Ana Gomes, 65 anos, política portuguesa, antiga diplomata e eurodeputada desde 2004 eleita pelo Partido Socialista esteve na iniciativa “Conferências do Liceu”, que aconteceu no dia 10 de maio na Escola Superior Dr Manuel Fernandes, em Abrantes.
A iniciativa foi organizada por alunas do 12º ano da disciplina de Ciência Política e contou com alunos, professores e cidadãos que assistiram a um debate sobre o futuro da União Europeia, dando também destaque às próximas eleições para o Parlamento Europeu, que vão acontecer a 26 de maio.
A eurodeputada, que no mesmo dia tinha já estado presente no Agrupamento de Escolas Verde Horizonte, em Mação, abordou a importância da existência da União Europeia, os seus sucessos e problemas, bem como a importância do papel dos jovens para o futuro da Europa.
“A EUROPA SOMOS TODOS NÓS (…) E TUDO DEPENDE DELA”
Ana Gomes considera que, entre as várias ações cívicas que permitem aos cidadãos fazer parte da Europa e colaborar para a sua construção, o voto constitui uma forma imprescindível de “determinar que Europa é esta. A Europa somos nós todos e ou nós votamos – se bem que a ação cívica não se esgota no voto – ou, se nos desinteressarmos, depois não nos queixemos que quer a Europa quer as instâncias de governação que dependem dela depois não sirvam os cidadãos”.
A eurodeputada eleita em 2004 pelo Partido Socialista, defende que “tudo depende da Europa” e falou, na iniciativa, da necessidade de determinar “se queremos determinadas políticas e ideologias a destruir a Europa ou a trabalhar para levar os objetivos e princípios avante”.
Com a União Europeia, diz, “passámos de guerrear para negociar”, e defende que, apesar das diferenças existentes a todos os níveis, “somos todos humanos e podemos trabalhar em conjunto e resolver os conflitos de forma pacífica”, dizendo ser preferível “pagar para uma Europa que é uma burocracia e que vai resolvendo os problemas do que pagar para fazer armas para as pessoas se matarem umas às outras”.
A AMEAÇA À UNIÃO EUROPEIA E A MANUTENÇÃO DA PAZ
A eurodeputada, que trabalha temas diversos, desde direitos humanos, liberdade cívica, segurança, defesa e justiça social, considera que hoje em dia vivemos “ num mundo de grande desordem internacional, que resulta das políticas erradas” e que “está a dar argumentos às forças que a querem destruir”.
Ana Gomes admite, sem rodeios, que “não podemos ter ilusões” e que muitas das medidas que foram aplicadas nas últimas décadas “são políticas profundamente antieuropeias, e é por isso que crescem os populistas, que semeiam o ódio, a xenofobia, o racismo, que pregam contra os refugiados, os migrantes, para criar mais medo nas pessoas que já estão cheias de insegurança e querem semear a destruição da paz, da democracia, não só a nível europeu mas internacional”.
Atribui às políticas neoliberais a responsabilidade pelas desigualdades no espaço europeu, uma vez que promovem a competitividade ao invés de “valorizar o fator trabalho”.
No entanto, reconhece a evolução de um projeto que pensa ser “o melhor projeto de civilização e de democracia, que tem capacidade regeneradora” e que “garantiu a paz na Europa estes anos todos”.
“PRECISAMOS DE EURODEPUTADOS QUE SEJAM EUROCRÍTICOS, NÃO EUROBEATOS”
A eurodeputada defende que “os deputados portugueses podem ser só vinte e um mas não se medem aos palmos” e diz que os cidadãos precisam de ser exigentes: “Nós precisamos de eurodeputados que sejam eurocríticos, não de deputados que sejam eurobeatos”.
“O nível nacional já não chega para determinados desafios, e ou nós atuamos a nível europeu ou não atuamos (…) e não tenho dúvida nenhuma que hoje o Parlamento Europeu tem, em muitos aspetos, muito mais poder do que o âmbito nacional, e tem meios para ir aos locais e se inteirar dos problemas”, acrescenta.
Realça ainda a importância da União Europeia no desenvolvimento de Portugal, dando o exemplo de escolas, piscinas municipais e teatros que foram construídos com ajuda da União Europeia e salienta que “85% do investimento no nosso país nas últimas décadas se fez à conta de fundos europeus”.
A URGÊNCIA DO VOTO JOVEM
Dia 26 de maio realizam-se as eleições para o Parlamento Europeu. A iniciativa “Conferências do Liceu” teve também como objetivo informar e sensibilizar os jovens para a urgência e importância do voto dos jovens.
“Estamos a ver o descontentamento dos cidadãos, em particular dos jovens, que estão a ver que se calhar têm menos oportunidades do que tiveram os seus pais ou os seus avós, sobretudo quando o emprego escasseia”, admite Ana Gomes, que reconhece a existência de um descontentamento entre a população mais jovem.
Contudo, defende que esse descontentamento tem de ser canalizado para “exigir aos poderes públicos e aos governos que tomem as medidas acertadas e para garantir que quem é eleito para posições de poder toma as medidas certas e que correspondem aos valores da União Europeia”.
Por isso, deixa o alerta: “Mais do que ninguém, os jovens têm que ir votar, porque se não votarem estão a hipotecar o vosso futuro”.
A VOZ DOS JOVENS
Quisemos então ouvir o principal público-alvo desta conferência sobre o futuro da Europa: os jovens.
Carla Cavalheiro, aluna da disciplina de Ciência Política do 12º ano de escolaridade, da Escola Secundária Dr. Manuel Fernandes.
Este ano, não vai poder votar nas eleições europeias porque ainda não tem idade. Contudo, isso não a impede de ter uma opinião e algo a dizer sobre a importância e o futuro da União Europeia.
“Apesar de eu não votar, uma coisa que já há muito tempo tenho em mente é que nós somos o futuro e somos membros da sociedade e somos nós que vamos ficar com ela para o futuro, então temos que começar a expressar à sociedade de agora o que é que nós queremos para o futuro e é votando nas pessoas que achamos que realmente nos representam que nós vamos conseguir criar essa sociedade para o futuro”.
A criação dessa sociedade não passa apenas pelo seu país. Para Carla, criar uma sociedade que expresse aquilo que os jovens querem no futuro passa também pela União Europeia.
“As europeias são tão importantes como as legislativas, porque tudo o que acontece na União Europeia afeta Portugal e cada vez mais o que é decidido a nível internacional tem muito mais impacto do que aquilo que é decidido a nível português, então faz todo o sentido que os jovens votem nas europeias".
Texto: Ana Rita Cristóvão
Imagens: Carolina Ferreira