O diretor do Serviço de Cardiologia do Centro Hospitalar do Médio Tejo (CHMT), destituído do cargo por “incapacidade” em assegurar um nível satisfatório nas escalas, considerou hoje “inédito” o motivo apresentado para a sua demissão pelo conselho de administração (CA).
“O inédito disto é destituírem-me porque supostamente não consigo recrutar médicos, prestadores externos, para realizarem urgência na Unidade de Urgência Médico-Cirúrgica de Abrantes”, disse à Lusa o clínico David Durão, tendo recusado o argumento utilizado e lembrando que a sua nomeação, em 2021, “resultou de um concurso público e de um projeto de gestão avalizado” pela administração do CHMT.
“Como deve calcular, como diretor de serviço, não sou, nem posso ser, o recrutador único de médicos para o serviço” de Cardiologia, afirmou o clínico, que já exercia a função de diretor interino desde dezembro de 2020 e que foi nomeado diretor do Serviço de Cardiologia em 2021 para um período de três anos no CHMT, entidade que agrega os hospitais de Abrantes, Tomar e Torres Novas, todos no distrito de Santarém.
O médico disse rejeitar o argumento da deliberação do CA do CHMT, que, segundo afirmou, indica que a sua destituição "se deve ao facto de não conseguir recrutar médicos”.
David Durão sublinhou que este “é um problema nacional que está a suceder em várias especialidades e serviços” do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
“Nunca vi nenhum diretor de serviço ser destituído porque, infelizmente, não consegue completar a escala por falta de elementos médicos”, notou.
O conselho de administração do CHMT anunciou hoje a destituição do diretor do Serviço de Cardiologia, apresentando como motivo principal a sua “incapacidade” em assegurar um nível satisfatório nas escalas.
Em comunicado, o conselho de administração do CHMT, presidido por Casimiro Ramos, refere que a decisão de destituição “é sustentada pela incapacidade de o diretor de serviço demitido adotar medidas para garantir um nível satisfatório nas escalas de Cardiologia de apoio à Urgência Médico-Cirúrgica de Abrantes”, que serve toda a população da região do Médio Tejo.
“Não obstante as condições de atratividade que foram criadas por este conselho de administração, nomeadamente ao nível de avultados investimentos em equipamentos e meios de diagnóstico, o Dr. David Durão também não conseguiu tomar medidas para evitar a saída de profissionais para outras instituições”, é acrescentado no comunicado.
Na nota, a administração indica ainda que David Durão “evidenciou um total desalinhamento com os objetivos da instituição, designadamente a necessidade de atender às especificidades regionais” de um centro hospitalar com as características do CHMT, e que, atendendo aos “evidentes graves problemas de gestão do serviço”, o conselho de administração “não teve outra solução que não a destituição do diretor do Serviço de Cardiologia”, argumentos que o clínico contesta.
“Fui colocado como diretor de serviço através de um concurso público e que abrangeu a realização de um projeto de gestão para o serviço [de Cardiologia] e que foi avalizado por este CA, ou seja, tudo o que está lá, todas as minhas ideias de visão de gestão, e que levaram à minha nomeação, estavam lá elencadas”, afirmou, tendo reiterado como “inédito” ser destituído do cargo, um ano depois de ser nomeado, por não conseguir contratar médicos.
Na nota, o conselho de administração adianta que David Durão “mantém-se em funções, nos quadros do CHMT”, já que a destituição “apenas tem implicações ao nível do seu cargo de diretor do Serviço””.
No comunicado, a administração indica também que a decisão de destituir David Durão do cargo de diretor do Serviço de Cardiologia foi tomada por maioria.
Constituído pelas unidades hospitalares de Abrantes, Tomar e Torres Novas, separadas geograficamente entre si por cerca de 30 quilómetros, o CHMT funciona em regime de complementaridade de valências, abrangendo uma população na ordem dos 266 mil habitantes de 11 concelhos do Médio Tejo, a par da Golegã, da Lezíria do Tejo, também do distrito de Santarém, Vila de Rei, de Castelo Branco, e ainda dos municípios de Gavião e Ponte de Sor, ambos de Portalegre.
Lusa