A colheita do milho iniciou-se este ano mais cedo, beneficiando dos fatores climatéricos, tendo os produtores “muita expectativa” quanto à produção desta campanha, disse à Lusa fonte do setor.
“Temos um ano bastante favorável para a cultura do milho de regadio devido a vários fatores climáticos”, como uma primavera pouco chuvosa que permitiu fazer as mobilizações e as sementeiras, iniciando as culturas mais cedo do que é habitual, afirmou João Coimbra.
O produtor e gestor da Quinta da Cholda, na Azinhaga, no concelho da Golegã (Santarém), participa hoje numa iniciativa da Associação Nacional dos Produtores de Milho e Sorgo (ANPROMIS), que assinala o início da colheita do milho na sua exploração.
Com uma área de milho de regadio no país semelhante à que foi semeada em 2022, da ordem dos 67.000 hectares, segundo o Boletim Mensal Agrícola de Agosto de 2023, do Instituto Nacional de Estatística, a produção deste ano perspetiva-se positiva, adiantou.
Segundo João Coimbra, o facto de os meses de março e abril terem sido “extremamente quentes” permitiu iniciar a campanha mais cedo, levando a que a cultura se tenha desenvolvido “muito depressa”.
“Estamos com muita expectativa. As culturas apresentam boa sanidade. Foi um ano em que não houve assim problemas muito graves. Temos boas esperanças em que a cultura vá ser produtiva e tem esta vantagem de se poder fazer as colheitas antes de começarem as primeiras chuvas e os primeiros ventos, que é um dos problemas quando o milho é colhido já muito tarde, em outubro, novembro”, realçou.
O facto de a colheita ir decorrer com os terrenos secos tem igualmente vantagem na preparação da cultura do ano que vem, adiantou.
“Temos boas perspetivas, bons sinais no princípio da campanha e isso leva-nos a ter esperança que seja um ano bastante bom”, declarou.
Contudo, afirmou, o preço que vigora atualmente nos mercados é “bastante mais baixo” do que o praticado em 2022, ano em que, devido às crises derivadas da guerra na Ucrânia e do pós pandemia, “os preços atingiram valores que nunca antes tinham acontecido”.
Com este ajuste em baixa, adiantou, “os preços não são interessantes em termos do agricultor”, sobretudo num ano marcado pela inflação, com impacto nos custos de produção.
“Portanto, as margens para os agricultores este ano vão ser muito menores. Vamos ter um ano muito menos interessante do que podíamos estar à espera, porque não sabíamos se os preços iriam baixar muito rapidamente ou mais lentamente, e o que se passou foi uma descida abrupta dos preços do ano passado para este, que vão deixar os agricultores numa situação um pouco desconfortável”, restando a esperança de que a produtividade “possa ajudar”, afirmou.
Tendo os agricultores portugueses que ajustar o seu preço ao do milho de importação, num mercado em que o preço é feito internacionalmente, para serem competitivos têm de conseguir “produzir com os mais baixos custos possíveis”, acrescentou.
A Quinta da Cholda, propriedade da família desde 1923, assume-se como uma produção modelo, recorrendo ao uso da tecnologia para baixar os custos de produção e aumentar a produtividade.
“Só assim podemos ir competindo neste mercado aberto, muitas vezes violento, em que é difícil as pessoas fazerem previsões para poderem investir”, disse.
Para João Coimbra, Portugal “não se pode dar ao luxo de não produzir estas culturas de primeira necessidade” e correr o risco de ficar “à mercê dos fornecedores internacionais”.
O agricultor lamenta que o país esteja “muito longe” de cumprir a Estratégia Nacional para a Promoção da Produção de Cereais, aprovada em julho de 2018, a qual propunha um conjunto de medidas para Portugal atingir um grau de auto aprovisionamento em cereais de 38%, correspondendo 80% ao arroz, 50% ao milho e 20% aos cereais praganosos.
“O que estamos a tentar fazer ver às nossas entidades públicas é que a situação é bastante grave. Estamos com áreas reduzidíssimas em termos de cereais e isso eu acho que a população, o país, não devia aceitar esta fragilidade no nosso abastecimento”, frisou.
No seu entender, são precisas políticas que incentivem ao crescimento destas culturas, nomeadamente em termos da disponibilidade de água e de infraestruturas, permitindo aos agricultores que pretendem crescer “oportunidade de terem um rendimento digno para poderem ser competitivos”.
João Coimbra considerou “um risco” que a própria Europa esteja a “deixar de produzir”, a “prescindir da sua autonomia”, lembrando o que se passou com o gás proveniente da Rússia.
“A Europa não pode prescindir de ter a sua reserva estratégica de alimentos de primeira necessidade e isso é o que estamos a assistir”, lamentou.
Lusa