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RÚBRICA: ESQUIZOFRENIA MUSICAL #5...por Pedro Moleiro | LEIA AQUI!

20/07/2019 às 00:00

Saudações esquizofrénicas!

Lá entrámos na silli season e, como já dizia a música, «os dias ficam maiores, as roupas ficam menores, o calor bate recordes e os corpos libertam seus suores». Proporcional ao calor tórrido veraneante, está o número infinito de arraiais populares e festivais.

Pessoalmente, piquei o ponto no magnífico concerto do Tim com a Mafalda Veiga, os Três Bairros e a Orquestra Ibérica, onde a boa música se aliou a um espaço icónico, nos arredores de Abrantes (Mourões – Rossio ao Sul do Tejo) e a um surpreendente fogo de artifício que deflagrava ao ritmo das canções, algo que é raro de vislumbrar por estas bandas. Contudo, nessa noite também queria abanar o esqueleto ao som do Moullinex, mas como ainda não possuo o poder de me multiplicar em dois espaços distintos, foi impossível deslocar-me, dos Mourões até à Praça Raimundo Soares, a tempo de puder executar a minha dança «de pisar uvas e apontar para o Senhor», ao som de temas «Things We Do», «Dream On» ou «Take My Pain Away». Ficará para uma próxima ocasião!

 

Mas, focando-me no cerne desta rubrica, o texto de hoje continuará a desbravar caminhos pelas brumas da memória musical de muito boa gente!

Tal como escrevi na última passagem, ia eu a conduzir tranquilamente, respeitando sempre todas as normas previstas no Código da Estrada, quando escutei, novamente, no meu auto-rádio, a voz possante do Nuno Reis a celebrar o 20.º aniversário de outro álbum icónico. Era o «Californication» dos Red Hot Chilli Peppers.

Apesar de ter escrito um chorrilho de lugares comuns e algumas vivências minhas ao som do «Play», o «Californication» é um álbum muito mais importante, não só para mim, mas para toda uma geração que cresceu ao ouvir os «Red Hot». Ainda hoje, não há festa com algum «DJ mete cá sets» da vida, ou com uma banda de covers, que não toque, pelo menos, uma destas três músicas: «Otherside», «Arround The World», «Californication» ou, a minha música preferida, (a par da «Under The Bridge») «Scar Tissue».

Haveria muito para falar sobre este mini-documentário que, para além da locução do Nuno Reis, contou com os textos de Bruno Martins e a sonoplastia do Gualter Santos. Mas, por limitação de texto e porque ainda tenho outras coisas para vos escrever, não irei alongar-me muito mais. Porém, não poderei saltar de tema sem vos contar que, entre muitos pontos debatidos ao longo do mesmo: superação às adversidades, a crítica à sociedade do imediatismo e superficialidade, bem como a celebração da vida, são as principais correntes que escorrem ao longo do álbum e, em especial, no tema «Scar Tissue» (Cicatriz, em português).

Sem querer, mais uma vez, mencionar o nome da rádio que transmitiu este mini--documentário, convido-vos a procurarem-no na Internet. Vão ver que não se arrependerão!

Agora, foquem-se no seguinte número: 35! 

No passado dia 13 de Junho, completaram-se 35 anos do falecimento de António Variações.

Outrora, noutro número desta biltre rubrica, escrevi que tinha passado a perceber a grandeza de Simone de Oliveira, mesmo não sendo seu fã.

Sobre o António Variações, o caso muda de figura!

Dono de um talento exótico e disruptivo, António Joaquim Rodrigues Ribeiro, era muito mais que um mero barbeiro que cantarolava umas coisas esquisitas nos longínquos anos 80. Era um tipo que via mais além, com uma forma de cantar única e - sendo o que mais aprecio nele – uma forma de escrever excepcional.

Passadas três décadas e meia da sua partida, não apareceu ninguém semelhante! Ninguém que conseguisse juntar Braga e Nova Iorque numa canção!

Hoje, vivemos num mundo frenético, onde a moda é cada vez mais efémera e, graças a alguns gurus de algibeira, se tenta rotular valores emergentes como «a nova Amália», «o novo Variações».

Essa colagem, para além de nefasta para os próprios artistas que estão a emergir no complicadíssimo panorama musical português, é uma autêntica desonestidade intelectual. Eu, que sou um mero bobo que vos mimoseia com estas parcas prosas, que nada percebo de música, que nunca trabalhei numa editora, revista de música, ou rádio, consigo perceber que «ovnis» como o Variações são únicos! É precisamente essa singularidade que faz com que, ainda hoje, haja cada vez mais jovens a (re)descobrir a sua obra e que, virtuosos artistas, como, a Lena d’Água, a Manuela Azevedo, o Camané ou o David Fonseca, vasculhem no seu vasto, mas desconhecido espólio, e interpretem-no com tanto prazer. Foi graças a eles e às múltiplas vezes que ouvia o tema «O Corpo É Que Paga», nos discos pedidos da Rádio Tágide que, anos mais tarde, tive a curiosidade de pegar num computador e pesquisar mais sobre a sua vida e obra. Descobri ainda, que os versos do tema «A Culpa É da Vontade» se encaixam, perfeitamente, em todas as minhas idiossincrasias.

Enfim… Eu sei que estou a ser repetitivo, mas génios destes, para além de únicos, não morrem, enquanto alguém se lembrar de escutar um tema seu.

 

Mas, anteriormente, tinha dito para não se esquecerem do número 35.

Ora, também se estão a completar 35 anos do lançamento do álbum «Purple Rain», do Prince.

Visto que, por bons motivos, me alonguei anteriormente sobre o Variações, irei dizer, apenas, que se trata do trabalho mais icónico do Prince e que, novamente, fui surpreendido, quando escutava esse mesmo posto emissor, e, subitamente, irrompe a voz de Ana Markl a narrar, irrepreensivelmente, todos os detalhes sobre o processo de escrita e edição de «Purple Rain». Convido-vos a pesquisarem sobre isto.

Por fim, gostaria de dizer que, a minha busca por memórias musicais, não foi em vão, pois são uma tentativa, algo rebuscada, de lançar-vos duas recomendações radiofónicas.

A primeira chama-se «Teoria da Evolução» e é um programa que podem ouvir, todas as Quintas-feiras, à meia noite, na Antena 1. Consiste numa autêntica máquina do tempo entre o passado, o presente e o futuro do rap tuga. Apresentado pelo grande José Mariño, o programa tem como pedra de toque, um espólio único de K7’s enviadas por rappers portugueses, durante os primeiros anos dos programas NRJ (Rádio Energia) e Repto (Antena 3), identificando as enormes diferenças entre o que se fazia (e como se fazia) nos anos 90 e o que se faz actualmente.

A segunda, como não poderia deixar de ser, consiste no tão aguardado regresso da Rádio Tágide.

E não é que o regresso foi em grande?

Apesar de, actualmente, ser uma rádio de clássicos, considero que está mais jovem!

A primeira emissão desta nova vida, teve direito a uma entrada apoteótica ao som de "Carmina Burana" de Carl Orf e uma entrevista à cantora Manuela Bravo.

Mesmo não tendo regressado às ondas hertzianas e ser um projecto bastante diferente da tramagalense Tágide, foi graças à pro-actividade de gente como o Paulo Delgado e o Carlos Aparício, que podemos ter o privilégio de voltar a escutar a Tágide, em qualquer parte do Mundo, através do seu sítio na Internet: http://www.radiotagide.pt/.

A toda a equipa que compõe este projecto, os meus votos de muito sucesso!

Até ao próximo texto! ????

 

 

PEDRO MOLEIRO

 

 

 

ESQUIZOFRENIA MUSICAL

 

Segundo a Sociedade Russa de Psicologia, a Esquizofrenia é uma doença mental endógena progressiva, caracterizada pela dissociação entre a realidade e o ilusório, caracterizando-se através de delírios, alucinações auditivas e perturbações formais do pensamento.

Neste momento, o prezado leitor deve se estar a questionar sobre o quão rebuscada é relação entre essa madrasta patologia e a música.

Vai ver que terá a sua aguardada resposta após ler as palavras que se seguirão.

 

Longe vão os tempos em que, bastante petiz, escutava religiosamente com a minha avó, os saudosos 96.7 FM Estéreo da Rádio Tágide. Aí, entre programas míticos como o «677 – Linha Livre» e os históricos anúncios aos «Móveis André» ou ao «Relógio Louis Lacroix», ouvia uma vasta panóplia de músicas que iam, desde do folclore ribatejano, aos marcos do eurodance como «Better Of Alone» de Alice DeeJay.

Por essa altura, o auto-rádio da minha mãe alternava entre o «Jogo da Mala» da pia e casta Rádio Renascença e o Programa da Manhã da vanguardista Rádio Comercial, aumentando assim o grau de transtorno musical que pairava na minha cabeça.

Ao entrar na puberdade, passei por aquela febre de ouvir, sistematicamente, a Cidade FM. A estação era bem mais ecléctica do que é hoje, tocando os grandes êxitos de Hip-Hop, R&B, Nu Metal e Música de Dança que batiam na altura.

De seguida, pouco antes de rumar a lides universitárias, voltei ao meu universo «rockeiro», influenciado pelos meus colegas e amigos de escola. Longas tardes, entre as primeiras cervejas e algumas travessuras, estivemos a ouvir e debater sobre as grandes bandas que entraram para os anais da música. Éramos um bando de putos parvos e borbulhentos, desfasados do mainstream que vigorava na altura.

Foi por essa altura que me tornei um fan boy da Antena 3, numa fase em que ainda era «a rádio da primeira vez» e onde conheci os meus gurus da música e comunicação, entre os quais, Fernando Alvim e Ana Galvão. Com eles aprendi que se pode falar de assuntos sérios, de música ou de algumas trivialidades, sem usarem um tom sério e carrancudo, nem caírem no discurso bacoco infantilizar o auditório com expressões do género «Como é que é, meu puto!?» ou de encherem chouriços com estudos absurdos sacados à pressão em sites de cariz duvidoso.

Por fim, todas estas condicionantes patológicas aprimoraram-se quando fui estudar para uma «Nova Lisboa» multicultural, onde em 4 anos, passou de uma capital semi-deserta, para um dos principais centros turísticos da Europa, onde convivi com gente com muito mais mundo, de várias latitudes e com outras perspectivas de vida…

 

Com tudo isto, ainda não está convencido da minha patologia?

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