Os Anjos celebram 25 anos de carreira este ano com uma digressão que termina em dezembro em Lisboa, com um concerto com as bandas da PSP e GNR cujos lucros revertem na totalidade para o combate à violência doméstica.
A digressão “Anjos 2.5”, na qual irão recordar o passado, mas também apontar para o futuro, arranca em 20 de abril no Luxemburgo e passará depois por outros locais, até culminar em 28 de dezembro na Meo Arena, em Lisboa, com um espetáculo especial com as bandas sinfónicas da PSP e da GNR, num conjunto de mais de 150 músicos, e convidados, cujos nomes serão anunciados em breve.
Os irmãos Nelson, nascido em 1976, e Sérgio Rosado, em 1980, contaram à Lusa que decidiram celebrar os 25 anos de carreira enquanto Anjos com um lema: “só temos aquilo que verdadeiramente partilhamos com os outros”.
“Se temos possibilidade de partilhar uma voz, vamos partilhá-la. Não só através das nossas canções, com as mensagens que lá estão, mas também através destas ações”, referiu Nelson, em entrevista à Lusa.
Os lucros da bilheteira do último concerto da digressão irão reverter na totalidade para o projeto Pacto contra a Violência, uma rede de entidades públicas e privadas que se mobilizam no apoio ao trabalho das estruturas da Rede Nacional de Apoio às Vítimas de Violência Doméstica.
Embora nunca tenham lidado de perto com casos de violência doméstica, os músicos contaram que lhes chegam “relatos inacreditáveis, de situações que dá vontade de denunciar”, tendo-o feito “em algumas circunstâncias, mas têm de ser as vítimas depois a fazê-lo”.
Só no ano passado foram detidas 2.558 pessoas por crimes de violência doméstica, de acordo com dados provisórios divulgados pela PSP e a GNR no início deste mês.
Nelson alerta que “a conjuntura atual propicia a que estes casos sejam cada vez mais agudos e cada vez mais”.
“A situação económica não é favorável, passámos por uma pandemia durante dois anos e meio, o que foi muito duro para as pessoas. A questão da doença mental também podia ter sido abordada. Não foi por agora, mas sê-lo-á com certeza num futuro próximo”, disse.
Os Anjos deixam ainda outro alerta: “existe muita violência também na fase do namoro”, e nesta fase das relações “há muita coisa que ainda passa despercebida”.
Além disso, continuam, “quem é vítima tem medo de denunciar, tem vergonha de denunciar, porque tem medo de não ser apoiado, apoiada, porque não vai ser levada a sério, porque não vai dar em nada”, mas deixam o apelo: “denunciem, porque de facto existem plataformas” de ajuda.
Para identificarem uma entidade “que fizesse chegar a ajuda especificamente às vítimas”, os Anjos recorreram à Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG).
Um dos requisitos do grupo era que a ajuda pudesse chegar a vários pontos do país: “Fazemos concertos no país real, não só em Lisboa e Porto, temos um conhecimento do país real e sabemos da necessidade que estas entidades têm”.
As verbas que chegarem ao Pacto contra a Violência serão depois distribuídas pela sua rede nacional, que inclui 200 estruturas de atendimento, 36 casas de abrigo e 18 respostas de acolhimento de emergência.
Cada concerto da digressão de celebração dos 25 anos de carreira dos Anjos será “uma viagem no tempo”.
“Ir atrás no tempo e ir à frente no tempo. O ‘2.5’ [nome da digressão] é virado um pouco para o futuro também, muito para o futuro. Este é o nosso ‘mindset’, porque queremos realizar muitas coisas”, referiu Sérgio.
Os Anjos existem há 25 anos, mas a carreira dos irmãos Rosado na música começou antes, em 1988. Passaram por concursos de rádio e televisão e fizeram parte da ‘boysband’ Sétimo Céu, antes de adotarem o nome que usam desde 1999.
Responsáveis por temas como “Ficarei”, “Perdoa”, “Eu estou aqui”, “Nesta noite branca” ou “Quero voltar”, esta não é a primeira vez que dão voz a causas sociais.
No início dos anos 2000, o tema “Quando fores grande”, foi escolhido para a campanha de uma marca de relógios, em que parte dos lucros revertia para a construção de uma escola em Timor-Leste.
Os irmãos recordam o sucesso da campanha, através da qual se reconstruiu e equipou uma escola e ainda se construiu uma outra de raiz, que foi também equipada.
“Esse foi o grande projeto de responsabilidade social”, disse Sérgio, acrescentando que “a partir daí as pessoas já se habituaram a ver a imagem do grupo ligada a ações de solidariedade”.
Os bilhetes para o concerto de Lisboa já estão à venda.
Lusa