A cantora Fábia Rebordão edita na quinta-feira o seu novo álbum, "Eu Sou", um duplo CD que considera um "disco afirmativo", no qual é autora de nove canções das 24 que gravou.
Fábia Rebordão disse que o período de confinamento a levou a "escrever e a compor mais" e daí a edição do duplo álbum, disse à agência Lusa.
"O fado tradicional é importante para mim, é a raiz que me move", disse a intérprete referindo que, "apesar do ambiente eletrónico do álbum, há nele fado", tendo até escrito um "tema de resposta, no feminino", a um dos mais conhecidos fados do repertório fadista, "Fui de Viela em Viela", uma criação de Alfredo Marceneiro, na melodia do Fado Cravo.
Criação de Alfredo Marceneiro para umas sextilhas de Guilherme Pereira da Rosa, este fado foi gravado por cantores como Carlos do Carmo ou Fernando Maurício.
Fábia decidiu fazer a resposta a um fado que conta a história de uma mulher "que toda ela era fado", que o fadista encontra numa viela, ao qual lhe faz "o convite do costume", apesar de, no "seu rosto, ver apenas pranto".
"Eu decidi, mais de 50 anos depois desta criação, fazer a resposta de uma mulher", disse. Trata-se do tema "O Outro Lado da Viela".
Fábia interpreta o poema de sua autoria no Fado Cravo, do criador, com acompanhamento de guitarra portuguesa, baixo, bateria, eletrónica, tuba e flauta.
Esta opção para o Fado Cravo, foi tomada para outros fados tradicionais, numa vontade de "desconstrução" no sentido de afirmação de uma "identidade própria".
Para "Eu Sou", Fabia Rebordão foi acompanhada por, entre outros músicos, Bruno Chaveiro, na guitarra portuguesa, Eduardo Espinho, na viola e guitarra elétrica, José Ganchinho, no baixo, Ivo Martins, na bateria, Miguel Teixeira, no piano, José Ganchinho e Kapa de Freitas, na eletrónica, Kapa de Freitas, na guitarra elétrica e programação rítmica.
Fábia Rebordão recria fados dos repertórios de Amália Rodrigues, de quem é prima em terceiro grau, Maria do Rosário Bettencourt, Jorge Fernando e Ana Moura.
"As canções estão aí, e são muito bonitas, não tenho problemas em dar-lhes a minha própria interpretação, a minha identidade. Isto é muito natural noutros países, nomeadamente no Brasil", disse à Lusa.
De Amália, recriou "Povo que Lavas no Rio" (Pedro Homem de Mello/Fado Vitória, de Joaquim de Campos), "Barco Negro" (David Mourão-Ferreira/Caco Velho), "Vou Dar de Beber à Dor" (Alberto Janes) e "Estranha Forma de Vida" (Amália/Fado Bailado, de Alfredo Marceneiro ).
De Jorge Fernando, que foi viola de Amália, Fábia gravou, entre outros, "Rumo ao Sul" (Jorge Fernando/Carlos Viana), um fado de 1996, também gravado por Ana Moura e, desta fadista, "Não fui Eu" (Jorge Fernando). De Maria do Rosário Bettencourt, gravou "Lisboa Cidade" (Lima Brumond).
Sobre "Lisboa Cidade", Fábia considerou "ser um poema tão atual, mesmo que escrito há décadas", que se tornou "irresistível" incluí-lo no álbum.
Para a fadista, gravar este poema "só fazia sentido numa roupagem musical atual, desconstruí-lo e retomá-lo com sons de hoje".
Fábia afirmou à Lusa que recriar temas do repertório 'amaliano' "é uma homenagem a alguém único, inimitável, na música e na cultura portuguesas".
"A ideia [destas recriações] é dar outra voz, trazer estes temas para o nosso quotidiano", afirmou à Lusa.
Neste álbum, são muitos os autores contemporâneos gravados por Fábia Rebordão, entre os quais Carolina Deslandes, Agir, Pedro da Silva Martins, Tó Zé Brito, Rui Rocha, Pedro Campos, Luísa Sobral, Jorge Cruz e a própria Fábia, autora de nove canções, duas delas, letras para melodias tradicionais, o Fado Cravo e o Fado Pedro Rodrigues, e outro com música do ‘viola’ Miguel Ramos.
Outro autor destacado por Fábia, é Jorge Fernando que assume a direção e produção do álbum, com Kapa de Freitas e José Ganchinho.
"Jorge [Fernando] foi uma ajuda preciosa. É absolutamente essencial para mim e para toda esta geração fadista, pois é a ponte entre os grandes nomes de referência que conheceu [entre eles Amália, Maria da Fé ou Fernando Maurício] e a atual geração", disse a intérprete.
Além de "Rumo ao Sul", de Jorge Fernando, Fábia gravou "Não Fui Eu".
"Eu Sou" é um álbum que afirma a identidade da intérprete Fábia Rebordão, que optou por uma "linguagem musical atual sem melindrar ou esquecer as raízes do fado".
Lusa