos manuais escolares e artigos na área do armamento e da logística). Num regimento que forma tantos jovens, sente-se em casa?

Nessa área, sim. Aquando da minha nomeação, partilhei com o meu Comandante que a minha zona de conforto seria na área da formação e quando me falaram em vir para o RAME, disseram-me que eu iria ter essa possibilidade. E foi fantástico saber que, para além do Apoio Militar de Emergência, que é uma missão importantíssima e que está em crescendo e a consolidar – já começou com o trabalho fantástico do meu antecessor, o Coronel Reis, e ao qual eu irei procurar dar continuidade – mas fiquei entusiasmado ao saber que tinha a componente formativa.

Tem existido um esforço de adaptação da formação às novas realidades, a novas exigências, ao que nos é colocado por todos aqueles que querem abraçar esta carreira, em termos de voluntariado ou de contrato.

 

As coisas também mudaram no seio militar?

O mundo mudou, a sociedade mudou... Eu tenho filhos e noto que esta geração dos 16 aos 20 anos, é uma geração que possui uma informação que eu não tive, com acesso a condições de vida que eu não tive. Eu recordo-me de ter 10 anos e não haver televisão em casa, recordo-me que durante muitos anos, praticamente até entrar na Academia Militar, em 1985, de não ter acesso a televisão a cores e a internet então... já foi muito tarde. Portanto, esta é uma geração completamente diferente e nós temos que fazer uma adaptação para ir de encontro a essas dinâmicas em termos do emprego de novas tecnologias no apoio à formação (e o Exército tem feito um esforço fantástico nesse domínio). Também este Regimento tem feito um esforço notável para adaptar as infraestruturas, pois não nos podemos esquecer que estas infraestruturas são dos anos 60 e, se nessa altura elas eram excelentes, hoje precisam de remodelações para se adaptarem. E quando comparamos com o que é oferecido aqui nos agrupamentos de escolas... temos que nos ir adaptando e equiparar e também adaptar o modo como conduzimos a formação. Tendo sempre presente que a formação militar há-de sempre ser exigente, em termos de robustez física, disponibilidade para trabalhar em equipa... porque há coisas que não podem mudar. Mas penso que o Exército tem conduzido essa adaptação e compete-me a mim e a todos os que aqui trabalham, dar continuidade àquilo que são as tutelas, ao que está definido pelo escalão superior nesse domínio e tentar adaptar modelos de formação para ir ao encontro daquilo que são as expetativas de quem nos procura.

 

Recorrentemente, há cerimónias de Juramento de Bandeira no RAME. Na sua opinião, o que é que leva tantos jovens a procurarem formação aqui?

Há um centro de formação no Centro, outro no Norte e ainda outro no Sul. As entidades responsáveis pelo exercício de recrutamento e pela distribuição pelos diferentes centros de formação, tentam sempre, quando possível, a aproximação da área de residência. Tentam que esta mudança, de enfrentar este novo desafio, não seja depois agravada com fatores de deslocação que podem, por vezes, condicionar. Tentamos não ter uma grande taxa de atrição para mantê-los até ao final.

 

E o RAME também é recente...

Mas está muito bem localizado. Está no centro do país e tem excelentes acessibilidades, coisa que no passado não existia. Daqui, rapidamente nos colocamos em Lisboa, em Coimbra, no Porto... por exemplo, eu moro na Lourinhã e se vier a uma velocidade moderada, na ordem dos 100km/h, consigo estar aqui em hora e meia. Isso é muito bom.

 

O trabalho efetuado no RAME desperta curiosidade?

Já está a despertar mas penso que essa capacidade poderá ser mais aproveitada. O excelente trabalho que foi feito no passado, no âmbito do Apoio Militar de Emergência, sendo também um agente de Proteção Civil, a ligação com a ANPC, serviu para que se consolidassem energias e processos. Haverá uma tendência para, no decorrer deste ano, se aumentar o espaço de intervenção do Exército em diferentes valências, quer as que são orgânicas do Apoio Militar de Emergência, quer as de duplo uso, que são utilizadas pelos diferentes Regimentos e Unidades que temos espalhadas pelo país. Essa visibilidade, na minha opinião, poderá ser um fator agregador. De demonstrar aos jovens que há outras competências que eles podem desenvolver no seio da Instituição e que poderão ser úteis quando regressarem à vida civil.

 

Mesmo estando aqui ao lado e sempre de portas abertas, a comunidade muitas vezes não tem a perceção das operações em que o Regimento está envolvido. Como vê o trabalho efetuado pelo RAME e a sua importância para o país?

Tem havido um esforço de divulgação. Eu creio que poderá ter a ver com um certo receio da nossa parte pois, de uma maneira geral, somos discretos naquilo que fazemos. Não procuramos tirar proveitos nem dividendos promocionais daquilo que é a nossa atividade para promover a nossa existência. Sempre fomos assim. Mas isto não quer dizer que estejamos fechados atrás de um muro, até porque em Abrantes nem é o caso. Acho que estamos bem abertos à comunidade.

Mas esta é uma nova oportunidade a que está a aparecer com o Apoio Militar de Emergência, com a consolidação das suas competências, com capacidades que só nós é que conseguimos dar (…) e que apesar de ser uma estrutura muito reduzida, possui recursos humanos valiosos. Posso dizer que grande parte dos Oficiais que aqui servem, serviram no Afeganistão, no Iraque, na República Centro-Africana... em teatros de operações de alta exigência e de risco e habituados a trabalhar com recursos muito limitados. Se houver da nossa parte a estratégia e a inteligência para utilizar esses recursos humanos, quando dotados com recursos materiais para o desenvolvimento do Apoio Militar de Emergência, não tenho dúvidas de que iremos afirmar ainda mais aquilo que fazemos. Depois, será só uma estratégia comunicacional e de promoção da imagem.

 

Já passou por muitos sítios, já presenciou várias realidades. É hoje o mundo um lugar realmente perigoso, sr. Comandante?

Eu acho que sim, a todos os níveis. É um mundo muito exigente, com problemas de toda a ordem, com limitações de recursos energéticos e de subsistência e situações migratórias muito complexas. Recentemente, estive numa missão na União Europeia em que, fruto dessa missão, fui seguindo as diferentes missões em que estamos integrados e, por exemplo, em África, as catástrofes humanitárias em vários países são um flagelo. Isso tem impacto no que é hoje a Europa porque, na verdade, quem está no continente africano e no Médio Oriente, tenta fugir da guerra, da fome, do caos e procura canais para poder fugir desses países e encontrar estabilidade.

 

E a Europa ainda lhes aparece como um lugar seguro...

A Europa aparece como um lugar seguro, mas também tem os seus problemas. Olhando para a Europa, Portugal continua ainda a ser um paraíso.

 

Não resisto a perguntar-lhe... o sr. Comandante tem como hobby a pintura, tendo já participado em diversas exposições. Sei que gosta de pintar a natureza e o mar. Mar, aqui, não temos mas natureza não nos falta. Já se sentiu inspirado por aqui?

Sentir inspirado até senti... mas a pintura precisa de tempo. E é um tempo que eu não tenho. Até porque a minha criatividade, neste momento, esgota-se neste Regimento. Pintar é uma forma de me abstrair dos meus problemas, do mundo que me rodeia, de encontrar a minha zona de conforto e a minha tranquilidade... é na pintura que a encontro mas que também me exige alguma criatividade. E essa está a ser toda absorvida pelo RAME. Neste momento, não é a pintura que me preenche. Por incrível que pareça, o Regimento é o que me dá mais trabalho e, se calhar, vai trazer mais preocupações e exigência em termos da minha disponibilidade. Mas também é no Regimento que eu estou a encontrar novas formas de criatividade. E isto está tudo ligado. Para pintar tem que se ser criativo mas chego à conclusão que, para comandar, também temos que ter criatividade. Criatividade para encontrar nos problemas novos desafios, ir ao encontro de novas soluções, novas dinâmicas, o que não conseguimos fazer sozinhos, procurar caminhos para o sucesso com outras parcerias e outros colaboradores, encontrar nas dificuldades oportunidades para lançar novos projetos e novas iniciativas... e eu sinto-me tão preenchido com tudo aquilo que o Regimento me está a oferecer em termos da formação e do Apoio Militar de Emergência que, sinceramente, tenho os pincéis e os óleos lá parados em casa.

 

Também sei que o desporto de eleição é a prática de orientação pedestre. Também temos bons clubes aqui na zona...

Eu sei... Uma das primeiras reuniões que tive, sem ser das internas, foi com o COA (Clube de Orientação e Aventura) e já há aí umas ideias que oportunamente divulgaremos.

Patrícia Seixas

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