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Abrantes: Parede da Igreja separa apoio ao Cónego José da Graça e saudação ao Padre António Castanheira

20/10/2019 às 00:00

Cá fora, à porta da Igreja de S. Vicente estava um grupo de cidadãos que aderiram à vigília de apoio ao Cónego José da Graça que, desde este domingo, formalmente, foi “substituído” pelo Padre António Castanheira, embora como administrador da paróquia de S. João e S. Vicente.

Vamos por partes. Após as 17 horas, no adro da Igreja de S. Vicente, onde às 18:00 estava agendada a eucaristia de apresentação do Padre António Castanheira à comunidade, começavam a concentrar-se cidadãos. A maior parte não iria para a missa, mas sim para dizerem que estão ao lado do MOSAR-CJG, o Movimento de apoio ao Cónego que até esta semana tinha gerido as paróquias e S. João e S. Vicente, assim como o Centro Social Interparoquial, instituição que tem um conjunto de instituições sociais e que emprega largas dezenas de pessoas, para além de apoiar centenas de utentes.

Antes de começar a celebração eucarística, cruzaram-se no adro da igreja aqueles que iam diretos ao seu interior e os que ficavam no exterior. Quem não era de Abrantes e veio à apresentação do Padre Castanheira, olhava para a concentração de pessoas que ali estava.

Domingos Chambel, porta-voz do MOSAR-CJG dirigiu-se a todos os presentes e leu o último comunicado que colocaram na rua no final da semana.

Aos jornalistas, voltou a vincar que o movimento que representa não está contra o Padre Castanheira, apenas queriam que o Cónego José da Graça não tivesse sido empurrado como foi pelo Bispo. Com o discurso focado na intransigência do Bispo, D. Antonino Dias, Domingos Chambel afirmou que a proposta do movimento feita em Portalegre foi a de juntar os dois padres nas paróquias e, depois, o Cónego José da Graça iria sair e deixar o Padre Castanheira à frente da estrutura religiosa.

Domingos Chambel revelou ainda que não pode haver uma mudança brusca numa estrutura “empresarial” como nas obras sociais da paróquia. “Tinha de haver uma transição pacífica”, revelou o empresário que deixou novamente no ar a ideia que, de acordo com os pareceres de Direito Canónico que têm, o Bispo terá cometido uma ilegalidade ao nomear o administrador mesmo com um novo recurso em trânsito. Adiantou que o Cónego José da Graça vai avançar com este novo recurso.

O que aconteceu esta semana

O Bispo D. Antonino Dias terá tido uma reunião em Abrantes e uma conversa com o Cónego José da Graça. Conversa que não terá corrido bem, pelo que na segunda-feira, dia 15, o Bispo emitiu um Decreto ao abrigo da Lei Canónica em que nomeia um Administrador Paroquial “Sede Plena”. Quer dizer que este administrador, o Padre António Castanheira, anteriormente nomeado como pároco de S. João e S. Vicente, passou a ter plenos poderes legais sobre as paróquias e sobre o Centro Social. Ou seja, sobre toda a estrutura da Igreja nas duas paróquias.

O Cónego José da Graça não aceitou e, com apoio dos elementos do movimento de apoio, avançou com o recurso para impedir esta nomeação. Aliás,  o Cónego José da Graça ainda chegou a celebrar algumas missas, mas acabaria por ter, ao que sabemos, uma comunicação mais imperativa do Bispo, fazendo com que este domingo acontecesse mesmo a apresentação do Padre António Castanheira.

Segundo Domingos Chambel, do MOSAR-CJG, o recurso vai mesmo avançar porque os assessores em direito canónico, em Portugal e em Roma, deram essa leitura ao movimento. Assim, o movimento convocou a vigília para este domingo.

O MOSAR-CJG reafirmou que defendia uma solução pacífica e de bom senso para esta situação.

O Padre António Castanheira apresentou-se com igreja cheia e 20 padres ao seu lado

Enquanto na rua os apoiantes do Cónego José da Graça estavam a juntar-se, os padres da zona iam chegando. Uns entraram pela porta lateral, outros pela principal. Uns olhavam para o grupo, outros iam diretos à igreja.

Lá dentro, estava cheia. Muita gente de fora de Abrantes que, ao que percebemos, quiseram dar as boas-vindas ao novo administrador das paróquias, que é como quem diz ao novo Padre.

Padres e diáconos fizeram a entrada na celebração com um cortejo fechado pelo Vigário-geral da Diocese, Monsenhor Paulo Henriques Dias e pelo Padre António Martins Castanheira. Nesta celebração conduzida na totalidade pelo Vigário-geral, percebia-se a curiosidade das gentes de Abrantes em ver o novo Padre, indiferentes ao que se passava na rua e que não teve qualquer interferência na celebração. Quando muito, levou a que estivessem menos pessoas na cerimónia.

O Vigário-geral apresentou o Padre António Castanheira e deixou uma mensagem de apreço ao trabalho que o Cónego José da Graça fez ao longo de mais de 30 anos de serviço na paróquia.

Quase no final da celebração, o Padre António Castanheira deixou uma saudação aos paroquianos a quem agradeceu a presença referindo, mais do que uma vez, que está a cumprir os desígnios que lhe foram pedidos naquele que é o trabalho de um sacerdote.

Informou que o seu número de telemóvel e o email estavam disponíveis para todos os paroquianos, indicou os horários das missas, em s. João, S. Vicente, Chainça, Barreiras do Tejo e Senhora da Luz e convocou o conselho económico, pastoral e as catequistas para reuniões de trabalho. Deixou a mensagem de querer inteirar-se e conhecer, rapidamente, as novas realidades que aqui vai encontrar. “Um bem-haja, é uma expressão beirã, de onde venho. Mas espero rapidamente aprender as vossas, as ribatejanas”. O administrador paroquial deixou ainda um pedido a todos quantos têm cerimónias, ou outros assuntos agendados, que o contatem porque, pelos indícios, não lhe foi deixada a agenda da paróquia. Por exemplo, as datas e pormenores de celebrações de casamentos ou batizados.

Quando terminou a celebração eucarística, o Vigário-geral, Monsenhor Paulo Henriques Dias não se escudou e revelou que a situação que se vive em Abrantes está em recurso na Congregação do Clero, em Roma, e que cumpriu o decreto do Bispo ao vir a Abrantes apresentar o Padre António Castanheira.

“A leitura é pastoral, é essa a leitura do nosso Bispo. É assegurar o serviço pastoral das comunidades”, explicou o Vigário-geral, reconhecendo “o trabalho e a estima que todos temos”. Quanto à vigília, espera que as pessoas entendam esta viragem na pastoral desta paróquia e mostrou ter a noção de que este movimento não “ajuda muito a transição ou neste serenar para que a pastoral aconteça. Mas esperamos que as pessoas entendam esta mudança”.

O Padre António Castanheira disse em exclusivo à Antena Livre que “sentiu o calor humano de muita gente que quer bem à igreja, aos padres todos.” Garantiu ter sempre a dúvida sobre como iria ser a receção, face aos acontecimentos, e mostrou-se surpreendido com a quantidade de sacerdotes que se quiseram associar a esta eucaristia, que, se calhar noutras circunstâncias, não estaria.

O Padre António Martins Castanheira vai agora conhecer faces e vozes. É esse o grande trabalho e desafio do meu trabalho. “Até a minha voz vai ser nova, tal como tudo aqui que tenho para conhecer e para aprender”.

No final, todos os padres presentes cumprimentaram o novo administrador paroquial de S. João e S. Vicente, porque o título de Pároco continuará a ser do Cónego José da Graça, que fica sem qualquer função pastoral ou legal, até que haja provimento do recurso que está a correr na Congregação do Clero, no Vaticano, e pode demorar meses até ser resolvido.

 

 

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