Um grupo de militantes do Bloco de Esquerda do distrito de Santarém recorreu à Comissão de Direitos do partido para que declare inválida a escolha da cabeça-de-lista às legislativas pela Mesa Nacional e devolva a decisão à Assembleia Distrital.
No documento, a que a Lusa teve acesso, subscrito por 13 militantes, estes reclamam que seja assegurado “o direito da Assembleia Distrital de Santarém a apresentar uma nova proposta de cabeça-de-lista, candidatas e candidatos pelo seu Círculo às eleições legislativas, que posteriormente será remetida à Mesa Nacional, tal como estatutariamente previsto”.
Em causa está o facto de a Mesa Nacional ter escolhido a lista encabeçada por Fabíola Cardoso e Roberto Barata que havia perdido na votação feita pela Assembleia Distrital de Santarém de 29 de junho, que deu clara maioria à lista liderada pelo atual deputado bloquista Carlos Matias e pelo coordenador distrital Luís Gomes (68,1% contra 31,1%).
A votação da designada “lista alternativa” pela nacional no passado dia 06 foi considerada uma “ingerência” e um “desrespeito pelos estatutos” por parte da distrital de Santarém, que se insurgiu igualmente contra o facto de a Comissão Política Nacional ter enviado Pedro Filipe Soares à reunião da distrital.
“A decisão da Mesa Nacional não pode ser considerada mais do que nula, desvinculada que está, na nossa opinião, do cumprimento dos estatutos. A Mesa Nacional compactua com o esquecimento dos mais basilares princípios de representação democrática e respeito pelos Estatutos do BE e pela Lei”, afirma a petição enviada hoje à Comissão de Direitos.
Os 13 subscritores pedem que sejam revogadas as decisões anteriores e que seja requerida “nova proposta de cabeças de lista, candidatas e/ou candidatos à respetiva Assembleia Distrital (vulgo, cidadãs e cidadãos ativos do Bloco de Esquerda, devidamente escrutinados pela população filiada), para nova decisão da Mesa Nacional”.
O processo de escolha de candidatos por Santarem levou já à apresentação, na passada quinta-feira, do pedido de desfiliação do partido por parte de Romão Ramos, membro fundador do BE.
Na carta endereçada aos órgãos nacionais, Romão Ramos afirma que “a imposição de uma cabeça de lista às legislativas pelo círculo de Santarém contra a maioria da vontade dos militantes do distrito fez transbordar o copo”.
Romão Ramos acusa as “duas correntes” que passaram a “dominar o aparelho partidário” (a UDP, agora organizada como Tendência Esquerda Alternativa, e o PSR, como Rede Anticapitalista) de usarem os recursos do partido “a seu belo prazer” para “condicionarem a totalidade do partido às suas estratégias internas, remetendo para segundo plano a genética identitária do Bloco”.
“O mais recente caso, da Mesa Nacional impor uma candidatura no Distrito de Santarém às próximas legislativas, à rebelia de uma decisão maioritária dos militantes do distrito (cerca de 70%) é a situação mais flagrante de um partido num delírio febril de aparelhismo, centralismo democrático, sectarismo e ortodoxia completamente desligado das bases”, afirma.
Carlos Matias divulgou entretanto um balanço da sua atividade parlamentar ao longo dos últimos quatro anos, dando conta da realização de 80 intervenções em plenário, apresentação de 595 perguntas e requerimentos ao Governo e participação na apresentação de 19 propostas de projetos de lei e de 67 propostas de projetos de resolução sobre numerosas questões relacionadas com o distrito ou como coordenador do BE na Comissão Parlamentar de Agricultura, Florestas, Desenvolvimento Rural e Mar.