A Federação Nacional dos Médicos (FNAM) e o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) convocaram a 13 de Outubro uma greve para os dias 23, 24 e 25 de novembro por considerarem “insustentável” a situação do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
“A situação a que chegou o SNS e o nível a que estão a ser sujeitos em termos de condições de trabalho dos médicos são insustentáveis, sendo que as propostas em relação ao Orçamento do Estado para os médicos e SNS são de tal modo insuficientes que mal merecem a nossa consideração”, disse aos jornalistas o presidente da FNAM, Noel Carrilho, no final de uma reunião dos dois sindicatos em Coimbra.
Segundo o secretário-geral do SIM, Roque da Cunha, a greve tem como objetivo fundamental “exigir o financiamento do SNS e passar das palavras aos atos, já que é evidente um pouco por todo o país que os médicos, apesar de todos os esforços feitos, não conseguem aguentar mais”.
Salientando que os médicos “deram oito milhões de horas extraordinárias” ao SNS, Roque da Cunha diz que está nas mãos do Governo evitar a greve, que poderá ser desconvocada se houver “investimento no SNS”.
“A bem do SNS, este é o momento, depois da vacinação e do controlo da pandemia, de dizermos basta neste grito de alerta”, sublinhou o dirigente sindical.
Noel Carrinho salientou que os problemas já estão identificados desde o período pré-pandemia de covid-19 e que as soluções apresentadas já têm anos, como "a necessidade de adequar as condições de trabalho dos médicos àquilo que é a sua responsabilidade e desgaste da profissão”.
“Portanto, é essencial que se crie uma negociação série do acordo coletivo de trabalho dos médicos, que o traga para o século XXI e para aquilo que é a exigência atual da medicina”, frisou.
Para Roque da Cunha, o Governo deve "fazer aquilo que a lei prevê, que é chamar os sindicatos, que já assinaram 36 acordos em conjunto com as mais diversas entidades, para que o SNS não se afunde”.
“Se nada for feito em termos de investimento no SNS para fixar os médicos, para criar condições para as pessoas se sentirem confortáveis, para que existam meios e equipamentos e locais aprazíveis nos centros de saúde para as populações, é perfeitamente impossível estarmos numa situação destas”, considerou o secretário-geral do SIM.
O dirigente sindical criticou o Governo por gastar 150 milhões de euros por ano em empresas de prestações de serviços e permitir que haja oito milhões de horas extraordinárias feitas pelos médicos “muito mal pagas e muito contrariadas, mas a bem dos utentes".
“Não sendo feito nada, este SNS deixa de ter médicos, pessoas qualificadas, e, portanto, se não dermos este grito de alerta a situação irá piorar muito, com certeza”, vaticinou.
O secretário-geral do SIM lamentou ainda que desde que a atual ministra da Saúde, Marta Temido, tomou posse os sindicatos médicos não tenham sido recebidos, apesar dos seus pedidos de audiência, "o que estranhamos, porque se quebrou uma tradição e uma prática”.
O presidente da FNAM, Noel Carrilho, considerou que se as estruturas sindicais tivessem sido chamadas para discutir os problemas seriam evitadas “propostas que se conhecem do OE2022, que como aquela dos médicos serem remunerados de forma extraordinária depois de fazerem 500 horas extraordinárias no serviço de urgência”.
“Não podemos levar a sério quem faz este tipo de propostas e há que denunciar ao povo português, que pensa que alguma coisa está a ser feita, e também ao Parlamento que tem a possibilidade de decidir sobre estas medidas, que são perfeitamente absurdas”, sustentou.
Lusa