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2017: O ano em que Portugal venceu o Festival Eurovisão da Canção

18/12/2017 às 00:00

O ano de 2017 fica para a história como aquele em que Portugal venceu pela primeira vez o Festival Eurovisão da Canção, com uma música e um intérprete que não encaixavam nos parâmetros habituais dos vencedores daquele concurso.

A vitória na Eurovisão começa com o regresso do Festival da Canção – depois da ausência em 2016 - como uma “janela renovada” para compositores e intérpretes portugueses, como descreveu a RTP na apresentação da 51.ª edição.

A estação pública convidou 16 compositores, que desafiaram outros tantos intérpretes. Uma das compositoras foi Luísa Sobral, que escolheu o irmão Salvador, de 27 anos, para dar voz a “Amar pelos dois”, que venceu a final do concurso, a 03 de março, reunindo o maior número de votos do júri regional e ficando em segundo lugar na votação do público.

Nessa noite, Luísa destacou a “simplicidade e beleza” da canção e a interpretação do irmão. “A maneira como ele canta, a harmonia e a melodia transcendem a letra", disse na altura.

Ali, Salvador Sobral garantiu que em maio, em Kiev, na final do Festival Eurovisão da Canção, iria “passar sentimentos às pessoas”.

Mas nem toda a gente partilhou a mesma opinião, como desabafou o radialista Nuno Markl, um dos elementos do júri que escolheu “Amar pelos dois” para passar à final do festival, em abril nas redes sociais: “Quando o júri, unânime, atribuiu a pontuação máxima da primeira eliminatória ao Salvador Sobral e depois quando ele ganhou o festival, não faltaram os profetas do apocalipse, supostos peritos em Eurovisão, que - temperando a coisa com insultos variados - foram declarando que lá estava Portugal a mandar canções tristes para perder outra vez”.

A acompanhar o desabafo, partilhou um artigo do jornal espanhol El País, com declarações de Salvador Sobral. Escreveu o jornal que “ocorre um milagre num mundo tão estereotipado como o da música televisiva”, descrevendo o cantor como “um espírito original e livre, que se ama da primeira vez que se escuta”.

Ao artigo do El País juntaram-se outros e o interesse em “Amar pelos dois” e no seu intérprete foram crescendo, fora e dentro de Portugal, com a canção a firmar-se em segundo lugar nas preferências da Eurovisão, em várias casas de apostas, enquanto decorriam as eliminatórias, em Kiev.

A esperança cresceu quando, a 08 de maio, “Amar pelos dois” foi selecionada para a final. A última vez que Portugal tinha competido numa final da Eurovisão fora em 2010.

Nas vésperas da final, realizada a 13 de maio, Portugal era o país mais pesquisado no Google, dos 26 selecionados, e passou para primeiro lugar nas casas de apostas.

Havia quem vaticinasse que a melhor classificação de sempre até então – um sexto lugar em 1996 com “O meu coração não tem cor”, interpretada por Lúcia Moniz – seria ultrapassada.

E assim foi. No dia em que, de manhã, o papa Francisco esteve em Fátima a canonizar os pastorinhos Francisco e Jacinta, no centenário das “aparições”, e, à tarde, o Benfica se sagrou em Lisboa tetracampeão português de futebol, pela primeira vez na história, à noite, Salvador Sobral venceu em Kiev o Festival Eurovisão da Canção.

E deixou a sua marca, com um alerta em defesa dos refugiados e uma crítica ao "mundo de música descartável" em que vivemos.

As felicitações chegaram de todo o lado, do mundo da música, mas também da Política e do Desporto, e até da Comissão Europeia. No dia a seguir à vitória, Salvador e Luísa Sobral, visivelmente surpreendidos, foram recebidos no aeroporto de Lisboa por centenas de pessoas, como se de heróis nacionais se tratassem.

Salvador Sobral participou, ainda criança, no concurso de talentos "Bravo, Bravíssimo", na SIC, a estação de televisão onde voltaria aos 18 anos, para participar em "Ídolos". Isso deu-lhe autoridade para poder dizer “que estas coisas são muito efémeras, estes concursos, amanhã já ninguém se lembra”.

Em 2016 editou o álbum de estreia, "Excuse me", no qual cruzava referências de uma vida, do jazz de Chet Baker aos clássicos brasileiros de Dorival Caymmi.

Depois da vitória, lançou o projeto Alexander Search, em parceria com o pianista Júlio Resende, em torno da poesia de um dos heterónimos de Fernando Pessoa.

A vitória na Eurovisão levou a que as vendas de bilhetes para os concertos do músico disparassem. As datas marcadas esgotaram e foram sendo anunciadas outras, um pouco por todo o país. O destaque nos meios de comunicação social também foi intenso, nem sempre pelas melhores razões - muito se especulou sobre o seu estado de saúde.

Em setembro, Salvador Sobral anunciou uma pausa na carreira, por motivos de saúde e por tempo indeterminado. Este mês foi submetido a um transplante cardíaco, tendo uns dias depois o hospital divulgado que o músico se encontra bem a recuperar dentro do cenário esperado.

 

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