Mação abre as portas de mais uma Feira Mostra que aposta na divulgação das atividades económicas, gastronomia, animação e desporto do concelho. Cinco dias de festa em que a vila estará engalanada e pronta a receber os milhares de visitantes. O presidente da Câmara Municipal de Mação, Vasco Estrela, fala do evento, que espera ser mais um sucesso, mas aborda outras questões vitais para o Concelho. Os incêndios de 2017 ainda estão bem marcados na memória dos maçaenses.
Quais são as expetativas para a Feira Mostra deste ano?
As expetativas são boas, temos um bom programa e creio que estão reunidas as condições para que a Feira decorra na senda do que tem acontecido nos últimos anos, com uma afluência considerável. Temos tentado, e acho que vamos conseguir também este ano, ter uma grande diversidade de atividades e espetáculos musicais para chamar pessoas ao nosso concelho. Vamos ter uma colaboração intensa por parte das associações na dinamização de atividades recreativas, desportivas e culturais e, se o tempo ajudar, há condições para as pessoas virem a Mação passar uns dias agradáveis e dar um colorido diferente à nossa Feira.
O que é que se pode esperar de diferente em relação aos anos anteriores?
Dando um exemplo, vamos deixar de ter o Torneio Inter-freguesias de futsal pois sentimos que havia uma certa dificuldade em motivar as pessoas para essa atividade, nomeadamente os jogadores, pois estavam a jogar e não podiam estar na Feira. Este ano temos uma Color Run, coisa que não era habitual ter, vamos ter uma parede de escalada, um peddypaper… tudo atividades que as associações vão desenvolver. Para além disso, temos as habituais atividades como o torneio de sueca, de malha, o Trail, o passeio de motas antigas, o cicloturismo… Uma outra novidade, é a realização de uma prova de canoagem no rio Tejo, que já há uns anos que não acontecia.
Na animação musical, este é o cartaz desejado ou é o possível?
É sempre o possível. Nós até gostávamos de ter aqui nomes sonantes da música portuguesa e internacional mas não estamos nada receosos do cartaz que temos. Foi o cartaz escolhido dentro do que são os limites que estabelecemos em termos financeiros e acho que é um cartaz muito equilibrado e que tentará responder aos diversos públicos que vêm à Feira.
Qual é o orçamento desta Feira Mostra?
Mantem-se no nível de anos anteriores. São cerca de 100 mil euros entre os gastos com artistas, com a montagem da Feira e a ajuda e comparticipação às associações que desenvolvem atividades.
Mação dá sempre primazia na divulgação das associações do concelho. Há assim tanto dinamismo associativo e artesanato concelhio que dê para fazer uma Feira Mostra “caseira”?
Sim, a prova que há é que tem sido assim. É difícil que empresas de fora possam vir expor à Feira. Mas sendo a Feira Mostra do Concelho de Mação, é mais ou menos lógico que façamos um esforço no sentido de mostrar aquilo que o concelho de Mação tem de bom. Estamos a falar de cerca de 90 stands, fora os que estão no stand do Município, onde costumam estar a AmarMação, a Acripinhal, a AfloMação e a Melbandos. Temos ainda as associações que dinamizam os restaurantes, este ano vamos ter 7 espaços, e os espaços de bebidas concedidos aos estabelecimentos comerciais do concelho, que vão ser 6, e vão ser esses estabelecimentos que irão ser os responsáveis pela dinamização dos finais de noite, com os dj’s.
No verão passado, o concelho de Mação foi bastante afetado pelos incêndios. Passado um ano, ainda há situações por resolver?
Do ponto de vista das primeiras habitações, está praticamente tudo resolvido, faltando reconstruir cinco casas que a Fundação Calouste Gulbenkian irá assumir, mas as pessoas não estão na rua, têm a sua situação perfeitamente controlada. As habitações que a Caritas reconstruiu estão concluídas e já estão habitadas. No total, estamos a falar de 23 casas de primeira habitação que foram atingidas.
A Autarquia teve que se substituir em alguma situação?
A Autarquia deu o apoio que tinha de dar e está-se a substituir totalmente no que diz respeito ao apoio a alguns agricultores e cidadãos que tinham pequenos armazéns agrícolas. Ainda há pouco, a Câmara aprovou um apoio de 20 mil euros para colmatar essas situações. Quanto ao resto, em termos de apoios diretos à população, esses não existiram, conforme é sabido. Com exceção das pessoas que estavam coletadas como agricultores e que foram recebendo, ou têm perspetiva de receber, algum tipo de apoios.
Mação sempre se indignou com as medidas governamentais de ajudas pós-incêndios. Considera que foram prejudicados em todas elas?
Claramente. Com exceção da questão das primeiras habitações (…) através do Fundo REVITA, onde não temos nada a apontar. De resto, temos sempre sentido uma enorme discriminação, sobre todos os pontos de vista, e este ficará marcado como um período negro na história do concelho por aquilo que aconteceu em 2017 e acho que fica aqui uma mancha desta governação relativamente à forma como as coisas não devem ser feitas. Falo da discricionariedade que este Governo está a adotar, que se admite em parte como forma de tentar esconder o falhanço que o Estado teve na proteção das pessoas. Eu acho que isto já começa a parecer de quem age com a consciência pesada.
Já deu início ao processo contra o Estado Português?
As coisas estão a avançar de uma forma muito clara. Escrevi uma última carta ao senhor Primeiro-Ministro, com conhecimento à Comissão Europeia (que neste momento sabe o que o Governo se prepara para fazer), ao Parlamento Europeu e aos eurodeputados de todos os Grupos Parlamentares. A ação não deu ainda entrada direta mas penso que dará em breve. Infelizmente, a Câmara Municipal de Mação irá para os tribunais tentar resolver este assunto.
Como está o processo interposto ao ex-CONAC Rui Esteves?
Não foi interposto nenhum processo ao ex-CONAC. Foi feita uma queixa à Inspeção Geral da Administração Interna no sentido de serem apuradas eventuais responsabilidades e ser indicada a ação da Proteção Civil nos incêndios de 23 de julho. A Câmara Municipal de Mação arrolou uma série de testemunhas que, ao que julgo saber, já foram todas ou quase todas ouvidas, e aguardamos agora as conclusões que a Inspeção Geral vier a apurar. Sendo certo que esse senhor não trabalha nem desempenha nenhuma função em nenhum órgão da Proteção Civil… julgo saber que trabalha agora para a Comunidade Intermunicipal da Beira Baixa na área da Proteção Civil e é um cargo perfeitamente adequado às suas qualificações. Compreende-se perfeitamente que o senhor tenha essa função agora, pelos altos serviços prestados ao distrito de Castelo Branco. É perfeitamente normal esta função que ele agora desempenha. Contudo, o que eu posso garantir é que se se apurar, em sede de conclusões da Inspeção, que há ali alguma matéria que possa indiciar que houve algo que não foi bem feito, ou se virmos que há ali alguma espécie de ação que possamos vir a intentar ou contra a Proteção Civil, enquanto entidade, ou contra essa pessoa em concreto, a Câmara Municipal de Mação não deixará de o fazer.
A Autarquia já fez o levantamento dos terrenos florestais que não foram limpos pelos proprietários?
Não. Neste momento não temos um apuramento fino dessa matéria nem o vamos fazer. A GNR está no terreno e já fez chegar à Câmara uma série de situações para serem avaliadas. Após esse trabalho estar todo concluído, o que a Câmara vai fazer, e conforme sempre o dissemos, é ir ver as situações mais problemáticas e tentar fazer algum tipo de limpeza, sendo certo que é muito difícil que o consigamos vir a fazer tendo em conta as responsabilidades que temos nesta matéria e a limpeza que tem que ser feita e que, neste momento, ainda estamos a fazer. Vamos tentar identificar as situações mais prementes para podermos, eventualmente, agir.
De que modo é que se estão a preparar para o Verão de 2018?
Apesar do que nos aconteceu no verão passado, ainda temos, felizmente, cerca de 12 mil hectares de área verde. Isto é muito mais do que muitos concelhos do país e às vezes esquecemo-nos um bocadinho disto… Obviamente que as nossas atenções estarão centradas nessas áreas que em 2017 não arderam muito, nomeadamente na freguesia de Amêndoa, apesar de o incêndio que veio de Alvaiázere e Vila de Rei ter entrado por essa zona, e a zona de Cardigos, onde o grande incêndio de julho entrou por essa freguesia mas arderam mil hectares dos 9 mil que essa freguesia tem. Na zona de Mação ainda há cerca de 2 mil hectares de zona verde… temos esse risco e vamos ter uma atenção redobrada nesses locais. Sendo certo que se acontecer o que aconteceu em 2017, ou seja, fogos descontrolados vindos de outros concelhos, nomeadamente da zona norte… vai depender de muitos fatores. Já não quero fazer previsões. Tenho receio do que possa vir a acontecer e a mensagem que tenho que passar é que temos zonas perigosas e que não quero imaginar que possa acontecer outra tragédia, mas não estamos livres de isso acontecer. Foram sinalizadas pela Autoridade Nacional de Proteção Civil e pelo ICNF 39 localidades de risco muito elevado no nosso concelho, o que é um número ainda considerável, e vamos tentar trabalhar para evitar que aconteça aquilo que aconteceu em 2017.
Depois de um ano em que o cinzento e o preto fizeram parte da paisagem e da alma dos maçaenses, a alegria maior veio da equipa de futebol da ADM. De que forma é que os resultados desportivos contribuíram para aliviar um pouco o sofrimento da população do concelho?
Acho que contribuíram um bocadinho. Não havia nada que pudesse colmatar aquilo que foi este Verão de 2017, que de forma transversal atingiu todo o concelho. Obviamente que passado isso, viver estes momentos de alegria conforme vivemos, ou grande parte da população do concelho de Mação viveu com as conquistas da Associação Desportiva de Mação, foi importante pelo menos para a autoestima e para o ego da população do concelho. Acho que foi bom que o concelho pudesse ser falado de uma perspetiva positiva e isso foi conseguido. A Associação Desportiva de Mação está de parabéns, também pelo que ajudaram as pessoas do concelho a ultrapassar um bocadinho aquilo que aconteceu.
Por fim, a distinção do Instituto Terra e Memória com o Prémio Associação da APOM. Que significado teve para o Município?
Foi um dia importante. O prémio foi dado à Câmara Municipal de Mação e ao Instituto Terra e Memória, que é bom que tenhamos consciência que funciona muito por apoio da Câmara, e a própria Câmara foi distinguida enquanto instituição. É o reconhecimento do trabalho que a Câmara Municipal de Mação tem vindo a desenvolver nesta área há mais de 15 anos, muito fruto do empenho e da vontade do ex-presidente Saldanha Rocha e da aposta que fez nesta matéria, mas também, e principalmente, pela liderança que o professor Luiz Oosterbeek tem. A Câmara, ao longo destes anos, tem feito um investimento muito grande, em termos financeiros e não só, no Museu de Arte Pré-Histórica e do Sagrado no Vale do Tejo e também no Instituto Terra e Memória, em todo este projeto e que agora foi reconhecido pela APOM (Associação Portuguesa de Museologia). É óbvio que este prémio tem de ser, e deve ser, repartido por muitas pessoas, mas é bom também que entidades exteriores ao Município possam ter este reconhecimento para que as pessoas na nossa terra e no nosso concelho possam perceber que aquilo que nós fazemos é valorizado e avaliado por outros de forma positiva. Muitas vezes, as próprias pessoas do concelho não têm bem a perceção daquilo que nós fazemos e se vale ou não a pena fazer este tipo de investimentos. Portanto, foi positivo e acaba até por nos responsabilizar um bocadinho mais para o futuro.
Patrícia Seixas