Os enfermeiros do serviço de urgência do hospital de Abrantes estiveram esta manhã numa vigília à porta do hospital por melhores condições laborais.
Os profissionais de saúde alertam para a falta de enfermeiros e auxiliares no serviço de urgência, em mais de 70 horas mensais e afirmam estar cansados “física e psicologicamente”.
À porta do hospital, as enfermeiras Paula Matos e Maria João Gonçalves explicaram que foram pedidas cerca de 80 transferências do serviço de urgência devido ao mau estar sentido por parte dos profissionais. “Estamos a fazer uma vigília. Em grupo e em equipa pedimos transferência do serviço porque estamos descontentes com as condições de trabalho que temos no momento, que põem em causa a segurança dos doentes”, referiu Paula Matos.
“É um cansaço físico e psicológico e o que está em causa é a segurança dos doentes e a nossa. Somos poucos profissionais para a quantidade de solicitações”, acrescentou a enfermeira paula Matos.
Já Maria João Gonçalves salientou que o Conselho de Administração (CA) do Centro Hospitalar do Médio Tejo (CHMT) tem pedido aos enfermeiros para que aguardem e que esta “é uma situação passageira e transitória”. No entanto, “a situação já nos afeta há cinco anos”, disse Maria João Gonçalves.
“Houve um período em que houve um aumento de enfermeiros e auxiliares. Contudo, atualmente temos muito absentismo, muitas gravidezes e temos muitos enfermeiros e auxiliares em baixa porque estão de facto cansados física e psicologicamente e não conseguem dar mais resposta”, salientou a enfermeira.
Ao mesmo tempo que decorria a vigília à porta do hospital, elementos do SEP (Sindicato dos Enfermeiros Portugueses) reuniram com a Enfermeira Diretora, Ana Paula Eusébio.
Sobre as conclusões desta reunião, Marco Pinto, enfermeiro, referiu que ficaram definidos alguns “compromissos” entre os enfermeiros e a diretora, nomeadamente “a aprovação da extensão da urgência para obra” e a “contratação de novos elementos, mas isso parte do Ministério”, alertou Marco Pinto, tendo referido que há muita pressão nesse sentido.
O enfermeiro disse que já estão agendadas “duas reuniões com outros departamentos do serviço de internamento” para que haja um apoio aos profissionais do serviço de urgência.
“Ficámos também a aguardar a implementação do projeto de visitação domiciliária”, afirmou Marco Pinto tendo acrescentado que os enfermeiros aguardam a elaboração “de uma escala de evacuações para doentes para transferir os doentes mais críticos, não desfalcando a urgência”.
“Ficámos com o compromisso de balizar os doentes internados não urgentes, ou seja, quando chegarmos a um ponto em que não dá mais teremos de transferi-los para os devidos serviços. E estes foram compromissos definidos e agora aguardarmos”, reforçou o responsável.
Questionado sobre a existência de prazos definidos pelo CA do CHMT, Marco Pinto disse que não tinham sido avançados prazos, mas que as “diligências” estavam “cada vez mais fortes” e caso não houvessem soluções num espaço de um mês que irão partir para outras formas de luta.
Quanto aos 82 pedidos de transferência de serviço por parte dos enfermeiros e auxiliares, o enfermeiro referiu que os pedidos foram “uma forma de luta”.
“Os enfermeiros querem continuar. Mas este pedido de mudança de serviço surge como uma reivindicação por melhores condições. Nós gostamos daquilo que fazemos, mas não nestas condições. Se transferirem os 80 e tal enfermeiros e auxiliares vão ficar com um serviço onde não há pessoas formadas no serviço de urgência o que vai interferir no trabalho para com a população”, alertou Marco Pinto.
Segundo se pode ler no documento, da reunião "saíram compromissos que envolvem ambas as partes, a Direção de Enfermagem e os enfermeiros e assistentes operacionais do Serviço de Urgência Médico-cirúrgica", tendo destacado que, "a curto e médio prazo, serão estabelecidas estratégias conjuntas que minimizem os constrangimentos, sobretudo nos picos de fluxo de utentes às urgências, com a garantia de que será sempre salvaguardada a prestação dos cuidados de saúde às populações" do Centro Hospitalar do Médio Tejo.
Sobre o espaço físico no Serviço de Urgências, a administração do CHMT lembra que "está em curso o processo de requalificação das instalações do Serviço de Urgências, o que permitirá melhores condições físicas para a realização do trabalho (...) requalificação do espaço físico que irá ser acompanhada com a adequação dos recursos humanos adaptados a esta nova realidade".
A Direção de Enfermagem do Centro Hospitalar do Médio Tejo afirma, ainda, que "estão pedidos os recursos necessários e que as contratações de mais enfermeiros e assistentes operacionais estão a decorrer dentro do que são os tramites normais destes processos", sublinhando que "irá analisar cada caso dos pedidos de mobilidade".
Os enfermeiros do CHMT já escreveram aos autarcas do Médio Tejo, nomeadamente à presidente de Câmara de Abrantes (CMA), de Tomar e ao de Torres Novas.
Em declarações à Antena Livre, Maria do Céu Albuquerque, presidente da CMA, disse estar a acompanhar de perto o assunto, mas lembrou que o Município não tem competência sobre a matéria.
“De facto, recebemos uma carta enviada em conjunto pelos enfermeiros do CHMT, do serviço de urgência. Reuni com eles e já tive oportunidade de falar à senhora Secretária de Estado sobre este assunto e ontem mesmo tive uma reunião na Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa e Vale do Tejo, com o seu presidente e demais vogais, sobre diversos assuntos e onde chamei a atenção para isto”, disse a presidente.
“Eu sei que é uma matéria que está a ser acompanhada pelo Ministério da Saúde, através da ARS. Sei que o CHMT através da sua administração também está atento a esta questão que tem a ver com um elevado grau de absentismo e que está a causar constrangimentos ao serviço de enfermagem”, finalizou a autarca abrantina.
Constituído pelas unidades hospitalares de Abrantes, Tomar e Torres Novas, separadas geograficamente entre si por cerca de 30 quilómetros, o CHMT funciona em regime de complementaridade de valências, abrangendo uma população de cerca de 260 mil habitantes de 11 concelhos do Médio Tejo, no distrito de Santarém, Vila de Rei, de Castelo Branco, e ainda dos municípios de Gavião e Ponte de Sor, ambos de Portalegre.
C/Lusa