A mensagem da ministra Ana Abrunhosa a dizer “desassosseguem-se” apanhou a plateia da abertura da Ascensão’23, na Chamusca de surpresa. Mas não foi nenhum deslize da governante que aos jornalistas confirmou esta necessidade de desassossego a propósito dos problemas com as acessibilidades da vila ribatejana.
Mas comecemos pelo início. Ana Abrunhosa chegou à Chamusca e o primeiro que teve foi logo o descerramento de uma placa que marca o projeto de regeneração urbana e de mobilidade sustentável em toda a zona envolvente ao Mercado Municipal da Vila.
Antes da passagem pelo também renovado mercado municipal, Ana Abrunhosa foi abordada por Augusto Figueiredo, Coordenador da Comissão de Utentes de Serviços Públicos do Distrito de Santarém (CUSPDS), tendo recebido um memorando com o resumo das exigências.
Neste memorando da Comissão está a exigência de construção de uma nova ponte sobre o Tejo, na Chamusca, e a conclusão das obras do IC 3, entre Almeirim e Vila Nova da Barquinha.
Augusto Figueiredo explicou à Antena Livre que a Comissão tem em curso uma recolha de assinaturas numa petição para levar o assunto a discussão na Assembleia da República. “Com 7.500 assinaturas o assunto tem de, obrigatoriamente, ir a debate no parlamento”, referiu Augusto Figueiredo que, mesmo assim, espera que a ministra possa exercer a sua influência junto dos responsáveis pelas infraestruturas.
Augusto Figueiredo, Comissão Utentes Distrito de Santarém
Já no discurso de inauguração da Ascensão’23 Ana Abrunhosa não esqueceu o problema da Chamusca. “Temos de resolver um problema que a Chamusca tem. Vou daqui sensibilizada. Não está nas minhas mãos, mas não vou esquecer este assunto. Esta ligação entre Almeirim e A13 na Barquinha era sempre sinalizada. E ainda não há projeto. Que se comece a fazer o projeto, porque sem projeto não há possibilidades de ir buscar fundos de apoio. Já temos Ecoparque, mas não resolvemos essa situação. Peço-vos que não esqueçam esta situação. Aqui só será possível com o vosso desassossego. Isto é um projeto que não tem cor política no território”, sublinhou a titular da pasta da Coesão que, mesmo não sendo da sua área afirmou ir falar com o colega das infraestruturas e até mesmo com o primeiro-ministro.
A ministra disse que é preciso não esquecer o problema e é preciso exigir o projeto para depois se poder avançar para a obra. Ana Abrunhosa ouviu as “queixas” da Comissão de Utentes do Distrito, ouviu os lamentos do presidente da Assembleia Municipal e revelou que antes de entrar no governo, quando há 7 anos ainda era presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro já ouvia as lamentações de autarcas e populações acerca dos acessos à Chamusca.
E como ainda nada aconteceu a titular da pasta da Coesão disse que “levar o assunto a quem de direito”, mas deixou claro que a “região” em causa, ou seja, o território da Chamusca, não pode parar de “pedir” estas obras.
Ana Abrunhosa, ministra da Coesão Territorial
Já o presidente da Câmara, Paulo Queimado, também não esqueceu estes problemas das acessibilidades. Aliás, é repetitivo, porque todos os anos é um dos assuntos levados pelo autarca à abertura da Semana da Ascensão, principalmente quando tem governantes ao seu lado.
Paulo Queimado referiu que “é importante a coesão da comunidade com o território. Mas muitas vezes sentimo-nos como uma ilha”, a propósito das dificuldades nos acessos.
“A A13, ou a sua ausência, e os constrangimentos na ponte da Chamusca são um problema. A Chamusca não tem uma autoestrada a passar no seu parque industrial nem a tem a 5 minutos da sede concelho.”
Paulo Queimado confidenciou que este é um problema, dos grandes, quando se trata de atrair investimentos privados para o concelho. É que hoje, no mundo empresarial, o que conta é a distância medida em tempo e não tanto em quilómetros. E depois acrescentou que “quando me perguntam quando é que os projetos estão prontos e eu respondo que não sei.”
Aos jornalistas o presidente da Câmara da Chamusca disse que nada melhor do que “ter aqui a ministra da Coesão, porque quando queremos ser competitivos, quando queremos trazer qualidade de vida não tem só a ver com a ponte, tem a ver com Vila Nova da Barquinha e com a A13, anteriormente conhecido com IC3”.
O autarca vincou ainda que quando se fala só da ponte da Chamusca “é minimizar este projeto da A13. Quem está em Lisboa a analisar aquilo que são exigências de vários municípios (Chamusca, Constância ou Abrantes) que precisam de melhores acessibilidades, nomeadamente em travessias sobre o Tejo, e metesse aquilo em cima do mapa apontava para o meio.” Este é um processo ainda do tempo do ministro Pedro Nuno Santos, antecessor de João Galamba nas Infraestruturas, que após ouvir as comunidades intermunicipais e os autarcas, “penso que a coisa não bem explicada e apontou para ao mapa e para por uma ponte a meio.”
Paulo Queimado, presidente CM Chamusca
Recorde-se que numa audição do ministro das Infraestruturas sobre política geral do ministério, na Comissão de Economia, Obras Públicas, Planeamento e Habitação, João Galamba foi questionado pelos deputados do PS e PSD eleitos por Santarém e assegurou a construção de “mais uma travessia no Tejo na zona de Constância”, solução que, notou, não será a ótima.
A sessão aconteceu a 22 de março e o ministro respondeu aos deputados a revelar que “a versão ótima não será possível, mas [esta é] uma versão que permite responder aos problemas identificados.”
Galeria de Imagens