O cancro da mama é o cancro mais frequente na mulher e todos os anos, em Portugal, são diagnosticados cerca de 8000 casos. A maioria dos diagnósticos ocorre em mulheres na menopausa, mas, cada vez mais, mulheres mais novas, ainda pré-menopausicas, são também diagnosticadas com esta doença.
Nalguns casos a mulher pode palpar um nódulo na mama o que a leva a procurar observação médica; outras vezes, é um exame de rastreio (mamografia) que sugere o diagnóstico.
Numa situação ou noutra, o diagnóstico é feito através da realização de uma biópsia mamária. A biópsia consiste na retirada de uma pequena porção de tecido mamário, que é observada ao microscópio por um médico especialista em anatomia patológica, e que identifica células de carcinoma. Para além da identificação de células de carcinoma, o anátomo-patologista estuda outras características do tumor que são importantes para avaliar o prognóstico (ou seja, o modo como a doença vai evoluir) e decidir a terapêutica correta em cada situação clínica. Algumas destas características são: o grau de diferenciação das células tumorais (ou seja, quão diferentes das células de mama normais são as células do cancro), o ki67 que reflete a velocidade a que as células tumorais se multiplicam (proliferam; quanto maior esta velocidade maior a agressividade do tumor), a expressão de receptores hormonais de estrogénio e progesterona (RH) e a expressão do receptor do fator de crescimento epidérmico tipo 2 (HER2). De acordo com o grau de diferenciação, o ki67 e a presença ou ausência destes receptores nas células tumorais, existem quatro subtipos diferentes de cancro da mama, com prognósticos diferentes e abordagens individualizadas. Assim, podemos ter tumores com expressão elevada de RH, baixo índice proliferativo (de agressividade) (Ki67) e ausência de expressão de HER2; tumores com menor expressão de RH, elevado índice proliferativo Ki67 e ausência de expressão de HER2; tumores com presença de HER2; e finalmente tumores com ausência de expressão de ambos os recetores hormonais e do HER2, frequentemente denominados como tumores triplos negativos. Como já referido anteriormente, estes quatro subtipos de tumor têm tratamento e evolução diferentes, nomeadamente, tumores com expressão de RH são tratados com hormonoterapia, tumores com expressão HER2 são tratados com fármacos dirigidos ao HER2 e tumores triplos negativos são habitualmente tratados com quimioterapia.
Depois do diagnóstico e caracterização, o passo seguinte é avaliar o estadio da doença o que quer dizer, perceber, através da realização de análises e exames radiológicos (TAC, ecografia, cintigrafia óssea ou PET) se a doença está localizada à mama ou se já se estendeu a gânglios linfáticos, nomeadamente na região da axila, ou a outros órgãos distantes da mama. Nos casos em que a doença está apenas localizada na mama e/ ou em gânglios linfáticos axilares a probabilidade de cura é elevada e o tratamento consiste, habitualmente, em cirurgia (com excisão do tumor) e avaliação ganglionar da axila, para confirmação da existência ou não de células tumorais nesta localização. A cirurgia pode ou não ser complementada por tratamentos de radioterapia e dos tratamentos já mencionados de hormonoterapia, quimioterapia ou tratamentos anti HER2, de acordo com as características da doença.
Numa minoria de casos, o cancro da mama pode ocorrer porque existe uma alteração genética hereditária. Esta alteração deve ser estudada porque, se existir, condiciona a estratégia terapêutica.
O diagnóstico precoce de um cancro da mama é fundamental para aumentar a probabilidade de cura pelo que é importante que a mulher adira ao Programa Nacional de Rastreio e realize a mamografia preconizada. Para além disso é ainda importante estar atenta a modificações da mama tais como aparecimento de nódulos, alterações da pele subjacente ou corrimento mamilar e procurar observação médica em casos em que as mesmas ocorram.
Finalmente para além de altamente curável, cada cancro da mama tem características específicas que determinam tratamentos que podem ser diferentes de caso para caso.
Se lhe for diagnosticado cancro da mama, pergunte ao seu médico qual é o seu subtipo e procure saber mais acerca da abordagem mais adequada para si. Afinal, ‘’se somos todos diferentes, porque é que o nosso cancro há-de ser igual?’’.
No dia 19 de outubro, entre as 10h00 e as 17h30, em Lisboa, será promovido o “Dia C: falamos sobre Cancro de mama em Comunidade”. A entrada é gratuita, mas sujeita a inscrição. Faça parte do Encontro para mais Conhecimento, Cuidado e Capacitação!
Dra. Mónica Nave
Especialista em Oncologia