Rui Ferreira, 54 anos, natural de Tancos, pesca no concelho de Vila Nova da Barquinha e pela região desde os seus 20 anos de idade.
Hoje é um dos pescadores que abastece os restaurantes barquinhenses no decorrer do Festival Gastronómico do sável e da lampreia.
“Comecei a ir para dentro do rio numa caixa de esferovite dos frigoríficos para apanhar peixe para comer. Era um gosto andar no rio e na água. Era um gosto pela pesca”, recorda o pescador.
Atualmente, é o filho e o seu cão que lhe fazem companhia e a atividade piscatória é conciliada com a vida profissional. Os proveitos financeiros surgem sobretudo nesta época, na época da lampreia, mas é a quantidade de peixe que determina o retorno. “Quando dá para se fazer algum dinheiro é nesta época da lampreia. Quando há lampreia, porque quando não há, dá para os gastos e para as reparações dos barcos”.
O frio é o mais complicado de gerir, pois é durante a noite que se tem de pescar. “Durante o dia o peixe fica nos fundões, à noite passa pelos barcos. Durante o dia o peixe fica “escondido”, mas à noite ele lá aparece”.
“A pesca da lampreia é feita à noite. Muitas vezes durante toda a noite. O sável é igual. Há sítios em que o sável não consegue passar porque o caudal é muito baixo e quando faz é de rabo a abanar, é muito engraçado de se ver. Quando está a desovar faz também um barulho muito curioso”, conta Rui.
É na zona do Pego de Almourol que Rui e os cerca de 8 pescadores da Barquinha fazem grande parte da pesca, pois segundo avança “as águas são muito límpidas”.
Rui Ferreira é um dos pescadores do concelho de VN da Barquinha/ Foto Pérsio Basso
E quanto a sustos? “Já aconteceu um por outro. Já apanhei um grande no tempo de cheias. Lembro-me quando comecei com a pesca fui para dentro de um barco de um senhor e fui pela corrente a baixo, mas lá consegui chegar aos salgueiros e lá consegui parar o barco. Não tenho medo do rio, respeito-o. Na verdade, o rio que conheci no passado, não é o rio que conheço hoje”.
A poluição é um problema que identifica, mas o baixo caudal é no seu entender um problema ainda maior. “Cheguei a beber agua do rio. Hoje não se pode fazer uma coisa destas devido à poluição. Se tivéssemos uma cheia limpava-se os rios. Porque não nos podemos esquecer que o problema não está só à superfície, os fundos dos rios estão muito poluídos porque não há renovação das águas”.
“Desde que pesco notei neste verão que a fataça não estava em condições. E nalguns restaurantes disseram-me que o peixe sabia mesmo a lodo, mas também é o único peixe que vai desovar ao mar, os outros vêm desovar ao rio. Mas só neste verão é que isto aconteceu. E continuo a fornecer peixe aos restaurantes do concelho durante todo o ano”, refere Rui.
O pescador admite que hoje o que se pesca é suficiente para abastecer o festival. Antigamente, chegava “a mandar o peixe ao rio. Hoje uma noite boa é trazer o barco cheio de lampreia (risos) mas 15 a 16 lampreias já é bom”.
Pelo 24.º ano consecutivo, o Município e os restaurantes do concelho estão a promover mais uma edição da mostra gastronómica “Mês do Sável e da Lampreia”, iniciativa que tem como principal objetivo promover a cozinha tradicional.
Iguarias como Açorda de Sável e Arroz de Lampreia, entre outras receitas tradicionais, estão a ser servidas à mesa dos 8 restaurantes aderentes - Almourol, Café Estrela, Chico, Ribeirinho, Soltejo, Stop, Tasquinha da Adélia e Trindade. Banhado por três rios - Tejo, Zêzere e Nabão.
Joana Margarida Carvalho